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Nova York ucraniana enfrenta ofensiva russa

17/05/2022 11h57

Nueva York , Ucrânia, 17 Mai 2022 (AFP) - Na cidade ucraniana de Nova York, um menino de quatro anos sabe reconhecer o barulho dos mísseis russos antes que sua mãe perceba e pegue sua mão.

"Tem um chegando", diz o menino, segundos antes de a explosão sacudir esta pequena cidade no leste da Ucrânia, nomeada em homenagem à cidade americana.

Sua mãe, Valeria Kolakevich, de 28 anos, está tão exausta que nem se dá ao trabalho de se abaixar.

Depois de quase três meses de guerra, já sabe instintivamente quando os projéteis vão pousar perto, ou longe. Na noite passada, o bombardeio atingiu seu bairro e quatro casas vizinhas.

"Foi terrível", desabafou Kolakevich. "E o mais terrível é que não há nada aqui, apenas civis", afirma, no momento em que mais um disparo explode nas proximidades, do outro lado da rua íngreme.

O segundo impacto fez sua filha de 11 anos gritar e tapar os ouvidos.

A mulher pegou os filhos pelas mãos e foi embora, enquanto as explosões continuavam nos campos que, até recentemente, marcavam a fronteira de fato entre os territórios controlados pelo governo ucraniano e as áreas controladas por rebeldes pró-russos.

- "Cada vez pior" -A invasão pela Rússia, em 24 de fevereiro, marcou a reativação do conflito que os separatistas do leste travam com Kiev há oito anos e que deixou mais de 14.000 mortos.

No início da ofensiva, a Rússia priorizou a captura de Kiev e da segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, no norte. Contratempos em ambos os flancos forçaram as forças de Moscou a se concentrarem no Donbass e, há um mês, o cerco se intensifica em Nova York.

Esta cidade de cerca de 10.000 habitantes, a maioria de língua russa, tem uma história curiosa, e ninguém se lembra por que foi batizada assim pelos alemães que ali se estabeleceram em 1800.

O nome foi alterado durante a era soviética e, em 1951, a cidade passou a se chamar Novgorodske, para finalmente voltar a ser Nova York no ano passado, após uma campanha cidadã.

"Está ficando cada vez pior. Antes havia tiros aqui e ali", conta Valentina Kanebalotskaya, que teve de fugir com seus pertences para a casa da filha, que fica em uma parte um pouco mais segura da cidade.

"Mas agora estamos sendo alvejados do oeste, do leste e do sul", diz a senhora de 71 anos.

Com o Exército ucraniano concentrado nas cidades vizinhas de Severodonetsk e Lysychansk, a presença de soldados em Nova York é mínima.

Em frente a uma base militar abandonada cheia de sacos de areia, há um manequim sem cabeça que parece vigiar uma das principais ruas da cidade.

Os poucos soldados patrulham perto da praça central, várias vezes bombardeada na semana passada.

"Está vendo essa cratera? Foi feita por um caça russo", aponta um soldado que se identificou como Oleksandr. Atrás dele, as ruínas de uma fábrica e de outros prédios bombardeados.

- Perigo químico -A principal preocupação de Oleksandr é que os russos possam atacar, acidentalmente, uma fábrica próxima que produz fenol, um material usado para fazer tintas e plásticos.

"Isso é algo muito preocupante. Com um tiro, se transformaria em uma arma química", adverte o soldado de 36 anos.

Ambos os lados se acusaram de planejar ataques químicos, o que sugere, em parte, uma maneira de responsabilizar quem acidentalmente atingir um local que abriga materiais perigosos.

No momento, porém, os moradores parecem mais preocupados com problemas como falta de água e de gás, com alguns culpando os ucranianos pelos ataques de artilharia.

"Os ucranianos vêm aqui e atiram das colinas e depois vão embora. Depois, somos bombardeados", indigna-se Yelena Valeryanov, uma aposentada.

Como muitos falantes de russo, a mulher usa um sobrenome derivado do nome de seu pai para se identificar por medo de represálias das autoridades ucranianas.

Os separatistas pró-Rússia em Donetsk "nos tratam melhor", reconhece.

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