Surpresa entre os parentes italianos de Jair Bolsonaro
Anguillara Veneta, Brasil, 26 Out 2018 (AFP) - Na tranquila Anguillara Veneta, no próspero nordeste da Itália, os parentes distantes de Jair Bolsonaro não escondem o espanto com a possibilidade de um descendente daqueles que fugiram da pobreza há mais de um século chegar à presidência do Brasil.
"Não sabíamos de nada, foi uma surpresa. O prefeito nos contou há poucos dias", confessa Emilio Bolzonaro, diante de sua residência em Via Canareggio, a poucos metros das extensas planícies onde seus antepassados foram simples camponeses sem terra.
"Não eram proprietários de terra, estavam a serviço das famílias patriarcais, porque os nobres de Veneza eram então os donos e patrões", conta Franco Bolzanaro, 65 anos, empresário do setor de telecomunicações, que pertence à família que se dividiu entre os que ficaram e os que deixaram a região no fim do século XIX em busca de uma vida melhor.
"Aqui temos os registros de batismo desde 1630. Olhe, aparecem vários Bolzonaro", indica o padre de Anguillara Veneta, Claudio Minchelotto, que administra na igreja de Sant' Andrea os volumes antigos de documentos, escritos a mão e com as datas de nascimento.
"Este é o registro de batismo de Vittorio Bolzonaro, nascido em 12 abril de 1878", destaca o religioso ao indicar aquele que, segundo alguns historiadores, é o bisavô de Jair Bolsonaro.
De acordo com os dados chegou ao Brasil aos 10 anos de idade ao lado de dois irmãos, Giovanna (sete anos) e Tranquillo (um ano), além do avô, Angelo, 84 anos, o pai Giuseppe (50 anos) e a mãe Domenica Cavallaro (46).
Alguns contam que quando o pai de Vittorio desembarcou no porto no Brasil, um funcionário da Alfândega perguntou o sobrenome e ele respondeu: Bolsonaro, como o "z" é pronunciado no dialeto da região do Veneto. Por este motivo, nos documentos brasileiros a palavra trocou o "z" pelo "s".
"É uma história que me faz rir", comenta Anna Bolzonaro, 26 anos, formada em Biologia.
"Há alguns meses fui contactada no Facebook por um tal Jair do Brasil, mas não sabia quem era e não respondi", confessa.
- O "Salvini carioca" -O braço dos Bolzonaro com "z", que observou a transformação em um século da região, que passou de uma terra de pobreza e emigração para a América Latina a uma das mais ricas e desenvolvidas da Itália, pouco sabe a respeito das ideias políticas de Jair Bolsonaro, de seu discurso considerado misógino, homofóbico e racista, além da defesa da ditadura militar.
Nenhum deles fala sobre o tema, pois se consideram progressistas, apesar da região ser um reduto do partido de extrema-direita Liga.
O governador de Veneto, o político de ultradireita Luca Zaia, anunciou esta semana comemorações em caso de vitória no domingo daquele que chamou de "Salvini carioca", por sua proximidade ideológica com o vice-premier e ministro do Interior italiano Matteo Salvini, atualmente o homem forte da Itália e conhecido por sua política contra a imigração.
"Aqui não festejaremos em caso de vitória de Jair no Brasil. Recebê-lo sim, estamos sempre a favor da acolhida", afirmou Luigi Polo, prefeito de Anguillara Veneta (8.000 habitantes), de 65 anos, formado em Física e apaixonado por História.
"Em Veneto por seis séculos só tivemos arrendatários da terra e por isto se desenvolveu a mentalidade de luta. Também houve muita miséria, as inundações provocavam carestia", conta Polo em referência aos camponeses sem terra desta região italiana.
O prefeito colaborou com o livro "Voltar a nos ver na América", de Franco De Checchi, sobre os emigrantes que partiram de Anguillara para a América, um verdadeiro êxodo.
"Daqui saíram muitos Bolzonaro para o Brasil, sobretudo a partir de 1886, para trabalhar nas plantações de café e substituir os escravos recém libertados", explica.
Nos arquivos da prefeitura estão as certidões de nascimento, entre elas a de Angelo Bolzonaro, "casado com Remo Francesca, que partiu em 22 de abril de 1888", segundo o prefeito.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que entre 1876 e 1920 um total de 365.710 imigrantes da região de Veneto chegaram ao Brasil.
