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Inventor dinamarquês nega assassinato de jornalista no início do julgamento

A jornalista sueca Kim Wall - AFP
A jornalista sueca Kim Wall Imagem: AFP

Em Copenhague

08/03/2018 13h43

O inventor dinamarquês Peter Madsen, acusado pela morte em agosto do ano passado em seu submarino da jornalista sueca Kim Wall, cujo corpo mutilado admitiu ter jogado ao mar, se declarou inocente de assassinato na abertura do julgamento nesta quinta-feira (8).

O processo se realiza no tribunal de Copenhague, na presença de pessoas próximas à vida, incluindo seus pais, e muitos jornalistas.

De óculos de armação preta, camisa escura, Peter Madsen sentou-se na sala de audiência ao lado de sua advogada, Betina Hald Engmark.

Após o promotor Jakob Buch-Jepsen expor os fatos particularmente macabros do caso, pelo qual solicitará pena de prisão perpétua, Peter Madsen tomou a palavra.

Ele sustentou a mesma linha de defesa, segundo a qual Kim Wall morreu acidentalmente a bordo do submarino - de fabricação caseira - de seu cliente em 10 de agosto de 2017.

A morte teria sido causada, de acordo com ele, por gases tóxicos liberados durante uma despressurização. O acusado indicou que a queda de pressão do ar criou um fenômeno de aspiração que derrubou o painel da escotilha atingindo Wall no submarino que se encheu de gases tóxicos.

submarino kim wall - Peter Thompson/ AFP - Peter Thompson/ AFP
Imagem que seria da jornalista Kim Wall ao lado de um homem na torre do submarino particular "UC3 Nautilus", em Copenhague
Imagem: Peter Thompson/ AFP

"Continuo a dizer que não matei Kim Wall intencionalmente", declarou, com a voz segura. Ele explicou que mudou sua versão do caso várias vezes para "poupar" os parentes da jovem das circunstâncias terríveis de sua morte.

Ao ler a acusação, o procurador apresentou as peças materiais do caso: o corpo decapitado, mutilado e desmembrado de Kim Wall encontrado após o seu desaparecimento em várias partes da baía de Køge que separa a Dinamarca da Suécia, seu sangue no submarino e no nariz de Peter Madsen, e a serra encontrada no mar e que teria sido usada para cortar o cadáver.

A advogada de defesa reagiu, ironizando as "falhas" da acusação.

"Se essas declarações apresentadas pelo procurador podem ser provadas, seriam muito incriminadoras para o meu cliente, mas não há provas suficientes" do assassinato, menos ainda da premeditação, declarou ao tribunal.

Durante os 12 dias de audiências do julgamento, que deve prosseguir até 25 de abril, o tribunal tentará compreender a personalidade do acusado e as circunstâncias da tragédia.

A jornalista independente sueca, de 30 anos, havia embarcado com o enigmático criador do "Nautilus" para fazer uma entrevista.

Detido após o desaparecimento de Kim Wall, o inventor de 47 anos confessou durante um interrogatório que mutilou o corpo e o jogou no mar, mas negou o assassinato.

A autópsia não permitiu determinar as causas da morte de Kim Wall. Peter Madsen afirma que é inocente e alega que a jornalista sofreu um acidente a bordo.

As últimas mensagens trocadas entre Kim Wall e seu namorado foram projetadas na audiência.

"Ainda estou viva", brincou ela às 20h15 do dia 10 de agosto. "Mas vamos mergulhar agora. Te amo". Um minuto depois uma última mensagem: "Ele trouxe café e biscoitos".

A acusação sustenta que Madsen torturou e matou o jornalista para satisfazer uma fantasia sexual. Nenhuma motivação, no entanto, aparece claramente.

A análise psicológica de Madsen, citada nesta quinta-feira pelo procurador, descreve-o como "muito pouco confiável, perverso, polimorfo e sexualmente desviante".

"Ele possui traços narcisistas e psicopáticos, ele manipula com falta de empatia e remorso", acrescentou Jakob Buch-Jepsen.

Testemunhas, incluindo várias ex-parceiras, descrevem um homem com múltiplas perversões sexuais, adepto do sado-masoquismo e praticante de simulações de estrangulamento.

A análise do disco rígido apreendido em seu estúdio - ele nega que seja o seu - revelou vídeos de mulheres - aparentemente reais de acordo com a acusação - estupradas, assassinadas, queimadas.

Os investigadores não encontraram os celulares de Kim Wall ou de Madsen, mas conseguiram estabelecer algumas pesquisas feitas do suspeito.

Na manhã de 10 de agosto, algumas horas antes da tragédia, Madsen fez pesquisas sobre decapitações de mulheres. Em 26 de julho, também procurou "decapitações de mulheres" e assistiu a vídeos.

Por que, perguntou o procurador. "Não é sexual, vejo esses vídeos para chorar e experimentar emoções", disse Peter Madsen.