China fecha consulado dos EUA e se prepara para deixar missão em Houston
A China determinou nesta sexta-feira (24) fechar o consulado dos Estados Unidos em Chengdu, três dias depois de Washington fazer o mesmo com a representação chinesa em Houston, já ocupado pela polícia, em meio a acusações mútuas de espionagem dignas da Guerra Fria.
Os americanos terão que fechar sua representação diplomática em Chengdu (sudoeste), anunciou o ministério chinês das Relações Exteriores no último episódio de uma escalada sem precedentes nas tensões entre as duas potências.
A decisão é "uma resposta legítima e necessária às medidas não razoáveis dos Estados Unidos", reforçou o ministério em um comunicado.
"Alguns funcionários do consulado dos Estados Unidos de Chengdu se dedicaram a atividades que vão além de suas funções, imiscuindo-se nos assuntos internos da China, e têm colocado em perigo a segurança e os interesses chineses", denunciou à imprensa o porta-voz do ministério, Wang Wenbin.
A Casa Branca chamou Pequim a "cessar" seus "atos nefastos" ao invés de adotar represálias, embora tenha evitado fazer publicamente uma ameaça como resposta às represálias chinesas.
- "Mensagem" para Pequim -O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, declarou na quinta-feira que o consulado chinês em Houston era "um centro de espionagem" chinês e "de roubo de propriedade intelectual" americana.
Na terça-feira, o governo de Donald Trump deu 72 horas aos diplomatas chineses para desalojarem a missão em Houston, polo mundial de pesquisas médicas e biológicas.
Ao longo de toda esta sexta-feira, funcionários da missão diplomática encheram caminhões de mudança e sacolas que jogaram em contêineres de lixo, sob os olhares de policiais e gritos de reprovação de manifestantes, enquanto os veículos deixavam o local.
À tarde, agentes americanos finalmente entraram no edifício após ter aberto a porta com ferramentas, constatou um jornalista da AFP.
À noite, um porta-voz do Departamento de Estado confirmou que o consulado havia sido efetivamente "fechado".
A sanção dos Estados Unidos ocorreu horas depois de ser conhecida a acusação de dois cidadãos chineses, acusados de terem feito pirataria digital em busca especialmente de pesquisas sobre a vacina contra a COVID-19.
No entanto, funcionários americanos disseram nesta sexta que a medida não corresponde a um caso específico.
"Em determinado momento, você simplesmente diz, 'chega'", disse um alto funcionário do Departamento de Estado.
Um funcionário do Departamento de Justiça acrescentou, por sua vez, que a medida representava uma "mensagem" a outros diplomatas chineses para que suspendam a espionagem industrial.
A tensão entre China e Estados Unidos, já alimentada por disputas comerciais e acusações mútuas sobre a origem da pandemia de COVID-19, aumentou nas últimas semanas com a imposição por parte de Pequim de uma lei de segurança nacional em Hong Kong.
Em outro ponto de conflito, os Estados Unidos acusam Pequim de violação dos direitos humanos contra a minoria uigur em Xinjiang, no noroeste da China.
- "Resposta gradual" -Aumentando a pressão, Pompeo pediu nesta quinta-feira às "nações livres" do mundo que se comprometam a triunfar sobre a ameaça do que considerou uma "nova tirania", encarnada, segundo ele, pela China comunista.
"A situação atual das relações sino-americanas não corresponde aos desejos da China, e os Estados Unidos são inteiramente responsáveis por isso", denunciou o governo chinês, pedindo a Washington para "criar as condições necessárias para que as relações bilaterais voltem à normalidade".
Mas a reação chinesa parece relativamente comedida. Nas redes sociais, nacionalistas chineses pediram ao regime comunista para fechar o consulado dos Estados Unidos em Hong Kong, consideravelmente maior e mais estratégico que o de Chengdu.
"Por enquanto, parece que a China optou por uma resposta gradual ao invés de uma reação [...] que provocaria uma resposta americana", comentou o sinólogo Victor Shih, da Universidade da Califórnia em San Diego.
Um sinal da desconfiança no ar, o governo americano anunciou nesta sexta ter detido uma pesquisadora de nacionalidade chinesa que estava refugiada no consulado do seu país em San Francisco para evitar ser presa. Ela era acusada de ter ocultado seus vínculos com o exército chinês para obter um visto.
Por outro lado, o Departamento de Justiça informou nesta sexta que um singapurense se declarou culpado de usar sua empresa de consultoria nos Estados Unidos para coletar informação que entregava a serviços de Inteligência chineses.
A resposta de Pequim nesta sexta derrubou as bolsas chinesas: Hong Kong caiu 2,19%; Xangai, 3,9%, e Shenzhen, 5%.
A representação diplomática chinesa nos Estados Unidos abrange a embaixada em Washington e cinco consulados, incluindo o de Houston.
Os Estados Unidos, por sua vez, conta, além da embaixada em Pequim, com outros cinco consulados na China continental (Cantão, Xangai, Shenyang, Chengdu, Wuhan) e um em Hong Kong.
O de Chengdu, inaugurado em 1985, cobre o sudoeste da China, incluindo a região autônoma do Tibete.
Em 2013, a China pediu explicações aos Estados Unidos após a publicação na imprensa de um mapa, divulgado pelo ex-analista de segurança Edward Snowden, em que apareciam instalações de espionagem americanas no mundo, inclusive o consulado em Chengdu.
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