Praticamente todos os moradores têm algum parente ou conhecido que emigrou para o Brasil.
E nunca imaginaram que um deles estaria a ponto de tornar-se presidente, apesar de suas ideias "exageradas", como reconhecem os parentes distantes.
"Não sabíamos de nada, foi uma surpresa. O prefeito nos contou há poucos dias", confessa Emilio Bolzonaro, diante de sua residência em Via Canareggio, a poucos metros das extensas planícies onde seus antepassados foram simples camponeses sem terra.
"Não eram proprietários de terra, estavam a serviço das famílias patriarcais, porque os nobres de Veneza eram então os donos e patrões", conta Franco Bolzanaro, 65 anos, empresário do setor de telecomunicações, que pertence à família que se dividiu entre os que ficaram e os que deixaram a região no fim do século XIX em busca de uma vida melhor.
"Aqui temos os registros de batismo desde 1630. Olhe, aparecem vários Bolzonaro", indica o padre de Anguillara Veneta, Claudio Minchelotto, que administra na igreja de Sant' Andrea os volumes antigos de documentos, escritos a mão e com as datas de nascimento.
"Este é o registro de batismo de Vittorio Bolzonaro, nascido em 12 abril de 1878", destaca o religioso ao indicar aquele que, segundo alguns historiadores, é o bisavô de Jair Bolsonaro.
De acordo com os dados chegou ao Brasil aos 10 anos de idade ao lado de dois irmãos, Giovanna (sete anos) e Tranquillo (um ano), além do avô, Angelo, 84 anos, o pai Giuseppe (50 anos) e a mãe Domenica Cavallaro (46).
Alguns contam que quando o pai de Vittorio desembarcou no porto no Brasil, um funcionário da Alfândega perguntou o sobrenome e ele respondeu: Bolsonaro, como o "z" é pronunciado no dialeto da região do Veneto. Por este motivo, nos documentos brasileiros a palavra trocou o "z" pelo "s".
"É uma história que me faz rir", comenta Anna Bolzonaro, 26 anos, formada em Biologia.
"Há alguns meses fui contactada no Facebook por um tal Jair do Brasil, mas não sabia quem era e não respondi", confessa.
- O "Salvini carioca" -O braço dos Bolzonaro com "z", que observou a transformação em um século da região, que passou de uma terra de pobreza e emigração para a América Latina a uma das mais ricas e desenvolvidas da Itália, pouco sabe a respeito das ideias políticas de Jair Bolsonaro, de seu discurso considerado misógino, homofóbico e racista, além da defesa da ditadura militar.
Nenhum deles fala sobre o tema, pois se consideram progressistas, apesar da região ser um reduto do partido de extrema-direita Liga.
O governador de Veneto, o político de ultradireita Luca Zaia, anunciou esta semana comemorações em caso de vitória no domingo daquele que chamou de "Salvini carioca", por sua proximidade ideológica com o vice-premier e ministro do Interior italiano Matteo Salvini, atualmente o homem forte da Itália e conhecido por sua política contra a imigração.
"Aqui não festejaremos em caso de vitória de Jair no Brasil. Recebê-lo sim, estamos sempre a favor da acolhida", afirmou Luigi Polo, prefeito de Anguillara Veneta (8.000 habitantes), de 65 anos, formado em Física e apaixonado por História.
"Em Veneto por seis séculos só tivemos arrendatários da terra e por isto se desenvolveu a mentalidade de luta. Também houve muita miséria, as inundações provocavam carestia", conta Polo em referência aos camponeses sem terra desta região italiana.
O prefeito colaborou com o livro "Voltar a nos ver na América", de Franco De Checchi, sobre os emigrantes que partiram de Anguillara para a América, um verdadeiro êxodo.
"Daqui saíram muitos Bolzonaro para o Brasil, sobretudo a partir de 1886, para trabalhar nas plantações de café e substituir os escravos recém libertados", explica.
Nos arquivos da prefeitura estão as certidões de nascimento, entre elas a de Angelo Bolzonaro, "casado com Remo Francesca, que partiu em 22 de abril de 1888", segundo o prefeito.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que entre 1876 e 1920 um total de 365.710 imigrantes da região de Veneto chegaram ao Brasil.
Praticamente todos os moradores têm algum parente ou conhecido que emigrou para o Brasil.
E nunca imaginaram que um deles estaria a ponto de tornar-se presidente, apesar de suas ideias "exageradas", como reconhecem os parentes distantes.
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