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Ican recebe Nobel da Paz e alerta humanidade para o risco das armas nucleares

Beatrice Fihn (à dir.) e Satsuko Thurlow (no centro) recebem o prêmio Nobel - Odd Andersen/AFP
Beatrice Fihn (à dir.) e Satsuko Thurlow (no centro) recebem o prêmio Nobel Imagem: Odd Andersen/AFP

10/12/2017 13h36

Oslo, 10 dez 2017 (AFP) - Os ativistas da Ican receberam neste domingo o Nobel da Paz em uma cerimônia em Oslo com um alerta: a destruição da humanidade pode depender apenas do fato de alguém perder a paciência, em um momento de crise na Coreia do Norte.

"Será o fim das armas nucleares, o acaso será nosso próprio final?" questionou Beatrice Fihn, diretora da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican), durante a cerimônia do Nobel em Oslo.

A Ican, que reúne quase 500 ONGs em mais de 100 países, alerta há vários anos para o perigo das armas nucleares. A campanha recebeu o prêmio na presença de vários sobreviventes dos bombardeios americanos de Hiroshima e Nagasaki, que deixaram 220 mil mortos há 72 anos.

Momento de tensão

A entrega do Nobel aconteceu em um momento de tensão na península coreana, o que alimenta os temores de uma guerra. Pyongyang multiplicou nos últimos meses os testes nucleares e lançamentos de mísseis. Kim Jong-Un e Donald Trump trocaram ofensas e ameaças. O presidente americano ordenou manobras militares na região.

A maneira racional de proceder é deixar de viver em condições nas quais nossa destruição dependa apenas do fato de alguém perder a paciência

Beatrice Fihn, diretora da Ican

A Ican conquistou uma grande vitória em julho, quando a ONU aprovou um novo tratado que as proíbe as armas nucleares.

O documento, aprovado por 122 países, apesar da oposição das nove potências nucleares, pode demorar anos para entrar em vigor, pois precisa ser ratificado por pelo menos 50 signatários.

Até o momento apenas três países - Santa Sé, Guiana e Tailândia - ratificaram o tratado.

Apesar disso, "a principal mensagem da Ican é que o mundo nunca será seguro enquanto tivermos armas nucleares", disse a presidente dp comitê Nobel, Berit Reiss-Andersen, em seu discurso de entrega do prêmio.

"A ameaça de uma guerra nuclear é agora a maior em muito tempo, sobretudo devido à situação na Coreia do Norte", completou.

Em sinal de aparente desconfiança, as potências nucleares ocidentais (Estados Unidos, França, Reino Unido) não enviaram - ao contrário do que é habitual - seus embaixadores à cerimônia do Nobel, e sim diplomatas de segundo escalão.

Para estas potências nucleares, a arma atômica é um instrumento de dissuasão que permite evitar conflitos e não pode ser deixada de lado.

Sobrevivente recebe prêmio

Entre os sobreviventes dos bombardeios nucleares estava Setsuko Thurlow, 85 anos, que recebeu o Nobel em nome da Ican ao lado de Fihn.

Satsuko Thurlow tinha 13 anos quando a bomba A explodiu em Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945. Ela assistiu a morte de milhares de pessoas e falou sobre o horror sofrido.

"Foi o inferno na Terra", à AFP em uma entrevista antes da cerimônia.

Atualmente, Satsuko Thurlow mora no Canadá.

Apesar da redução do número de ogivas nucleares no planeta desde o fim da Guerra Fria, atualmente existem 15.000 armas do tipo e cada vez mais países possuem o armamento.

"Nove nações ainda ameaçam incinerar cidades inteiras, destruir a vida na Terra, tornar inabitável o nosso belo mundo para as futuras gerações", lamentou Thurlow

As armas nucleares não são um mal necessário, são o mal absoluto.

Satsuko Thurlow

Os demais prêmios Nobel (Literatura, Física, Química, Medicina e Economia) foram entregues em Estocolmo.