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Na favela ou na web, Bolsonaro e Haddad jogam suas últimas cartas

27/10/2018 21h08

São Paulo, 28 Out 2018 (AFP) - Jair Bolsonaro através da internet; Fernando Haddad na favela: no último dia de campanha, os candidatos presidenciais jogam suas últimas cartas junto ao eleitorado, que, segundo as pesquisas, parecem inclinados a favor do capitão do Exército de extrema direita.

Os brasileiros têm, de um lado, Haddad, herdeiro político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que promete trazer de volta os anos dourados de bonança econômica do período PT; do outro lado um nostálgico do regime militar, partidário de liberar o porte de armas, e que afirma que vai "limpar" o Brasil da corrupção, da insegurança e do comunismo.

No primeiro turno, em 7 de outubro, Bolsonaro teve 46% dos votos contra 29% para Haddad.

Nas últimas pesquisas, divulgadas na noite deste sábado (27), o capitão do Exército na reserva aparece com vantagem de oito a dez pontos pontos sobre o petista: 54% contra 46% segundo o Ibope e 55% a 45%, segundo o Datafolha.

- Haddad e a virada -Haddad, de 55 anos, foi indicado como candidato em setembro, substituindo Lula, que cumpre pena de prisão de 12 anos por corrupção desde abril, sendo ele a principal figura do PT e seus aliados atingida pelas investigação da Operação "Lava Jato".

A decolagem de Haddad se baseou no apoio de milhões de brasileiros que se beneficiaram das políticas de inclusão social de Lula.

Mas até agora só conseguiu o "apoio crítico" dos principais líderes de centro-esquerda, que censuram o PT por suas tramas e manobras político-financeiras durante seus anos no poder e principalmente sua falta de autocrítica.

Em seu último evento de campanha, Haddad fez uma "Caminhada pela Paz" em Heliópolis, a maior favela de São Paulo (sudeste). Centenas de seguidores o acompanharam pelas ruas estreitas do bairro, em clima festivo e vestidos de branco.

"Acho importante que população esteja tomando consciência do grande salto no escuro que é a candidatura Bolsonaro, que nunca teve compromissos com as instituições. Nas últimas semanas estão querendo 'adocicá-lo', fazendo-o parecer o que ele não é. Ele é uma pessoa truculenta e perigosa", disse, cercado por um enxame de jornalistas.

"A virada virá", enfatizou o petista, coincidindo com o otimismo de seus militantes. No primeiro turno, Haddad teve 29% dos votos contra 46% para Bolsonaro.

O otimismo entre seus militantes aumentou sobretudo depois do apoio do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, o primeiro negro a presidente a corte máxima do país e responsável pelo julgamento do 'Mensalão', o primeiro escândalo de corrupção que pôs em apuros lideranças do PT, em 2005.

"Pela primeira vez em 32 anos de exercício direto do voto, um candidato me inspira medo, então votarei em Fernando Haddad", tuitou Barbosa, que quase se candidato no início deste ano.

"Já viramos, vamos ganhar, a democracia vai ganhar, não o militarismo. A ditadura de novo, não. O Brasil não precisa de armas, e sim de projetos sociais", afirmou Emerson Santana, 44 anos, que participava emocionado do comício de Haddad Heliópolis.

O clima de virada de Haddad sofreu novo golpe no começo da tarde, quando Ciro Gomes (PDT) - terceiro colocado no primeiro turno com 12,47% dos votos - acabou com suas esperanças de receber seu apoio explícito, considerado chave.

"Todo mundo preferia que eu, com meu estilo, tomasse um lado e participasse da campanha. Mas eu não quero fazer isso por uma razão muito prática, que eu não quero dizer agora, porque, se eu não posso ajudar, atrapalhar é o que eu não quero", afirmou Ciro em vídeo postado nas redes sociais, no qual anuncia apenas que votará "contra a intolerância".

- "Nada está ganho", admite Bolsonaro -Bolsonaro, 63 anos, por outro lado, conduziu suas últimas ações de campanha de sua casa, na Barra da Tijuca, Rio, como tem feito desde que foi esfaqueado em um comício 6 de setembro e teve que passar por um processo de recuperação após duas cirurgias.

O candidato do PSL lamentou não estar perto dos eleitores por suas limitações médicas e pediu a seus seguidores que não antecipem a vitória na eleição.

"As eleições não estão ganhas. Não podemos relaxar. Sei que tem gente que tem dificuldade para ir votar. Vai no sacrifício, sai mais cedo para votar. Não vamos dar oportunidade para o outro lado dizer 'ganhamos'. Em dois dias, não vão virar 20 milhões de votos. Mas nós devemos fazer a nossa parte", disse a seus seguidores em transmissão pelo Facebook.

Bolsonaro conseguiu que seus seus milhões de seguidores virtuais colocassem a hashtag # MudaBrasil17 como o 'trending topic' mais discutido no Twitter em todo o mundo neste sábado.

Conhecido mais por sua retórica exaltada, nutrida por comentários sexistas, racistas e homofóbicos, Bolsonaro tentou moderar o tom nas últimas horas, tentando afastar o medo de que seu governo, que terá a presença proeminente de militares, possa significar um retorno aos sombrios anos da ditadura (1964-1985).

Algo que não parece preocupar seus seguidores, que neste sábado participaram de uma caravana para apoiá-lo em São Paulo.

"Vim porque quero Bolsonaro presidente. Trabalhamos muito para conseguir limpar o Brasil, e tirá-lo das mãos dos comunistas, e agora estamos conseguindo", declarou, satisfeito, Dorival Andrade, cujo carro fazia parte da carreata de uns 500 veículos que fizeram tremular bandeiras brasileiras no centro da cidade.