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Governo da Colômbia e guerrilha ELN retomarão negociações de paz em novembro

Membro do ELN (Exército de Libertação Nacional), grupo rebelde que continua em atividade na Colômbia   - 21.dez.2017 - Jhon Paz/Xinhua
Membro do ELN (Exército de Libertação Nacional), grupo rebelde que continua em atividade na Colômbia Imagem: 21.dez.2017 - Jhon Paz/Xinhua

Da AFP

04/10/2022 18h59Atualizada em 04/10/2022 19h15

A delegação da guerrilha colombiana Exército de Libertação Nacional (ELN) e o governo colombiano retomarão na primeira semana de novembro as negociações de paz suspensas em 2019 por decisão do então presidente, Iván Duque — anunciaram as partes em comunicado divulgado nesta terça-feira (4).

Anunciamos "o restabelecimento do processo de diálogo depois da primeira semana de novembro de 2022", informa a nota lida após uma reunião entre representantes das partes realizada em Caracas.

Além da retomada da "mesa de diálogo", o texto informa a decisão de "retomar o conjunto dos acordos e avanços alcançados desde a assinatura da agenda em 30 de março de 2016".

As reuniões serão em "sedes rotativas" entre os países garantidores: Venezuela, Cuba e Noruega, disse o comandante do ELN, Antonio García, durante entrevista coletiva na capital venezuelana.

"As sedes acordados eram sedes rotativas (...) vamos reiniciar sem modificar o que foi acordado", disse Garcia aos jornalistas, esclarecendo que eles ainda estão avaliando onde será o início das negociações.

O presidente colombiano, Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda e um ex-guerrilheiro, reativou os contatos com o ELN após assumir o cargo em 7 de agosto, com o objetivo de retomar as negociações interrompidas em 2019 pelo governo de Iván Duque. À época, o diálogo foi congelado após um ataque contra uma escola de formação de policiais que deixou 22 mortos, além do agressor.

Os delegados do ELN foram recebidos por quatro anos em Cuba, país de onde partiram para a Venezuela em 2 de outubro para corresponder às novas negociações de paz prometidas pelo presidente Petro. O comandante do grupo guerrilheiro destacou que o caminho para buscar a paz na Colômbia não passa apenas pelas armas, ao pedir que se ataquem "as causas do conflito armado, que são a desigualdade e falta de democracia".

O ELN é a última guerrilha colombiana reconhecida. Fundada em 1964 por sindicalistas e estudantes simpatizantes de Ernesto "Che" Guevara e da revolução cubana, a organização manteve negociações com os últimos cinco presidentes colombianos, sem sucesso.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), por sua vez, assinaram um acordo de paz em 2016 e se tornaram um partido político.

ONU pede que se aproveite 'oportunidade'

As Nações Unidas celebraram a retomada das negociações. Seu secretário-geral, António Guterres, pediu em comunicado a ambas as partes que aproveitem "ao máximo essa oportunidade, para pôr fim a um conflito letal que dura décadas e cuja resolução é fundamental para ampliar o alcance da paz".

O documento "ratifica a disposição das Nações Unidas de prestar a assistência necessária, por meio de seu Representante Especial na Colômbia, nos diálogos e na implementação de acordos". Ao mesmo tempo, expressa "profunda gratidão a Cuba, Noruega e Venezuela" e incentiva "a comunidade internacional em seu conjunto a prestar seu apoio".

Após a suspensão dos diálogos, o ELN aumentou sua força de 1.800 para 2.500 membros, segundo estimativas oficiais, tendo como principais "objetivos militares" a infraestrutura energética e as transnacionais presentes na Colômbia.

Embora Antonio García lidere o órgão conhecido como Comando Central (Coce), a organização tem uma estrutura federada com um porta-voz próprio em cada frente, o que, segundo especialistas, dificulta o avanço das negociações.

Com presença na fronteira com a Venezuela, o ELN tem menos poder de fogo do que as Farc tiveram, mas sua base social, composta por milicianos, é mais ampla e diversa, segundo pesquisadores.