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Bianca Jagger pede ao papa e a Biden mais firmeza com presidente da Nicarágua

15/12/2022 20h37

O caminho do diálogo é inviável com "um regime que comete crimes contra a humanidade", disse, nesta quinta-feira (15), a ativista nicaraguense Bianca Jagger, perante uma comissão do Congresso americano, na qual pediu ao papa Francisco e ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mais firmeza com o governo da Nicarágua.

A ela somaram-se congressistas durante uma sessão sobre "O perigoso estado da liberdade civil na Nicarágua".

Jagger afirma ter implorado ao sumo pontífice que condene o presidente nicaraguense, Daniel Ortega, e interceda a favor do bispo Rolando Álvarez, em prisão domiciliar, acusado de conspiração e propagação de notícias falsas, mas disseram-lhe - assegurou - "que é necessário um diálogo com o país".

"Como defensora dos direitos humanos por toda a minha vida, sempre acreditei que devemos seguir um caminho de diálogo", mas quando há "possibilidades, não quando se trata de um regime que está cometendo crimes contra a humanidade, e que a cada dia aumenta a perseguição contra a Igreja e o povo" e "as torturas aos presos políticos", disse, taxativa.

Este ano, Daniel Ortega e sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, expulsaram o núncio Waldemar Sommertag, tornaram ilegal a Associação Missionárias da Caridade, da ordem da madre Teresa de Calcutá, e fecharam meios de comunicação católicos.

Depois dos protestos antigovernamentais de 2018, que Ortega relaciona a um suposto golpe de Estado frustrado maquinado pela oposição, com apoio de Washington, "o regime ditatorial" lançou "um ataque contra todas as vozes dissidentes", afirmou a ex-mulher de Mick Jagger.

Para o congressista republicano Christopher H. Smith, da Comissão de Direitos Humanos Tom Lantos, "isto é o que os psicólogos chamam de projeção: o regime de Ortega abraça a violência e a projeta em seus oponentes".

Smith também disse sentir falta de uma reação contundente do papa, que, em setembro, afirmou que "não suspenderá jamais o diálogo" com o governo de Manágua.

Francisco deu esta declaração antes de Daniel Ortega qualificar a Igreja católica de ditadura perfeita e das acusações contra Rolando Álvarez.

"Suponho que este relativo silêncio se deveu aos esforços nos bastidores para libertar o bispo Álvarez e outros, e agora que começou uma espécie de processo judicial, o papa e a Santa Sé estarão menos limitados em seus comentários e devem falar com firmeza", afirmou o congressista.

Jagger não só questionou o caminho do diálogo, como também o das sanções, a via escolhida pelo presidente Joe Biden, que incluiu a Nicarágua na lista de países que violam a liberdade religiosa, proibiu a entrada de centenas de nicaraguenses e puniu a indústria aurífera.

Ela, que durante anos criticou a imposição de sanções financeiras ao país, diz ter chegado à conclusão de que a Nicarágua se tornou "uma grande prisão, onde o povo sofre" em "um Estado terrorista", que "persegue qualquer um que se atreva a questionar o que está fazendo". 

Por isso, pede-lhes para irem além das sanções e que não se esqueçam do país, "embora seja pequeno e não tenha petróleo", porque "é muito importante do ponto de vista geopolítico", devido à presença militar russa.

- 'O povo sofre' -

Ela pediu, por exemplo, que o Congresso investigue e proíba a importação de carne procedente de regiões "onde foram ocupadas" terras indígenas.

O congressista democrata James P. McGovern concordou que "as sanções são uma ferramenta, mas não uma solução".

"Impomos sanções e isso é tudo e nada muda, o povo sofre", afirmou McGovern, defensor da aplicação da reciprocidade com Manágua, que rejeitou o novo embaixador designado por Washington em outubro.

A opinião é similar à de Eddy Acevedo, especialista do Woodrow Wilson International Center for Scholars, de Washington, que também foi convidado à sessão.

Além de expulsar o embaixador da Nicarágua nos Estados Unidos, Acevedo propõe que Washington use seu voto e influência para bloquear os empréstimos à Nicarágua, "a não ser que promovam a democracia".

Segundo ele, desde 2018 Ortega consegue empréstimos no valor de 1,2 bilhão de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Outra recomendação de Acevedo é expulsar a Nicarágua do Tratado de Livre Comércio da América Central, o CAFTA. 

Os congressistas se comprometeram a transmitir as recomendações à Casa Branca e ao Vaticano.

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© Agence France-Presse