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Morre Sergio Marchionne, o CEO que salvou a Fiat da falência

25/07/2018 15h42

Milão, 25 Jul 2018 (AFP) - Sergio Marchionne, o empresário ítalo-canadense que dirigiu a Fiat Chrysler (FCA) por 14 anos e salvou a empresa da falência, morreu nesta quarta-feira (25), em uma clínica suíça, deixando a Itália de luto.

"Com grande tristeza anunciamos a morte de Sergio Marchionne", informou o grupo Exor, da família Agnelli, em um breve comunicado.

"Lamentavelmente, aconteceu o que temíamos. Sergio Marchionne, o homem, o amigo, se foi. Acho que a melhor maneira de honrar sua memória é continuar construindo sobre a herança que ele nos deixa, cultivar seus valores de humanidade, responsabilidade e abertura moral", afirmou o presidente da Exor, John Elkann, neto de Gianni Agnelli, figura histórica da Fiat.

Pouco após da divulgação da notícia, a Câmara dos Deputados da Itália fez um minuto de silêncio em homenagem a Marchionne, hospitalizado desde o final de junho em Zurique após submeter-se a uma cirurgia no ombro.

Marchionne sofreu várias complicações pós-operatórias e na sexta-feira seu estado de saúde se deteriorou bruscamente. Diante desse quadro, a Fiat reuniu emergencialmente sua diretoria para substituí-lo em cargos executivos no grupo.

"É um momento muito difícil e muito triste para nós", confessou à imprensa o britânico Mike Manley, que o sucedeu neste sábado à frente da FCA .

O empresário, de 66 anos, que aparentemente sofreu uma embolia que provocou danos cerebrais irreparáveis enquanto se submetia a uma operação de sarcoma no ombro, era um símbolo para o setor automobilístico depois de ter impedido a quebra da multinacional italiana.

O executivo, que chegou à companhia italiana em 2004, era um homem original por seu estilo, avesso ao uso de gravata, sempre com suéter, amante do jazz e disposto a aplicar um plano drástico que exigiu austeridade e demissões.

"Deixa um vazio em todos aqueles que o conheceram e apreciavam suas qualidades humanas, intelectuais e profissionais", declarou o presidente da República italiana, Sergio Mattarella.

"Ele escreveu uma página importante da história da indústria italiana (...), demostrou ao mundo a capacidade e a criatividade do setor manufatureiro de nosso país", acrescentou.

- "O melhor da Itália" -Grande parte da classe política prestou homenagem e lembrou sua franqueza e sua cultura anglo-saxã, por ter sido criado no Canadá, o que irritava alguns.

"A Itália perde não somente seu executivo mais brilhante, mas também uma figura exemplar, que representa o melhor do italiano: o desejo de trabalhar, o homem concreto, sério e preparado, dotado de visão e capaz de olhar para o futuro. A Itália que não teme competir", comentou o magnata das comunicações Silvio Berlusconi.

"Teria gostado de vê-lo como primeiro-ministro", acrescentou.

Nas fábricas da Fiat, assim como da Ferrari em Maranello, as bandeiras estavam a meio mastro e todas as linhas de montagem pararam por 15 minutos em homenagem ao empresário falecido.

A maioria dos sindicatos elogiaram sua inteligência, liderança, carisma e energia, embora alguns reconhecessem que foi "um negociador difícil".

"Era um grande administrador, mas também um homem com uma grande humanidade", assegurou o monsenhor Cesare Nosiglia, arcebispo de Turim, berço da Fiat.

Em 14 anos transformou profundamente a Fiat, primeiro ao endereçar as contas e depois disso conseguiu a fusão, em 2009, com a americana Chrysler, em quebra e resgatada pelo então presidente Barack Obama, com quem confabulou para conseguir a exitosa operação.

No sábado, diante de sua morte iminente, o grupo designou rapidamente o sucessor e nesta quarta-feira confirmou a apresentação dos resultados trimestrais, muito decepcionantes.

A FCA teve que reduzir suas metas para 2018 depois da queda de 35% de suas receitas líquidas no segundo trimestre, a 754 milhões de euros.