Polemista sem trajetória política entra na disputa presidencial da França
Paris, 30 Nov 2021 (AFP) - O polemista de extrema-direita Éric Zemmour anunciou nesta terça-feira (30) a candidatura à Presidência da França em 2022 para, em suas palavras, "salvar" o país de sua "decadência", em um discurso de tom apocalíptico e nostálgico.
"Eu decidi tomar nosso destino nas mãos para salvar o país do trágico destino que o espera", afirmou Zemmour em um vídeo, no qual denuncia a migração, o Islã e os "poderosos". "Por isto decidi disputar a eleição", acrescentou.
A candidatura do controverso e midiático autor de best-sellers, de 63 anos e sem trajetória política, era um 'segredo' conhecido, mas foi anunciada no momento em que seu avanço começa a estagnar nas pesquisas.
Com base em polêmicas, com suas críticas virulentas ao Islã, à imigração e ao que considera politicamente correto, Zemmour se tornou um rosto conhecido no panorama midiático desde os anos 2000, impulsionado pelo canal CNews do magnata Vincent Bolloré.
Seu domínio da imagem foi demonstrado novamente neste vídeo de quase 10 minutos, no qual traça um paralelo visual com a convocação à resistência do general Charles de Gaulle em 1940 e apela às emoções dos cidadãos.
Mesmo sem um grande partido por trás, "Z", como é chamado por seus simpatizantes, é comparado a Donald Trump. A capa de seu livro mais recente "La France n'a pas dit son dernier mot" ("A França não disse sua última palavra", em tradução livre) recorda uma publicação do polêmico ex-presidente dos Estados Unidos.
"Ele nos vendeu que era o Trump francês. É um Trump da 'Wish', a plataforma que vende coisas que não funcionam, que são falsas", disse o porta-voz do governo, Gabriel Attal, à emissora Europe 1.
O porta-voz do governo também questionou sua "capacidade para representar" a França depois foi vaiado durante uma visita no sábado a Marselha, no sul do país, um evento que terminou com uma troca de gestos obscenos com uma cidadã que passava pelo local.
Embora depois tenha classificado o gesto como "pouco elegante", este representou o culminar de uma viagem marcada por polêmicas, como quando apontou um fuzil para jornalistas e provocou a revolta dos sobreviventes dos atentados de 13 de novembro de 2015.
- "Grande substituição" -A maior preocupação dos franceses é com o poder adquisitivo, mas suas propostas se concentram na imigração, que considera responsável por uma tentativa de acabar, em sua visão, com a "identidade francesa", por meio da "grande substituição".
"Vocês se sentem estrangeiros em seu próprio país", afirma Zemmour no vídeo, no qual mistura imagens da França dos chamados "Trinta Gloriosos", os anos de crescimento econômico pós-guerra, e vídeos de violência e migrantes.
Este homem, próximo a governantes iliberais da Europa como o húngaro Viktor Orban, já propôs um referendo sobre a imigração, acabar com o reagrupamento familiar e proibir nomes estrangeiros para as crianças.
Suas propostas mais radicais provocaram indignação da classe política, mas não impediram que que os temas abordados por ele protagonizassem o debate político e alterassem o discurso de candidatos da direita e extrema-direita.
Zemmour avançou nas pesquisas, que chegaram a indicar sua presença no segundo turno na vaga da tradicional candidata da extrema-direita, Marine Le Pen. Mas ele parece ter atingido o teto: a pesquisa mais recente o mostra em terceiro, atrás do presidente Emmanuel detrás de Macron e de Le Pen.
O anúncio de sua candidatura acontece em pleno processo de escolha do aspirante do partido da direita tradicional, Os Republicanos, para a presidência em abril.
Seu primeiro comício eleitoral acontecerá no domingo na sala de espetáculos Zénith de Paris. Grupos antifascistas e de esquerda já convocaram um protesto para "calar Zemmour".
Após a confirmação de sua candidatura, este homem criado em uma modesta família judaica de origem argelina precisa agora buscar apoios políticos e econômicos, depois de perder o respaldo do financista Charles Gave.
"Os prefeitos não vão querer privar milhões de franceses de seu candidato", afirmou Zemmour em entrevista à noite ao canal TF1, garantindo que já tem "entre 250 e 300" das 500 declarações de apoio de eleitos de que precisa para se candidatar.
Segundo a legislação, os candidatos ao Palácio do Eliseu precisam recolher 500 assinaturas de prefeitos, senadores, deputados ou vereadores para poder se candidatar à Presidência francesa.
Condenado duas vezes por discursos de ódio contra árabes, negros e muçulmanos, depoimentos de mulheres compilados pelo site Mediapart também o acusam de agressão sexual, embora nenhuma denúncia formal contra ele tenha sido apresentada.
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