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Primeira caravana centro-americana completa um mês rumo aos EUA

13/11/2018 17h23

Guadalajara, México, 13 Nov 2018 (AFP) - Sem ânimo para festejar, a primeira grande caravana de migrantes que deixou Honduras rumo aos Estados Unidos completa um mês nesta terça-feira (13) de um caminho tortuoso e minado de ameaças da parte do presidente Donald Trump e ainda determinada a alcançar o sonho americano.

Em meio ao cansaço e às doenças que se abatem sobre seus integrantes, os mais de 5.000 migrantes - hondurenhos em sua maioria - que persistem desde 13 de outubro na marcha que saiu de San Pedro Sula, amanheceram na mexicana Guadalajara. Foram mais de 2.000 quilômetros percorridos, a maioria a pé e com paradas em alguns trechos.

Os migrantes não reiniciaram o seu trajeto ao norte a pé, como nos dias anteriores, mas o governo de Jalisco, estado ao qual pertence Guadalajara, colocou a sua disposição dezenas de ônibus.

O acordo foi levar os migrantes até "o limite entre Jalisco e Nayarit, e outros transportes nos recolheriam lá para nos levar segura e dignamente até Sinaloa", estado do noroeste sobre a costa do Pacífico, indicou um comunicado dos líderes da caravana.

Entretanto, a AFP constatou que os ônibus fizeram os migrantes descer na guarita El Arenal, um ponto muito afastado de Nayarit rodeado de montanhas desérticas. Isso desatou a ira e indignação dos centro-americanos.

"Esta é uma decisão clara do governo do estado de Jalisco para nos tirar de Guadalajara sem cumprir sua palavra", segundo o comunicado.

Sob um sol forte, milhares de migrantes, incluindo numerosas crianças e alguns idosos, se acumulavam em torno da guarita. "Eles nos enganaram!", gritavam alguns, indignados.

Mas a raiva e a desorientação não os imobilizaram, e começaram a pedir carona para trailers de carga ou caminhões de reboque, na esperança de chegar a Sinaloa.

- 'Um crime para mentir para nós' -"É um crime mentir para nós assim porque eles sabem que não conhecemos o lugar. Viemos com mulheres e crianças que estão sofrendo aqui. A criança está com sede e não há onde pegar água", lamentou José Rubio, um hondurenho de 23 anos que viaja com a esposa e três filhos pequenos.

Assim, a caravana completa um mês desde o seu início.

"Não celebramos absolutamente nada. Como vamos festejar que estamos sem casa, sem trabalho, cansados, doentes, sem segurança para nosso futuro?", disse à AFP Wilson Ramírez, um hondurenho de 60 anos, enquanto fazia uma longuíssima fila em espiral para sair do auditório que serviu de abrigo em Guadalajara.

Em sua passagem pelo México, a caravana chegou a somar 7.000 integrantes, segundo a ONU, mas muitos desistiram pelo caminho. Os 5.049 migrantes que conseguiram chegar a Guadalajara - segundo números de autoridades locais - estão determinados a pisar nos Estados Unidos apesar dos obstáculos.

Atrás dessa grande caravana, há outras duas, com cerca de 2.000 migrantes cada, enquanto grupos mais reduzidos se adiantavam até a fronteira com os Estados Unidos.

No domingo passado chegou um grupo de cerca de 75 transexuais e alguns homossexuais a Tijuana, e nesta terça-feira nove ônibus chegaram com 350 migrantes, todos membros da primeira grande caravana, constatou a AFP.

Enquanto isso, o governo dos Estados Unidos fechou parcialmente com barricadas e arame farpado os postos de San Ysidro e Otay Mesa, do estado da Califórnia.

- Os obstáculos de Trump -Em 9 de novembro, Trump decretou o fim dos pedidos de asilo para quem entrar ilegalmente nos Estados Unidos, uma medida que busca dissuadir os migrantes centro-americanos que avançam pelo México rumo à fronteira, escapando da pobreza e da violência em seus países.

Com essa medida, o governo Trump busca fazer o governo mexicano a assumir os migrantes, estipulando que o decreto perderá sua vigência, caso se chegue a um acordo que "permita os Estados Unidos expulsarem estrangeiros para o México".

Segundo o governo americano, as patrulhas fronteiriças registraram mais de 400.000 entradas ilegais em 2018. E, nos últimos cinco anos, o número de solicitantes de asilo aumentou 2.000%, transbordando o sistema, que tem mais de 700.000 casos acumulados para processar.

Trump acusa os migrantes de protagonizarem uma "invasão" e, para contê-los, determinou o envio de milhares de soldados para a fronteira sul.

Em 5 de novembro, cerca de 4.800 soldados foram mobilizados, informou o Pentágono, que disse que "em breve" espera ter mais de 7.000 soldados em serviço ativo na área.

Cerca de 2.100 reservistas da Guarda Nacional estão há meses na fronteira.