Febre imobiliária e esquecimento: dois lados pós-terremoto no México
México, 23 Out 2017 (AFP) - Mais de 8.000 casas e edifícios ficaram destruídos ou reduzidos a pó depois do terremoto que sacudiu a Cidade do México em 19 de setembro, deixando ricos e pobres sem lar: os primeiros, presos em uma bolha imobiliária, e os segundos, vítimas do esquecimento do governo.
O sismo de magnitude 7,1 dividiu as desgraças igualmente entre bairros endinheirados e precários da capital, mas as marcas em uns e outros são distintas.
"Minha casa foi desabando para dentro, as paredes têm rachaduras diagonais", descreve Gerardo Álvarez, que junto com sua esposa grávida teve que se refugiar com amigos.
"Você acha que nunca vai te atingir", diz esse jornalista de 31 anos, ao reconhecer que é incômodo pedir abrigo nas casas de outras pessoas.
O lar de Álvarez ficava na central Zona Rosa que, como as vizinhas Condesa e Roma, faz parte da área nobre mais devastada pelo terremoto.
Sua busca por um novo apartamento se complicou por "uma bolha interessante" do mercado imobiliário, que disparou os preços dos aluguéis e vendas nesta área, embora muitas de suas paisagens "hispter" tenham se tornado apocalípticas.
- "Deslocamento das buscas" -"Os preços estão impagáveis", concorda Paola Navarrete, uma consultora de 31 anos que teve que abandonar seu prédio em Condesa, de onde só conseguiu pegar três mudas de roupa e documentos essenciais.
Agora espera que os preços diminuam na área, pois alguns moradores preferiram ir para outras zonas depois do terremoto que deixou 369 mortos no México, 228 deles na capital.
"Temos a esperança de que diminuam um pouco os preços na colônia porque muita gente está indo embora", acrescentou ao explicar que os aluguéis mensais não estão por menos de 30.000 pesos (cerca de 1.600 dólares).
Não há números oficiais de quantos ficaram sem casa. A maioria recorreu a familiares e amigos para se abrigar e apenas 600 pessoas, das mais de 20 milhões da capital, dormem em abrigos.
Pelo menos 8.405 construções ficaram danificadas após o sismo, de acordo com o governo da capital, e a busca por moradias também se complica fora das zonas centrais.
"Houve um deslocamento das buscas (para outras zonas) que pode se justificar pelos danos nos edifícios e também talvez pelo interesse dos consumidores de estar em zonas mais seguras", disse à AFP Karim Goudiaby, dona do site de buscas Vivanuncios.
Muitas empresas também querem se realocar. Segundo cifras do Coldwell Banker México, citadas pelo jornal El Financiero, a demanda dos escritórios com as últimas normas contra terremotos aumentou entre 30% e 40% frente o mesmo período do ano passado.
- "Casa de capim" -Distantes do luxo e do frenesi imobiliários, inúmeras casas humildes ficaram em ruínas ou a ponto de desabar em Xochimilco, uma zona semi-rural do extremo sul da capital, catalogada pela Unesco como patrimônio da humanidade por seus canais hídricos.
A tragédia uniu os vizinhos, que em suas ruas sem pavimentação instalaram mesas para comer juntos e espalharam cruzes com flores em homenagem aos seus mortos. Também se revezam em turnos de vigilância para evitar que ladrões roubem suas frágeis casas.
Mas a solidariedade não resolve todas as questões.
"Continuamos sem água e a luz dificilmente volta", diz Hortensia Fernández, uma mulher de 50 anos, no terreno onde ficava sua casa.
Após esvaziar o lugar dos escombros, apenas restam uma macieira, algumas cadeiras quebradas, uma escrivaninha e algumas caixas com pertences que tenta proteger da chuva com um plástico.
"Todos aqui estamos à espera de quando virão para reconstruir as casas, quando vão começar, ainda que seja uma casa de capim", diz, argumentando que o governo não dá atenção para esta zona por ser de "casinhas e não de grandes edifícios".
Em frente fica a casa da família López. Os muros rachados estão prestes a cair, as janelas estão quebradas e as plantas do pátio enterradas sob os escombros.
"As autoridades disseram que vão ter que demolir, mas eles não vêm, já nos esqueceram", assegura Lorena López, entristecida por tudo o que perdeu: "minha cozinha, meu aquecedor, minhas coisas, meu liquidificador".
Esta mulher, junto com os seis integrantes de sua família, teve que se mudar com sua cunhada, para algumas ruas abaixo, cuja casa também ficou com fissuras.
"É muito difícil, agora moramos nove onde antes viviam três, dormimos no chão, todos apertados", lamenta.
