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Após tsunami, centenas de espécies cruzaram o oceano presas a resíduos

28/09/2017 20h27

Miami, 28 Set 2017 (AFP) - Centenas de espécies de animais marinhos cruzaram o Oceano Pacífico agarradas a resíduos arrastados pelo tsunami que devastou o Japão em 2011, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira na revista americana Science.

Um total de 289 espécies foram descobertas nos Estados Unidos nestas balsas improvisadas procedentes do Japão entre 2012 e 2017, segundo os cientistas.

"Isto se tornou um dos maiores e mais imprevistos experimentos naturais da biologia marinha, talvez de toda a história", explicou John Chapman, da Universidade do Estado de Oregon.

Entre esses viajantes oportunistas há mexilhões, vermes, crustáceos e lesmas-marinhas. Cerca de dois terços dessas espécies nunca tinham sido identificados na costa oeste dos Estados Unidos.

"Eu não sabia que a maioria desses organismos do litoral podia sobreviver no mar durante longos períodos", indicou Greg Ruiz, biólogo marinho do centro de pesquisa ambiental Smithsonian.

"Mas de certa formas eles também não tinham tido muitas oportunidades no passado. Agora o plástico pode se combinar com um tsunami e com eventos de tempestade para criar essa oportunidade em grande escala", acrescentou.

O tsunami no Japão ocorreu em 11 de março de 2011, após um terremoto de 9 graus de magnitude na escala Richter.

Os resíduos do tsunami - incluindo pedaços de boias, caixotes, embarcações e docas - com organismos vivos anexados começaram a chegar às costas do Havaí e do oeste da América do Norte em 2012.

Embora tenham diminuído, ainda ocorrem algumas chegadas, e os cientistas disseram que ainda estavam identificando novas espécies quando o período do estudo terminou, em 2017.

A maioria dos resíduos que sobreviveram à travessia do Pacífico eram feitos de plásticos e outros materiais resistentes, como a fibra de vidro.

Tais migrações em massa de pequenas criaturas dos oceanos podem se tornar ainda mais comuns no futuro, dizem os especialistas.

Um estudo de 2015 publicado na Science alertou que mais de 10 milhões de toneladas de resíduos de plástico entram no oceano a cada ano, e esse número pode aumentar 10 vezes até 2025.

"Existe um enorme potencial para a quantidade de detritos marinhos nos oceanos aumentar significativamente", disse o autor principal, James Carlton, especialista em espécies invasivas do Programa de Estudos Marítimos da Williams College e Mystic Seaport, em Connecticut.

"Esta é uma outra dimensão e consequência dos plásticos e materiais feitos pelo homem que merecem atenção".

Nenhuma das novas espécies que chegaram à costa oeste do Estados Unido parece ter se implantado até agora, e não está claro se os recém-chegados poderiam ter algum impacto nas espécies nativas.