EUA deixam consulado na China, em plena tempestade diplomática
Os funcionários do consulado americano em Chengdu, na China, fizeram suas malas neste sábado (25), um dia depois de receber a ordem de Pequim, em resposta ao fechamento da missão diplomática chinesa em Houston e em meio à troca de acusações de espionagem.
A insígnia nacional do edifício, localizado nesta cidade de 16 milhões de habitantes no sudoeste da China, foi retirada, e malas e caixas de mudança saíam do prédio esta manhã.
A decisão de fechar o consulado americano em Chengdu é "uma resposta legítima e necessária às medidas não razoáveis dos Estados Unidos", reforçou o Ministério chinês das Relações Exteriores em um comunicado.
"Alguns funcionários do consulado dos Estados Unidos de Chengdu se dedicaram a atividades que vão além de suas funções, intrometendo-se nos assuntos internos da China, e têm colocado em perigo a segurança e os interesses chineses", denunciou à imprensa o porta-voz do Ministério, Wang Wenbin.
Nas últimas horas, a Casa Branca pediu a Pequim que ponha fim a seus "atos nefastos", em vez de adotar represálias, embora tenha evitado mencionar uma possível resposta ao fechamento de seu consulado na China.
"Mensagem" para Pequim
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, declarou na quinta-feira (23) que o consulado chinês em Houston era "um centro de espionagem" chinês e "de roubo de propriedade intelectual" americana.
Na terça-feira (21), o governo de Donald Trump deu 72 horas aos diplomatas chineses para que deixassem a missão em Houston, polo mundial de pesquisas médicas e biológicas.
Ao longo de toda sexta-feira (24), funcionários da missão diplomática encheram caminhões de mudança e sacolas que jogaram em contêineres de lixo, sob os olhares de policiais e gritos de reprovação de manifestantes.
À tarde, agentes americanos finalmente entraram no edifício após ter aberto a porta com ferramentas. À noite, um porta-voz do Departamento de Estado confirmou que o consulado havia sido efetivamente "fechado".
A sanção dos Estados Unidos ocorreu horas depois de ser conhecida a acusação de dois cidadãos chineses, apontados como responsáveis por ciberpirataria, em busca, especialmente, de pesquisas sobre a vacina contra a COVID-19.
Ontem, porém, funcionários americanos disseram que a medida não corresponde a um caso específico.
"Em determinado momento, você simplesmente diz, 'chega'", disse um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado.
Já um funcionário do Departamento de Justiça afirmou que a medida representa uma "mensagem" para outros diplomatas chineses, para que suspendam a espionagem industrial.
A tensão entre China e Estados Unidos, já alimentada por disputas comerciais e acusações mútuas sobre a origem da pandemia de COVID-19, aumentou nas últimas semanas com a imposição por parte de Pequim de uma lei de segurança nacional em Hong Kong.
Em outro ponto de conflito, os Estados Unidos acusam Pequim de violação dos direitos humanos contra a minoria uigur em Xinjiang, no noroeste da China.
"Resposta gradual"
Aumentando a pressão, Pompeo pediu às "nações livres" do mundo, na quinta-feira, que se comprometam a triunfar sobre a ameaça do que considerou uma "nova tirania", encarnada - segundo ele - pela China comunista.
"A situação atual das relações sino-americanas não corresponde aos desejos da China, e os Estados Unidos são inteiramente responsáveis por isso", denunciou o governo chinês, pedindo a Washington que "crie as condições necessárias para que as relações bilaterais voltem à normalidade".
A reação chinesa parece relativamente comedida. Nas redes sociais, nacionalistas chineses pediram ao regime comunista para fechar o consulado dos Estados Unidos em Hong Kong, consideravelmente maior e mais estratégico que o de Chengdu.
"Por enquanto, parece que a China optou por uma resposta gradual em vez de uma reação [...] que provocaria uma resposta americana", comentou o sinólogo Victor Shih, da Universidade da Califórnia em San Diego.
Um sinal da desconfiança no ar, o governo americano anunciou na sexta ter detido uma pesquisadora de nacionalidade chinesa que estava refugiada no consulado do seu país em San Francisco para evitar ser presa.
Ela era acusada de ter ocultado seus vínculos com o Exército chinês para obter um visto.
Também ontem, o Departamento de Justiça informou que um singapurense se declarou culpado de usar sua empresa de consultoria nos Estados Unidos para coletar informação que entregava a serviços de Inteligência chineses.
A representação diplomática chinesa nos Estados Unidos abrange a embaixada em Washington e cinco consulados, incluindo o de Houston.
Os Estados Unidos contam, por sua vez, além da embaixada em Pequim, com outros cinco consulados na China continental (Cantão, Xangai, Shenyang, Chengdu, Wuhan) e um em Hong Kong.
O de Chengdu, inaugurado em 1985, cobre o sudoeste da China, incluindo a região autônoma do Tibete.
Em 2013, a China pediu explicações aos Estados Unidos após a publicação na imprensa de um mapa, divulgado pelo ex-analista de segurança Edward Snowden, em que apareciam instalações de espionagem americanas no mundo, inclusive o consulado em Chengdu.
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