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Pior ataque antissemita nos Estados Unidos deixa 11 mortos em sinagoga

27/10/2018 22h23

Pittsburgh, Estados Unidos, 28 Out 2018 (AFP) - Um homem abriu fogo neste sábado (27), durante uma cerimônia em uma sinagoga da cidade americana de Pittsburgh, deixando onze mortos e seis feridos antes de ser detido, neste que é considerado o pior ataque antissemita da história dos Estados Unidos.

"Houve 11 mortos no tiroteio", disse o diretor de segurança pública, Wendell Hissrich, durante coletiva de imprensa, acrescentando que não há crianças entre as vítimas.

"Houve também seis feridos, entre eles quatro policiais", acrescentou.

O atirador portava um fuzil de assalto e ao menos três pistolas, segundo as autoridades que o identificaram como Robert Bowers, de 46 anos, morador de Pittsburgh, autor de publicações on-line repletas de comentários antissemitas.

Bowers entrou na sinagoga Árvore da Vida às 14h GMT (11h de Brasília), gritando "Todos os judeus devem morrer", segundo relato de testemunhas, enquanto atirava nas pessoas que participavam de uma cerimônia comemorativa do nascimento de um menino.

"A cerimônia estava em andamento quando escutei um forte barulho na entrada", contou um membro da congregação, Stephen Weiss, ao jornal Tribune Review. "Reconheci o som como o de uma arma de fogo", acrescentou este homem de 60 anos, que fugiu imediatamente do local.

O atirador foi detido e enviado ao hospital, após um enfrentamento com as forças de ordem. Ele será processado, por crime antissemita, entre outros, e pode ser condenado à morte, informou o Departamento de Justiça.

O ataque acontece em um momento em que os Estados Unidos testemunham um forte aumento de incidentes contra esta comunidade.

Jonathan Greenblatt, diretor da Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), organização de combate ao antissemitismo, considerou este "provavelmente o ataque mais letal contra a comunidade judaica da história dos Estados Unidos".

Na sexta-feira, Greenblatt havia publicado um artigo no jornal Washington Post denunciando o aumento do antissemitismo nos campi universitários.

- Correndo pelas escadas -Uma mulher que estava no local disse à rede CNN que sua filha estava com outras pessoas que correram escadas abaixo e se esconderam no sótão da sinagoga depois de ouvir os disparos.

"Estão a salvo, mas continuaram ouvindo disparos e tudo mais", contou à emissora.

O presidente Donald Trump denunciou um clima de ódio no país, e sua filha, Ivanka, convertida ao judaísmo, condenou o que chamou de ataque "depravado".

"É uma coisa terrível, terrível o que está acontecendo com o ódio no nosso país, francamente, e em todo o mundo", disse Trump a jornalistas antes de partir para uma série de eventos de campanha em Indiana e Illinois.

"Este foi um ato antissemita", afirmou Trump. "Não deve haver tolerância ao antissemitismo", declarou.

O presidente, que se encontra no estado de Illinois para participar de ato de campanha, anunciou neste sábado que viajará a Pittsburgh, sem dar maiores detalhes sobre a viagem.

- Condolências de Maduro -O chefe de Estado venezuelano, Nicolás Maduro, condenou o ataque.

"Lamentamos o ataque ocorrido na sinagoga de Pittsburgh, EUA; condenamos a violência. Nossas mais sinceras condolências aos familiares das vítimas e à comunidade judaica. O mundo deve se encaminhar para uma sólida cultura de paz. Juntos, podemos consegui-lo", escreveu Maduro no Twitter.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já tinha expressado seu pesar e sua solidariedade com os Estados Unidos, dizendo-se aflito e consternado pelo ataque.

"Todo o povo de Israel chora junto com as famílias dos mortos", disse Netanyahu em mensagem de vídeo. "Estamos juntos à comunidade judaica de Pittsburgh. Estamos com o povo americano diante deste horrível ataque antissemita".

O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou pelo Twitter que "condena fortemente este ato de antissemitismo".

"Meus pensamentos às vítimas e meu apoio a seus entes queridos", emendou Macron.

Mais cedo, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, denunciou o "horrível ataque antissemita", enquanto sua ministra de Relações Exteriores, Chrystia Freeland, pediu a formação de uma "frente comum contra esse ódio, essa intolerância, o antissemitismo e a violência".

Já a chanceler alemã, Angela Merkel, condenou a "ira cega antissemita".

"Todos nós, em toda a parte, devemos nos levantar com determinação contra o antissemitismo", reagiu Merkel, segundo curta declaração postada no Twitter pelo porta-voz do governo alemão.

Este é o mais recente ataque maciço a tiros dos Estados Unidos, onde as armas de fogo são a causa de mais de 30 mil mortes ao ano.

Os crimes de ódio têm aumentado nos Estados Unidos nos últimos anos.

Estes episódios se multiplicaram no ano passado, refletindo um aumento do antissemitismo em todo o país, enquanto os incidentes cresceram 57%, passando de 1.256 para 1.986, segundo a ADL.

A sinagoga atacada, fundada há 150 anos, fica em Squirrel Hill, centro da vida judaica em Pittsburgh, cidade do estado da Pensilvânia.

Segundo estudo de 2017 da Universidade de Brandeis, mais de 80% dos moradores do bairro disseram se sentir de alguma forma preocupados ou muito preocupados com o aumento do antissemitismo.

O Departamento de Polícia de Nova York informou ter mobilizado equipes com armas pesadas em centros de culto em toda a cidade, que tem uma forte comunidade judaica.