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Líderes empresariais são presos na Nicarágua a duas semanas das eleições

21/10/2021 21h48

Manágua, 22 Out 2021 (AFP) - Os dois principais líderes do sindicato empresarial da Nicarágua foram detidos nesta quinta-feira (21), informou a polícia, elevando para quase 40 a lista de opositores presos, a duas semanas das eleições de 7 de novembro.

O presidente e o vice-presidente do Conselho Superior da Empresa Privada (COSEP), respectivamente Michael Healy e Álvaro Vargas, estão entre os "investigados por crime de lavagem de dinheiro, bens e ativos", afirmou a Polícia Nacional em nota.

Da mesma forma, são investigados "por realizar atos que comprometem a independência, a soberania e a autodeterminação, incitam a ingerência estrangeira nos assuntos internos, solicitam intervenções militares, se organizam com financiamento de potências estrangeiras para realizar atos de terrorismo", acrescentou.

Um tribunal de justiça determinou 90 dias de prisão preventiva para ambos os empresários, enquanto eles são investigados, informou o Ministério Público.

"Essas ações que violam os direitos fundamentais estabelecidos na Constituição Política da Nicarágua devem cessar imediatamente", reagiu a COSEP no Twitter.

Com Healy e Vargas, são 39 as pessoas presas nos últimos quatro meses, incluindo sete candidatos à presidência, líderes políticos e sociais, empresários e jornalistas, acusados de crimes como traição à pátria, terrorismo e lavagem de dinheiro, entre outros.

Healy foi preso pouco depois de deixar o Ministério Público, onde foi convocado para uma entrevista que não ocorreu e que, segundo ele, seria remarcada. Jornalistas que o aguardavam do lado de fora perguntaram se ele temia ser preso, ao que ele respondeu que, "necessariamente, não". No entanto, ao entrar no veículo, foi seguido por policiais armados em duas motocicletas.

Healy detém a mais alta posição empresarial do país desde setembro de 2020, substituindo José Aguerri, que está preso desde julho sob a acusação de "conspiração para minar a soberania", de acordo com o MP.

As prisões de Healy e Vargas ocorrem um dia depois que a Organização dos Estados Americanos (OEA) exigiu a "libertação imediata" de todos os opositores presos, durante uma sessão em Washington sobre a situação política da Nicarágua.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos condenou no Twitter o que chamou de perseguição aos dois empresários, ato que classificou como incompatível com as normas internacionais. Já o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) chamou as prisões de arbitrárias e exigiu respeito à integridade dos empresários.

Grupos opositores também condenaram as prisões, que ocorreram em meio ao processo eleitoral, no qual o presidente Daniel Ortega, de 75 anos e no poder desde 2007, aspira a um quarto mandato consecutivo, sem adversários que ameacem suas pretensões. O sociólogo e economista Oscar Vargas considera que o governo não dá "oportunidade para uma saída negociada" da crise que o país enfrenta.

Os setores privados da Guatemala e de El Salvador se solidarizaram com o sindicato empresarial da Nicarágua e pediram a libertação de Michael Healy.

- Ruptura total -

Antes da eclosão da crise política - desencadeada por protestos contra a reforma social -, em 2018, empresários e governo faziam parte de uma aliança chamada "diálogo e consenso". Ortega, que se ressente do fim do acordo com o setor empresarial, manifestou recentemente que "esse tipo de entendimento entre ricos e pobres" nunca havia ocorrido na Nicarágua.

Por uma década, o setor privado apoiou reformas políticas e econômicas promovidas pelo governo Ortega, que agora o acusa de ter enriquecido e de apoiar o "terrorismo". A ruptura ocorreu em parte porque o sindicato empresarial não concordou com a reforma da previdência e retirou seu apoio ao governo em meio à repressão aos protestos de 2018, que deixou mais de 300 mortos, centenas de presos e mais de 100 mil exilados.

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