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Azeitonas estão cada vez mais escassas na Grécia, onde já 'não há inverno'

Oliveira em Kalamata, na Grécia; produção de azeite na União Europeia deve cair quase 40% em 2023-2024 na comparação com 2021-2022 Imagem: Alkis Konstantinidis/Reuters

27/11/2023 09h59

Na península Calcídica, no nordeste da Grécia, a ausência do inverno está sendo um problema para as milhões de oliveiras da região, muitas das quais, como resultado, já não produzem nenhuma azeitona.

"O clima mudou e as árvores não conseguiram resistir. Já não temos inverno", lamenta a agricultora grega Zaharula Vassilaki na aldeia de Polygyros.

Em meados de novembro, o termômetro marcava temperaturas acima dos 15ºC nesta região.

"Neste momento, as temperaturas devem ser de 10 graus", afirma Nikos Anoixas, membro do conselho de administração da Doepel, a organização nacional interprofissional grega de azeitonas de mesa.

Vangelis Evangelinos, de 62 anos, que cultiva este item nas terras de sua família desde criança, não se lembra de condições climáticas tão adversas como as que atingiram a região este ano, nem de uma colheita tão fraca.

"As chuvas são intensas e breves, ao contrário do que é necessário para enriquecer os solos", conta ele.

Esta situação danificou milhões de árvores na região, segundo produtores e especialistas. Como resultado: muitos delas já não produzem azeitonas.

"É um problema que temos notado nos últimos cinco anos", diz Vassilaki, explicando que é necessário ao menos "de um a dois meses de frio para que a árvore descanse" e possa dar frutos posteriormente.

Gigantes deste setor na União Europeia (UE), como Itália e Espanha, enfrentam problemas similares, o que faz aumentar os preços do azeite de oliva e da azeitona, bases da alimentação na região mediterrânea.

A Espanha, maior produtora mundial de azeite, passou por um ano muito difícil em 2022 e a seca deste ano agravou o problema. Segundo estimativas do bloco, a produção deste óleo na UE deverá cair 39% em 2022-2023 em comparação com 2021-2022.

Athanassios Molassiotis, agrônomo e diretor do laboratório de arboricultura da Universidade Aristóteles de Salônica, afirma ter registrado um aumento de dois graus na temperatura durante os meses de outubro, novembro e dezembro de 2022 em relação ao ano anterior. Isto afetou os botões da oliveira, principalmente a variedade calcídica, que "necessita de temperaturas baixas no inverno", explica ele.

Segundo a câmara de comércio regional, esta localidade grega produz cerca de metade da azeitona de mesa da Grécia, com uma média anual entre 120 mil e 150 mil toneladas.

Impacto "enorme"

Mais de 150 empresas da região trabalham na transformação e na comercialização das olivas e mais de 90% dos produtos são exportados para todo o mundo.

"Tenho medo de que a situação piore", lamenta o presidente da Câmara de Comércio, Yannis Kufidis.

De acordo com ele, o impacto econômico nos produtores já é "enorme", com perdas de cerca de 200 milhões de euros (R$ 1,67 bilhão) de faturamento apenas na Calcídica.

Na unidade local de processamento de azeitonas, que também gere carregamentos de todo o país, a administração afirma que a produção caiu pelo menos 70%.

Segundo um estudo sobre alterações climáticas realizado pela Universidade Aristóteles, a temperatura média na região deverá aumentar, na melhor das hipóteses, entre 1,5 e 2 graus nos próximos anos.

Para os produtores, a esperança está na possível criação de uma variedade de azeitona que necessite menos tempo de inverno, um projeto "muito difícil", segundo Kufidis, que já está sendo trabalhado pela câmara regional juntamente com a universidade.

"Não podemos ficar de braços cruzados", completou ele.

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