Ramadã chega ao fim marcado por violência em Jerusalém
Jerusalém, 13 Mai 2021 (AFP) - Na Cidade Velha de Jerusalém, a emoção é lida nos olhos das crianças, vestidas com suas mais belas camisas. Mas, neste final do Ramadã, embora o corpo peça uma festa, o espírito continua abatido pela violência dos últimos dias.
Os primeiros raios de sol estão apenas começando a surgir, quando os palestinos chegam à Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado do Islã, para as orações matinais de Eid al-Fitr.
No centro histórico de Jerusalém, os ambulantes montam suas barracas de brinquedos de plástico, enquanto os que vendem o ka'ak, um grande bagel coberto de gergelim (especialidade da cidade), tentam convencer os transeuntes.
Na Esplanada, os fiéis rezam pelo fim do Ramadã. No Portão de Damasco, na muralha que cerca a Cidade Velha, dois enormes aglomerados de balões de hélio, em forma de Mickey e Homem-Aranha, voam alto no céu.
Há apenas três dias, nesta área, a polícia israelense lançou granadas de efeito moral e água nos manifestantes, após um fim de semana de combates em Jerusalém Oriental, a parte palestina da cidade ocupada e anexada por Israel.
Em poucos dias, centenas de palestinos e várias dezenas de policiais foram feridos em confrontos que, em muitas ocasiões, tiveram como cenário a Esplanada das Mesquitas.
Desde então, a violência se deslocou para a Faixa de Gaza, contra a qual Israel está realizando bombardeios e de onde grupos armados como o Hamas, o movimento islâmico que governa aquele enclave palestino, disparam foguetes contra Israel, visando principalmente a várias localidades mistas - de judeus e árabes.
Mais de 80 palestinos perderam a vida nos bombardeios nos últimos quatro dias, segundo o Hamas, enquanto Israel anunciou a morte de sete pessoas em seu território por causa dos foguetes.
Em Jerusalém, de vez em quando, o som das granadas de efeito moral perturba um ambiente calmo que, segundo os moradores, pode enganar.
"Você vê problemas aqui, agora? Não", desabafa Jabbar, de 60 anos, apontando para a multidão de palestinos e para a polícia israelense estacionada no portão de Damasco. "Mas pode começar tudo de novo", diz.
- Linha vermelha -"Se Deus quiser, tudo ficará em ordem novamente", confidencia Fefka, moradora de Issawiya, um bairro de Jerusalém Oriental.
"A violência tem que parar, mas tudo isso não é só para os colonos", protesta.
"Jerusalém também é nossa", acrescenta, denunciando a colonização israelense no setor palestino da cidade.
Hiba e Suyud, de 26 e 21 anos, vão à Esplanada das Mesquitas todos os dias desde sexta-feira. Naquela data, eclodiram os primeiros confrontos com a polícia, em um contexto de tensões sobre a ameaça de expulsão de várias famílias palestinas de suas casas em Jerusalém Oriental, em benefício de colonos judeus.
"Ficamos em Al Aqsa de dia e de noite", comenta Suyud, referindo-se à Grande Mesquita da Esplanada. "Não queremos problemas [com a polícia], mas esta mesquita é nossa, temos que defendê-la", garante o estudante.
Na esplanada, enquanto várias crianças brincam com um palhaço, os palestinos agitam bandeiras do Hamas e penduram faixas homenageando o movimento islâmico. "Jerusalém é uma linha vermelha", diz uma delas.
Na rua Al Wad, que atravessa a Cidade Velha, vários pedestres mostram a bandeira palestina em suas camisas e outros a têm no rosto.
Muitos usam um kufiya, o lenço que se tornou um emblema da causa palestina.
"Hoje, por conta do Eid, a gente fica triste, por causa da situação, por causa da violência", lamenta Hiba, que usa um kufiya amarrado na cabeça.
A jovem cita os bombardeios em Gaza e as altercações entre judeus e árabes nas cidades israelenses. "Não podemos estar felizes com o que está acontecendo em Gaza e em outros lugares", conclui.
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