Em Washington, Macron defende mais sincronia econômica com os EUA
Emmanuel Macron optou por ser "franco" com os Estados Unidos, onde nesta quarta-feira (30) lamentou as medidas econômicas "superagressivas" adotadas por Joe Biden para impulsionar a indústria americana e pediu mais coordenação econômica de ambos os lados do Atlântico diante do risco de "dividir o Ocidente".
No primeiro dia da viagem de Estado para comemorar a laços franco-americanos, o presidente francês não escondeu a preocupação durante um almoço com parlamentares.
Os subsídios maciços incluídos por Biden em uma lei econômica e social chamada de "Lei de Redução da Inflação" (IRA, na sigla em inglês) são "superagressivos para nossas empresas", reclamou o presidente francês.
"Não quero me tornar um mercado para os produtos americanos porque tenho exatamente os mesmos produtos que vocês. Tenho uma classe média que precisa trabalhar e pessoas que precisam encontrar trabalho. Talvez vocês resolvam o seu problema, mas vão piorar o meu" com esse programa de investimentos maciços, completou.
"Ponham-se no meu lugar", acrescentou Macron aos legisladores durante um almoço que deveria se concentrar na mudança climático e no qual pediu para "ser respeitado como um bom amigo".
A França vê com maus olhos o patriotismo econômico do presidente democrata, que segue o lema "Made in USA" (Fabricado nos EUA).
Mais tarde, em um discurso na embaixada francesa em Washington, Macron insistiu que o programa de investimentos e subsídios americanos para ajudar suas empresas poderia ser um ponto crítico nas relações dos EUA com a Europa.
Apesar de expressar seu apoio às metas ambientais do IRA, Macron disse que "essas são decisões que dividirão o Ocidente", dizendo aos legisladores americanos que "o que aconteceu nos últimos meses foi desafiador" para a França.
Entre outras coisas, Biden quer impulsionar o setor de veículos elétricos para promover o emprego no setor industrial, a transição energética e a concorrência tecnológica com a China.
- "Mais forte que tudo" -
O presidente francês assinalou que não "acredita" que haverá um passo atrás sobre essa lei considerada crucial pela Casa Branca, mas defendeu uma melhor sincronia entre os Estados Unidos e a Europa.
A porta-voz de Joe Biden, Karine Jean-Pierre, reiterou a posição de Washington de que esta lei cria "oportunidades significativas para os negócios europeus e para a segurança energética europeia".
"A França é um aliado vital dos Estados Unidos", afirmou a vice-presidente Kamala Harris horas antes ao dar boas-vindas a Macron na sede da Nasa.
A aliança com os Estados Unidos é "mais forte que tudo", concordou Macron diante da comunidade francesa na embaixada da França depois de visitar o Cemitério Nacional de Arlington, onde depositou uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido e colocou uma rosa branca na de Pierre Charles L'Enfant, o arquiteto francês que desenhou os planos da capital americana.
À noite, Emmanuel e Brigitte Macron se reúnem com o casal Joe e Jill Biden para um jantar íntimo, antes das cerimônias oficiais marcadas para a quinta-feira na Casa Branca.
- Queijo -
A primeira-dama detalhou nesta quarta-feira à imprensa a recepção que acontecerá sob uma grande tenda nos jardins da Casa Branca, onde já se podiam ver mesas decoradas com flores brancas, azuis e vermelhas. Os casais comerão lagosta, carne e queijos americanos.
Jill Biden insistiu nos laços pessoais entre os dois casais e afirmou ter tido uma "conexão instantânea" com Brigitte Macron, que é professora como ela.
A noite será animada por Jon Batiste, cantor e compositor de Nova Orleans, cidade que Emmanuel Macron visitará na sexta-feira. O artista também é conhecido por sua defesa dos direitos dos afro-americanos.
Os Estados Unidos esperam que esta visita vire a página da grave crise diplomática do ano passado.
Em setembro de 2021, os Estados Unidos anunciaram uma nova aliança, AUKUS, com Austrália e Reino Unido, irritando a França. Além de ser mantida à margem em uma região-chave do mundo, Paris perdeu, para os EUA, um bilionário contrato de venda de submarinos assinado com Camberra.
Além do protecionismo comercial, Macron e Biden falarão nesta quinta-feira de temas como China e Ucrânia.
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© Agence France-Presse
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