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Brasil supera as 70.000 mortes pelo novo coronavírus (oficial)

10/07/2020 20h41

Rio de Janeiro, 10 Jul 2020 (AFP) - O Brasil superou nesta sexta-feira (10) as 70.000 mortes pelo novo coronavírus, que parece a caminho de uma estabilização no país, mas com um nível elevado de óbitos diários.

Segundo o Ministério da Saúde, houve nas últimas 24 horas 45.048 novos casos e 1.214 mortes, elevando o total de contagiados a 1.800.827 e o de falecidos a 70.398.

Com perto de 212 milhões de habitantes, o Brasil é o segundo país do mundo em número de contagiados e falecidos pela COVID-19, atrás dos Estados Unidos.

A cifra de mortos dobrou em 35 dias (tinha chegado a 35.000 em 5 de junho), com registros elevados em São Paulo (17.442 mortos) e Rio de Janeiro (11.280).

Em termos relativos, o número de mortos por milhão de habitantes é de 335, inferior ao dos Estados Unidos (403,4) e ao da Espanha (607,5).

Mas em alguns estados, como no Rio de Janeiro (653 mortos por milhão de habitantes), Ceará (742 por milhão) e Amazonas (726 por milhão), o impacto se assemelha ao dos países mais castigados pela pandemia.

Das últimas cinco semanas (excluindo a atual), quatro registraram mais de 7.000 mortos, ou seja, mais de mil por dia, em média.

Desde o primeiro óbito por COVID-19, reportado em março, o Brasil não conseguiu dar uma resposta unificada à doença, devido à oposição entre os governadores e prefeitos, favoráveis às medidas de distanciamento social para conter os contágios, e o presidente Jair Bolsonaro, que as critica por seus impactos na economia.

O próprio Bolsonaro, de 65 anos, anunciou esta semana ter sido diagnosticado com a COVID-19, embora tenha mantido a atitude desafiadora diante de uma doença à qual chegou a qualificar de "gripezinha".

"As projeções que nós fazemos mostram que nesse cenário de relaxamento, o número de casos vai continuar aumentando até outubro, novembro, com essas flutuações", disse à AFP Domingos Alves, coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).

"Será um efeito do relaxamento [do confinamento], à revelia das recomendações das evidências coletadas em todos os países que seguiram as recomendações da OMS", acrescentou Alves.

"Já na próxima semana ou na seguinte devemos ver os efeitos disso. Em torno de 15 ou 16 de julho, 80.000 óbitos. A hipótese é que não é uma segunda onda, mas [estaríamos] exacerbando a primeira", afirmou.

"A politização da epidemia e a postura negacionista do governo federal têm sido um dos grandes motivos do agravamento" da situação sanitária do país, acrescentou.

- "Efeito bumerangue" - A constância no número de mortos esconde uma modificação das tendências regionais, visto que nos estados mais afetados vem ocorrendo uma estabilização ou redução de casos, enquanto se registra um aumento nos estados do sul e do centro-oeste do país, que tinham sido mais preservados até agora.

Por outro lado, a pandemia mostrou estar sob controle em grandes centros urbanos, embora tenha castigado mais duramente localidades do interior.

Isso faz Alves temer um "efeito bumerangue" no sistema sanitário, visto que as cidades do interior serão obrigadas a enviar pacientes para as capitais, com mais disponibilidade de unidades de terapia intensiva.

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