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Presidente do Irã defende opção diplomática após críticas da ala dura do regime

26/08/2019 09h39

Teerã, 26 Ago 2019 (AFP) - O presidente do Irã, Hassan Rohani, defendeu nesta segunda-feira (26) a opção do diálogo para resolver a crise a respeito do programa nuclear do país, em resposta às críticas da ala dura do regime após a visita surpresa à França de seu ministro das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, no domingo (25).

"Acredito que devemos usar todos os instrumentos para servir os interesses nacionais", afirmou Rohani, em um discurso exibido ao vivo pela televisão estatal.

"Se eu sei que vou a uma reunião que pode levar à prosperidade do meu país e resolver os problemas da população, não hesito nem por um instante", completou.

"O essencial é o interesse nacional", insistiu, sob os aplausos do público, durante um evento sobre as realizações do governo nas zonas rurais.

O governo iraniano enfrenta muitas críticas após a visita de Zarif, que foi convidado no domingo pelo presidente francês, Emmanuel Macron, a Biarritz, onde acontece a reunião de cúpula do G7.

Zarif se reuniu com Macron e com seu colega francês, Jean-Yves Le Drian, assim como com representantes da Alemanha e do Reino Unido, os outros dois países europeus que assinaram o acordo sobre o programa nuclear iraniano em 2015.

- Viagem 'infeliz'O governo dos Estados Unidos, outro país signatário, retirou-se unilateralmente do acordo no ano passado. O presidente Donald Trump adotou uma política de pressão máxima sobre Teerã, que respondeu com o reinício de algumas atividades nucleares.

Nesta segunda-feira, o jornal ultraconservador "Kayhan" chamou de "infeliz" a viagem do ministro à França, por considerar que envia uma "mensagem de fragilidade e desespero".

Essas iniciativas "são empreitadas sob a ótica imaginária de uma abertura, mas isso não vai dar nenhum resultado além de mais insolência e pressão" por parte dos EUA, insistiu o jornal.

O representante dos Guardiães da Revolução também viu nesse movimento esforços em vão.

"Sua hostilidade em relação à Revolução Islâmica e a este conflito são sem fim. Não podemos chegar a uma solução, ou a uma reconciliação pelo diálogo", afirmou Abdollah Haji-Sadeghi.

"Não devíamos esperar o que quer que seja além de hostilidade", completou, segundo a agência de notícias Isna.

- Força e diplomaciaJá o jornal reformista Etemad classificou a visita de Zarif como o "momento mais promissor" desde a saída de Washington, há 15 meses, do pacto nuclear.

"Dados os esforços mobilizados por Macron nos últimos meses, esperamos que as respostas de Trump às ideias de Macron tenham sido a principal razão do deslocamento de Zarif a Biarritz", escreveu o jornal.

Em meio aos ataques misteriosos a navios na região estratégica do Golfo, drones abatidos e petroleiros apreendidos, temeu-se uma escalada fora de controle nas tensões entre Irã e EUA.

Embora defenda o diálogo, o presidente Rohani disse também ser a favor do uso concomitante da linha dura.

"Se apreenderem nosso navio em qualquer lugar, negociamos e também podemos reter seu navio por razões legais", explicou.

Ele se referia à situação do petroleiro iraniano retido ao longo da costa de Gibraltar e que foi liberado pelas autoridades britânicas, assim como à apreensão, por parte do Irã em 19 de julho, 15 dias depois, de um cargueiro de bandeira britânica. Este último continua apresado no Golfo.

"Podemos trabalhar com as duas mãos (...), a mão da força e a mão da diplomacia", observou.

"Temos de usar nossa força militar e de segurança, nossa força econômica e cultural e nossa força política. Temos de negociar. Temos de encontrar soluções", declarou.

"Mesmo que as chances de sucesso sejam de 10%, temos de nos esforçar e começar", insistiu Rohani.

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