Sua mãe, uma idosa que não quer falar com a imprensa, cai no choro diante de sua casa destruída e suspira: "o pior é perder as lembranças".
yug-yo/jhb/jla/lda/cb/mvv
O sismo de magnitude 7,1 dividiu as desgraças igualmente entre bairros endinheirados e precários da capital, mas as marcas em uns e outros são distintas.
"Minha casa foi desabando para dentro, as paredes têm rachaduras diagonais", descreve Gerardo Álvarez, que junto com sua esposa grávida teve que se refugiar com amigos.
"Você acha que nunca vai te atingir", diz esse jornalista de 31 anos, ao reconhecer que é incômodo pedir abrigo nas casas de outras pessoas.
O lar de Álvarez ficava na central Zona Rosa que, como as vizinhas Condesa e Roma, faz parte da área nobre mais devastada pelo terremoto.
Sua busca por um novo apartamento se complicou por "uma bolha interessante" do mercado imobiliário, que disparou os preços dos aluguéis e vendas nesta área, embora muitas de suas paisagens "hispter" tenham se tornado apocalípticas.
- "Deslocamento das buscas" -"Os preços estão impagáveis", concorda Paola Navarrete, uma consultora de 31 anos que teve que abandonar seu prédio em Condesa, de onde só conseguiu pegar três mudas de roupa e documentos essenciais.
Agora espera que os preços diminuam na área, pois alguns moradores preferiram ir para outras zonas depois do terremoto que deixou 369 mortos no México, 228 deles na capital.
"Temos a esperança de que diminuam um pouco os preços na colônia porque muita gente está indo embora", acrescentou ao explicar que os aluguéis mensais não estão por menos de 30.000 pesos (cerca de 1.600 dólares).
Não há números oficiais de quantos ficaram sem casa. A maioria recorreu a familiares e amigos para se abrigar e apenas 600 pessoas, das mais de 20 milhões da capital, dormem em abrigos.
Pelo menos 8.405 construções ficaram danificadas após o sismo, de acordo com o governo da capital, e a busca por moradias também se complica fora das zonas centrais.
"Houve um deslocamento das buscas (para outras zonas) que pode se justificar pelos danos nos edifícios e também talvez pelo interesse dos consumidores de estar em zonas mais seguras", disse à AFP Karim Goudiaby, dona do site de buscas Vivanuncios.
Muitas empresas também querem se realocar. Segundo cifras do Coldwell Banker México, citadas pelo jornal El Financiero, a demanda dos escritórios com as últimas normas contra terremotos aumentou entre 30% e 40% frente o mesmo período do ano passado.
- "Casa de capim" -Distantes do luxo e do frenesi imobiliários, inúmeras casas humildes ficaram em ruínas ou a ponto de desabar em Xochimilco, uma zona semi-rural do extremo sul da capital, catalogada pela Unesco como patrimônio da humanidade por seus canais hídricos.
A tragédia uniu os vizinhos, que em suas ruas sem pavimentação instalaram mesas para comer juntos e espalharam cruzes com flores em homenagem aos seus mortos. Também se revezam em turnos de vigilância para evitar que ladrões roubem suas frágeis casas.
Mas a solidariedade não resolve todas as questões.
"Continuamos sem água e a luz dificilmente volta", diz Hortensia Fernández, uma mulher de 50 anos, no terreno onde ficava sua casa.
Após esvaziar o lugar dos escombros, apenas restam uma macieira, algumas cadeiras quebradas, uma escrivaninha e algumas caixas com pertences que tenta proteger da chuva com um plástico.
"Todos aqui estamos à espera de quando virão para reconstruir as casas, quando vão começar, ainda que seja uma casa de capim", diz, argumentando que o governo não dá atenção para esta zona por ser de "casinhas e não de grandes edifícios".
Em frente fica a casa da família López. Os muros rachados estão prestes a cair, as janelas estão quebradas e as plantas do pátio enterradas sob os escombros.
"As autoridades disseram que vão ter que demolir, mas eles não vêm, já nos esqueceram", assegura Lorena López, entristecida por tudo o que perdeu: "minha cozinha, meu aquecedor, minhas coisas, meu liquidificador".
Esta mulher, junto com os seis integrantes de sua família, teve que se mudar com sua cunhada, para algumas ruas abaixo, cuja casa também ficou com fissuras.
"É muito difícil, agora moramos nove onde antes viviam três, dormimos no chão, todos apertados", lamenta.
Sua mãe, uma idosa que não quer falar com a imprensa, cai no choro diante de sua casa destruída e suspira: "o pior é perder as lembranças".
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