Ucrânia alerta para situação 'catastrófica' em Mariupol antes de nova rodada de negociações
Kiev, 28 Mar 2022 (AFP) - A Ucrânia alertou, nesta segunda-feira (28), que a cidade de Mariupol, atacada pelas tropas russas e onde morreram ao menos 5.000 pessoas, vive uma situação "catastrófica", em um momento em que os negociadores russos e ucranianos se preparam para uma nova reunião em Istambul.
"Cerca de 5.000 pessoas foram sepultadas, mas há dez dias ninguém é enterrado devido aos bombardeios contínuos", disse à AFP a assessora da Presidência ucraniana, Tetiana Lomakina.
A funcionária, agora responsável pelos corredores humanitários, também estimou que "devido à quantidade de pessoas que ainda estão sob os escombros (...) poderia haver cerca de 10.000 mortos".
Mariupol, no Mar de Azov, está sitiada pelo exército russo desde o final de fevereiro, o que obrigou milhares de moradores a viver em condições muito precárias, sem luz e água potável.
A imprensa russa afirmou, nesta segunda-feira, que o líder checheno Ramzan Kadyrov estava na cidade para apoiar suas tropas, que participam da ofensiva junto à Rússia para tomar o controle do local.
Se a cidade cair em mãos russas, as forças armadas deste país poderão conectar a Crimeia, anexada por Moscou em 2014, com as regiões separatistas pró-russas do Donbass.
Cerca de 160.000 civis continuam presos na cidade, sem a alimentação adequada, água ou medicamentos, de acordo com seu prefeito Vadim Boichenko.
O Ministério ucraniano das Relações Exteriores chamou a situação de "catastrófica". O ataque russo transformou a cidade de 450.000 habitantes em "poeira", acrescentou.
- Danos econômicos -Cerca de 20.000 ucranianos morreram desde que a Rússia iniciou sua invasão em 24 de fevereiro e 10 milhões tiveram que abandonar suas casas, segundo as autoridades.
O conflito também deixou vestígios econômicos. O governo de Kiev estimou que os prejuízos causados pela guerra chegam a mais de 500 bilhões de dólares.
"É preciso considerar que todo os dias os números mudam e, infelizmente, aumentam", disse a ministra da Economia ucraniana Yulia Svryrydenko.
No terreno, a esperança russa de destruir a Ucrânia sem resistência desapareceu.
As forças russas conseguiram realizar poucos avanços em capturar as cidades-chave, o que as levou a recorrer ao bombardeio aéreo de civis.
A procuradora-geral ucraniana Iryna Venediktova afirmou nesta segunda-feira que tem "provas" do uso por parte das tropas russas de bombas de fragmentação, proibidas por tratados internacionais, em duas regiões do sul.
Apoiados com armamento ocidental, os combatentes ucranianos resistiram e até fizeram os russos recuarem.
Isso aconteceu em Mala Rogan, uma cidade localizada a cerca de 4 quilômetros ao leste de Kharkiv, a segunda cidade da Ucrânia localizada no leste do território, informou nesta segunda-feira um jornalista da AFP no local.
"Nossas tropas liberam Mala Rogan e é muito importante porque daqui eles bombardeiam constantemente áreas residenciais da cidade", disse o prefeito de Kharkiv, Igor Terekhov, à mídia local.
As forças ucranianas também "libertaram" a cidade de Irpin, nos arredores de Kiev, informou nesta segunda-feira o ministro do Interior ucraniano, Denys Monastyrsky, em declarações para a televisão.
"As Forças Armadas estão avançando, a polícia está avançando e foram realizadas imediatamente varreduras das ruas. Portanto, a cidade foi libertada, mas continua sendo perigoso estar lá", declarou Monastyrsky.
- Paz "o quanto antes" -Muitos na Ucrânia suspeitam que a Rússia poderia usar as negociações como uma oportunidade para reunir forças e resolver graves problemas táticos e logísticos em suas forças militares.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse que a primeira rodada de negociações presenciais desde 10 de março, que provavelmente começará na terça-feira em Istambul (Turquia), deveria trazer a paz "os mais rápido possível".
A "neutralidade" da Ucrânia e o futuro status da região de Donbass, duas exigências da Rússia, podem ser abordadas nas conversações.
Zelensky afirmou que a questão da "neutralidade" está sendo examinada de maneira "cuidadosa".
"Entendemos que é impossível libertar todo o território pela força, que isto poderia significar a Terceira Guerra Mundial, isso eu entendo totalmente", afirmou Zelensky.
Mas, ao citar suas linhas vermelhas na negociação, acrescentou: "A soberania da Ucrânia e sua integridade territorial não estão em questão. Garantias efetivas de segurança para nosso Estado são obrigatórias".
Putin evita revelar detalhes sobre as metas da invasão, destacando apenas que deseja "desmilitarizar" e "desnazificar", mas não ocupar a Ucrânia.
Analistas esperam que os termos vagos permitam uma margem de manobra para que aceite um acordo, reivindique a vitória e acabe com a guerra.
A reunião de Istambul segue o encontro de 10 de março na cidade costeira de Antalya, também na Turquia, entre o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e seu colega ucraniano, Dmytro Kuleba. O evento, no entanto, não resultou em acordo de cessar-fogo.
Nesta segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou ser "importante" que os contatos presenciais sejam retomados, depois de não terem sido alcançados "progressos significativos" nas conversas anteriores.
Lavrov disse que um encontro entre Putin e Zelensky seria "contraproducente" e estaria condicionado à adoção das exigências de Moscou.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recusou-se nesta segunda-feira a retratar-se por afirmar que o presidente russo, Vladimir Putin, "não pode permanecer no poder". Biden disse que sua declaração expressou uma "indignação pessoal" e não "uma política" a favor de uma mudança de regime.
"Não me retrato por nada. Quero deixar claro que não estava nem no momento, nem agora, articulando uma mudança de política. Eu estava expressando a indignação moral que sinto, não peço desculpas por meus sentimentos pessoais", declarou aos jornalistas da Casa Branca.
Entretanto, o Kremlin continua exercendo pressão sobre as vozes críticas à invasão. Nesta segunda-feira, o jornal independente Novaya Gazeta anunciou que suspendeu sua publicação até o fim da operação militar.
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