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Governo de Cuba vai comprar dólar na taxa informal para captar divisas

03/08/2022 23h29

O Banco Central de Cuba (BCC) informou que a partir desta quinta-feira os bancos e casas de câmbio começarão a comprar dólar ao preço de 120 pesos cubanos, taxa semelhante à do mercado informal, uma medida destinada a captar divisas.

"Consideramos que a taxa de 120 pesos cubanos por dólar, moeda usada como base para estabelecer a taxa de câmbio para o restante das moedas, é a taxa que consideramos que terá mais expectativa", expressou a presidente do banco, Marta Sabina Wilson, no programa da TV estatal "Mesa Redonda".

A moeda disparou no mercado informal depois que, em janeiro de 2021, Cuba implementou uma reforma financeira que fixou o dólar em 24 pesos e, quatro meses depois, suspendeu a venda de dólares à população por falta de liquidez. Desde então, a moeda americana chegou a ser negociada no mercado negro a 124 pesos. Hoje, valia 115, segundo o veículo independente El Toque, considerado ilegal em Cuba.

No momento, apenas as instituições financeiras irão adquirir a moeda americana. No futuro, a população também poderá comprar dólares. "A taxa de 120 pesos por dólar não é de equilíbrio, é apenas para a compra. Quando começarmos a vender, será definida uma taxa de câmbio equilibrada", explicou Marta Sabina.

A nova paridade será dirigida à população em geral e aos turistas, acrescentou a funcionária. Dessa forma, permanecerão em vigor duas taxas de câmbio.

O ministro da Economia, Alejandro Gil, explicou que a paridade oficial, de 24 pesos, continuará em vigor para transações internas da economia cubana. "Esse passo não tem impacto algum no funcionamento do setor empresarial. O câmbio oficial será mantido" para as empresas mistas, estatais e outras operações financeiras, afirmou.

- Caminho incompleto -

O ministro ressaltou que "há um nível de moedas que entram no país que não está sendo captado pelo sistema financeiro nacional oficial, está sendo movimentado em outro mercado, o mercado com grau de informalidade", de modo que o governo precisa "encontrar uma forma de captar essas divisas e investi-las".

Parte importante da população cubana recebe dólares enviados do exterior por parentes ou de serviços oferecidos a turistas que visitam a ilha. Frequentemente, eles são trocados no mercado informal.

Para o economista cubano Omar Everleny Pérez, essa medida das autoridades para reorientar a economia é "um caminho incompleto, que pode gerar mais problemas, uma vez que a taxa de câmbio informal irá disparar. Também haverá uma circulação monetária maior, e os preços podem aumentar um pouco mais."

Com uma crescente escassez de alimentos, remédios e combustível, Cuba enfrenta sua pior crise econômica em 30 anos, devido aos efeitos da pandemia e ao aperto do embargo econômico que os Estados Unidos aplicam contra a ilha há 60 anos. O anúncio também surge no momento em que a ilha enfrenta sérias dificuldades para gerar energia, com apagões prolongados em todo o país, que irritam a população e provocaram protestos incomuns em diferentes províncias.

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© Agence France-Presse