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Hashim Thaçi, ex-líder guerrilheiro kosovar, acusado de crimes de guerra

09/11/2020 09h30

Pristina, 9 Nov 2020 (AFP) - O ex-presidente kosovar, Hashim Thaçi, que comparece nesta segunda-feira à justiça internacional, acusado de crimes de guerra, é um ex-guerrilheiro transformado em grande figura política de seu país, que conquistou a independência da Sérvia em 2008.

Durante mais de uma década, Thaçi exerceu um papel protagonista no cenário político kosovar, depois de fazer seu nome como comandante emblemático da guerrilha separatista albano-kosovar (UCK), que combateu as forças sérvias durante o conflito de 1998-1999.

De grande estatura, cabelos grisalhos, elegante, Hashim Thaçi, de 52 anos, ocupou a presidência presidência do Kosovo de abril de 2016 até quinta-feira da semana passada, quando renunciou após a confirmação de seu indiciamento pelo Tribunal Internacional de Haia.

Sua popularidade alcançou o auge quando a ex-província sérvia proclamou sua independência em 2008. Ele foi o primeiro primeiro-ministro (2008-2014) do novo país e depois ministro das Relações Exteriores.

No entanto, em 2010 sua reputação sofreu um duro golpe, quando um relatório do Conselho da Europa o mencionou junto com outros funcionários kosovares em um caso de tráfico de órgãos em campos de prisão para sérvios e suspeitos de colaborar com Belgrado.

Thaçi negou com veemência as acusações vinculadas a uma etapa em que era chefe da guerrilha e sempre defendeu sua inocência.

Na quinta-feira, ao anunciar sua renúncia, disse que "em nenhuma circunstância" queria comparecer ao tribunal como o presidente da República do Kosovo".

Seus problemas judiciais já o haviam forçado a abandonar o papel de negociador-chefe nas discussões de normalização com os velhos inimigos sérvios, tanto aquelas sob mediação da União Europeia quanto as impulsionadas pelos Estados Unidos.

Em uma entrevista à AFP antes de ser presidente, Thaçi afirmou apoiar completamente o tribunal especial de Haia para julgar crimes de guerra cometidos pela guerrilha kosovar.

"Não temos nada a esconder, responderemos todas as acusações já que apoiamos plenamente a ideia de que a justiça seja feita", disse.

A guerra de independência do Kosovo, um conflito que provocou 13.000 mortes, a maioria albano-kosovares, terminou em 1999 com uma série de ataques da OTAN contra os sérvios.

- Clandestinidade -Nascido em 24 de abril de 1968 na aldeia de Brocna, na região de Drenica (centro), berço do separatismo kosovar albanês, Thaçi participou desde o início dos anos 1990 de um movimento de "resistência pacífica" contra as autoridades de Belgrado.

Convencido de que esta política impulsionada pelo "pai da nação" albano-kosovar, Ibrahim Rugova, não renderia frutos, criou junto com outros independentistas um movimento de guerrilha em meados dessa década.

Condenado à revelia por terrorismo a 22 anos de prisão por um tribunal sérvio, refugiou-se na Suíça, onde estudou história.

Em 1997, retornou ao Kosovo e, com outros líderes independentistas, fundou o UCK, que em maio de 1998 controlava um quarto do território kosovar. Nessa época, Thaçi tinha 30 anos.

Durante o conflito, sob o pseudônimo de "A serpente", na clandestinidade ele se torna o "primeiro-ministro" do "governo provisório" do Kosovo.

Em 1999 aparece no cenário político internacional na conferência de paz em Rambouillet (França) onde, com o apoio dos Estados Unidos, se afirma como negociador-chefe albanês-kosovar.

Após a guerra e a morte de Ibrahim Rugova, vencedor de todas as eleições, Thaçi se apresenta como candidato e vence as eleições de novembro de 2007.

Desde então permaneceu no poder, apesar das acusações de corrupção e de uso indevido dos recursos do Estado, apresentadas contra ele por seus adversários.

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