Para Joe Dittmar, sobrevivente do WTC, lembrar é uma terapia
Nova York, 29 Jul 2021 (AFP) - Quando lembra do que viveu em 11 de setembro de 2001, Joseph Dittmar vai do riso às lágrimas. Contar como conseguiu escapar do 105º andar da torre sul do World Trade Center é sua forma de sobreviver.
A história de como desceu os 105 andares, que mantém vívida na memória 20 anos depois, se assemelha a uma epopeia trágica. Este pai de quatro filhos, que participava naquele dia de uma reunião de corretores de seguros em uma sala sem janelas, deve sua sobrevivência a decisões que tomou em questão de segundos.
Quando o primeiro avião sequestrado por extremistas islâmicos se chocou contra a torre norte, os 54 participantes da reunião só viram a luz falhar. Foi só no 90º andar, após reclamarem dos chamados para evacuação, que viram por uma janela o drama na torre norte.
"Foram os piores 30 a 40 segundos da minha vida (...) Vimos móveis, papéis, gente que se jogou no vazio, coisas apavorantes, terríveis. Senti muito medo", conta.
Natural da Filadélfia, então radicado em Chicago, Dittmar não conseguia evitar um pensamento: "Cada vez que venho a esta cidade, algo acontece!"
Ele volta para as escadas, encontra com um colega, um "gigante" ex-jogador de futebol americano, Ludwig Picarro, que quis ir ao banheiro. A decisão lhe custou a vida.
No 78º andar, uma colega sugere que pegue com ela o elevador expresso para descerem mais rápido.
Mas este corretor de seguros sabe que elevadores devem ser evitados em caso de incêndio. E continua descendo as escadas. Foi "a melhor decisão da minha vida", afirma.
"Em algum momento, entre os andares 74 e 75", a caixa da escada "começa a oscilar violentamente, os corrimãos se soltam da parede, os degraus ondulam debaixo dos nossos pés como ondas em um oceano, sentimos uma parede de calor, sentimos cheiro de combustível", lembra.
Outro avião tinha acabado de se chocar contra a sua torre logo acima deles, entre os andares 77 e 82.
- "Como podemos ser tão fortes?" -Apesar do medo, ele se lembra de uma "solidariedade" incrível, como a de um homem que carregava uma mulher portadora de deficiência nas costas.
Mas as lágrimas voltam quando ele lembra dos "verdadeiros heróis" com quem cruzou nas escadas aos cerca de 50 minutos da descida, a começar pelos bombeiros e socorristas do 31º andar, que subiam para tentar salvar pessoas presas.
"Seu olhar revelava que não havia mais esperança (...) Sabiam que não voltariam", disse. "Como podemos ser tão corajosos, tão fortes?", pergunta-se.
No 15º andar, ele ouve um segurança cantar em um megafone "God Bless America", enquanto pede, com humor, que o prédio seja evacuado.
Ele cantava "muito mal", mas "tentava desarmar os ânimos das pessoas (...), como o capitão do Titanic que fazia seus músicos tocarem enquanto as pessoas embarcavam nos botes de emergência".
Ao chegar ao térreo, Dittmar e um colega atravessam o centro comercial subterrâneo do WTC e chegam à superfície.
De repente ouvem um estrondo atrás deles. É o colapso da torre sul. E ouvem os gritos de dezenas de milhares de pessoas.
Esse barulho, esses gritos, Dittmar ainda ouve "todos os dias".
- "Continuar contando" -Dittmar contou sua história centenas de vezes a estudantes pelo país.
"É a minha terapia", diz. "Soube logo que para sobreviver devia continuar contando".
Com a data "911" tatuada no pulso, um broche das torres gêmeas na gola da camisa e uma pedra que leva sempre no bolso, o 11/9 o acompanha "como uma sombra".
Dittmar, que continua trabalhando com seguros mas se mudou para Delaware, diz admirar imensamente os nova-iorquinos.
"São incrivelmente resilientes, não têm medo de nada (...) Aprendi a amá-los".
Ele, que é diabético, teve covid, mas resistiu. Com a ajuda da mulher, começou a comer melhor, a caminhar 5 km por dia e perdeu 23 quilos.
"A pandemia, um pouco como o 11 de setembro, me transformou. Disse a mim mesmo que posso melhorar".
cat/lbc/mvv
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