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Alexandre de Moraes, o adversário implacável de Bolsonaro que presidirá o TSE

15/08/2022 15h59

Na tarde do dia 7 de setembro de 2021, em cima de um palanque na Avenida Paulista, Jair Bolsonaro pegou o microfone para pronunciar, diante de uma multidão, o discurso mais inflamado de seu mandato.

"Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", ameaçou Bolsonaro diante de seus seguidores, alguns dos quais pediam prisão para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com Moraes como alvo principal.

Como ministro da suprema corte, Moraes se mostrou implacável em processos contra Bolsonaro e seus aliados, entre outras coisas pela divulgação de informações falsas.

Agora, Moraes assumirá nesta terça-feira (16) a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), instituição responsável por administrar os processos eleitorais no Brasil.

Eleito por seus pares do STF, o magistrado assumirá o comando do TSE por um mandato de dois anos. 

- Da política para o STF -

Moraes, de 53 anos, chegou ao STF em 2017, indicado pelo então presidente Michel Temer, de quem havia sido ministro da Justiça. 

Como ministro de Estado, Moraes já sonhava em ser membro do STF, segundo uma reportagem publicada pela revista Piauí em julho. Seus colegas de tribunal destacam sua boa interlocução com os políticos e o pragmatismo que lhe permite manter aberto um canal de diálogo com as Forças Armadas. 

Professor de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Moraes começou sua carreira como promotor de Justiça no Ministério Público de São Paulo, aos 23 anos.

Antes de chegar a Brasília, já era conhecido por ser linha-dura.

Como secretário de Segurança Pública de São Paulo, durante a gestão de Geraldo Alckmin, entre 2015 e 2016, foi acusado de ser implacável na repressão a protestos e atos políticos.

- Cerco a bolsonaristas -

A animosidade de Bolsonaro com Moraes não é casual.

Além de ter ordenado a remoção de conteúdos falsos nas plataformas digitais, operações de busca e apreensão e prisões contra bolsonaristas, inclusive a do deputado Daniel Silveira, condenado por promover atos antidemocráticos e depois indultado por Bolsonaro, estão em suas mãos vários processos que podem comprometer o presidente.

Entre eles, a investigação pela divulgação de informações falsas e ameaças a magistrados, assim como a suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal para proteger seus filhos, acusados de diversos crimes de corrupção. 

Desde que se tornou alvo de Bolsonaro, o ministro quase não fala com jornalistas e mantém suas decisões sob estrito sigilo, contou à AFP um funcionário com trânsito no STF.  

Além disso, transformou seu perfil no Twitter em um espaço para marcar posição sobre temas ardentes da vida brasileira. Como na quinta-feira (11), quando manifestou seu apoio ao ato em "defesa da democracia" realizado em São Paulo e em outras capitais e cidades do país, uma resposta às críticas de Bolsonaro que colocam em dúvida - sem apresentar provas - a confiabilidade das urnas eletrônicas no Brasil.

- Eleições presidenciais, o seu maior desafio? -

Bolsonaro tenta desgastar a credibilidade do sistema eleitoral, um fato sem precedentes desde a redemocratização em 1985, afirmou à AFP André César, analista da empresa Hold Assessoria Legislativa.

Os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral têm alimentado temores de que isso pode ser uma estratégia para não reconhecer uma eventual derrota para o seu principal adversário no pleito, o ex-presidente Lula, que lidera as pesquisas. 

Como presidente do TSE, Alexandre de Moraes será o encarregado de fazer frente a qualquer ofensiva contra o processo eleitoral em um momento crucial, uma tarefa que pode ser a mais desafiadora de sua carreira.

O ministro do STF "vai ter que conduzir [o TSE] com mão de ferro para não deixar que se quebre nosso sistema eleitoral", opinou César.  

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© Agence France-Presse