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Quase 20 mil bebês nasceram em meio ao 'inferno' da guerra em Gaza, indica ONU

Mulher seca bebê em um acampamento para palestinos que precisaram deixar suas casas por causa de bombardeios Imagem: 28.jan.2024-AFP

19/01/2024 11h47

A Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou, nesta sexta-feira (19), o nascimento de milhares de bebês em condições "inconcebíveis" em Gaza desde o começo da guerra, há mais de três meses.

Segundo a agência da ONU para a infância, Unicef, quase 20.000 bebês nasceram desde 7 de outubro, data que marca o início do conflito. Isso "significa que um bebê nasce a cada 10 minutos nesta horrível guerra", disse a porta-voz, Tess Ingram.

"Virar mãe deveria ser um momento de celebração. Em Gaza, é uma nova criança nascendo no inferno", afirmou a agência aos jornalistas em Genebra, por videoconferência de Omã, após uma recente visita à Faixa de Gaza.

"Ver recém-nascidos sofrendo, enquanto algumas mães sangram, deveria tirar nosso sono", acrescentou.

O sangrento ataque do movimento islamista Hamas em 7 de outubro deixou cerca de 1.140 mortos em Israel, a maioria civis, indicou um balanço da AFP baseado em números oficiais.

Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e respondeu com uma ofensiva aérea e terrestre, que matou pelo menos 24.762 palestinos em Gaza - 70% mulheres, crianças e adolescentes, de acordo o Ministério de Saúde do Hamas.

Ingram descreveu encontros "desoladores" com mulheres presas no caos, como Mashael, que estava grávida quando sua casa foi atingida por um bombardeio. Seu marido ficou soterrado nos escombros por dias e seu bebê parou de se mexer.

"Ela diz que agora, um mês depois, tem certeza de que o bebê está morto, (mas) continua aguardando atendimento médico", explicou Ingram. Mashael disse à ela que é melhor "um bebê não nascer neste pesadelo".

A mulher também contou a história de uma enfermeira chamada Webda, que disse ter feito cesarianas de emergência em seis mulheres mortas nas últimas oito semanas.

"As mães enfrentam desafios inimagináveis para acessar atendimento médico, nutrição e proteção adequados antes, durante e após o parto", denunciou Ingram.

"A situação das grávidas e dos recém-nascidos na Faixa de Gaza é inconcebível e exige ações mais intensas e imediatas", acrescentou. A porta-voz observou que o hospital de Rafah, nos Emirados Árabes Unidos, agora atende a grande maioria das grávidas de Gaza.

"A equipe, em condições saturadas e com recursos limitados, é obrigada a dar alta às mães três horas após uma cesariana".

"Essas condições colocam as mães em risco de abortos, natimortos, partos prematuros, mortalidade materna e trauma emocional", explicou.

Ela também denunciou que mulheres grávidas, lactantes e crianças vivem em "condições desumanas, até mesmo em abrigos improvisados, com nutrição deficiente e água insalubre".

"Isso coloca cerca de 135.000 crianças menores de dois anos em risco de desnutrição grave", declarou.

"A humanidade não pode permitir que esta versão distorcida da normalidade persista por mais tempo. Mães e recém-nascidos precisam de um cessar-fogo humanitário", esclareceu Ingram.

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