Governo da Autoridade Palestina renuncia e aumenta pressão sobre Abbas em plena guerra em Gaza

O governo da Autoridade Palestina, que administra parcialmente a Cisjordânia ocupada, apresentou sua renúncia nesta segunda-feira (26) ao presidente Mahmoud Abbas, pressionado a reformar a liderança política palestina para o "pós-guerra" em Gaza.

"Apresentei a demissão do governo ao presidente em 20 de fevereiro e hoje a submeti por escrito", declarou em Ramallah Mohammed Shtayyeh, primeiro-ministro palestino desde a primavera de 2019.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, aceitou a renúncia. 

"O presidente [Abbas] publicou um decreto aceitando esta renúncia e pediu a Mohammed Shtayyeh e ao seu governo que permaneçam no cargo temporariamente até a formação de um novo governo", disse em comunicado a Presidência da Autoridade Palestina.

Nos últimos meses, muitos palestinos têm criticado Mahmoud Abbas, de 88 anos e eleito pela última vez em 2005, por sua "impotência" frente à ofensiva israelense na Faixa de Gaza.

A guerra começou após um ataque sem precedentes do Hamas em território israelense, quando 1.160 pessoas, a maioria civis, foram assassinadas, segundo um balanço da AFP baseado em informações divulgadas pelas autoridades israelenses.

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre em Gaza que deixou 29.692 mortos, principalmente civis, segundo o Ministério da Saúde do movimento islamista.

"A próxima etapa exige novas medidas governamentais e políticas que levem em consideração a nova realidade na Faixa de Gaza [...] e a necessidade urgente de um consenso interpalestino" e a criação de um Estado palestino que tenha autoridade na Cisjordânia e Gaza, afirmou Shtayyeh.

Desde os confrontos de junho de 2007, a liderança palestina está dividida entre a Autoridade Palestina de Abbas, com um poder limitado na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967, e o Hamas, que governa a Faixa de Gaza.

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- Questões pendentes - 

Para o analista palestino Ghassan Khatib, a demissão do governo não constitui apenas um desafio para Abbas, mas também mostra que a Autoridade Palestina quer empreender reformas com vistas ao pós-guerra em Gaza.

Países árabes como Catar, potências ocidentais e opositores a Mahmoud Abbas defendem uma Autoridade Palestina reformada que, no futuro, governe na Cisjordânia e Gaza no marco de um Estado palestino independente.

Com a demissão do Executivo de Shtayyeh, "Mahmoud Abbas quer mostrar [...] que ele também está disposto a avançar por essa via", destacou Khatib, precisando que a nova liderança palestina incluiria elementos da Autoridade Palestina e do Hamas. 

Um acordo entre Abbas e Hamas "seria algo significativo, pois os dois lados têm tentado se aproximar muitas vezes, sem sucesso", afirmou Khatib à AFP.

"Porém, há grandes possibilidades de um fracasso total porque há muitas questões pendentes, por exemplo, a composição desse governo de tecnocratas e até onde alcançam as responsabilidades do Hamas em Gaza", acrescente.

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- "Voltar para casa" -

Para Khalil Shikaki, diretor do Centro Palestino de Política e Pequisa (PCPSR, na sigla em inglês), um instituto independente em Ramallah, a demissão do governo obedeceria a uma estratégia de Abbas para convencer de que quer reformar a Autoridade Palestina.

"Abbas quer mostrar ao mundo que está disposto a fazer mudanças [...] mas a única e verdadeira reforma seria se voltasse para casa", destacou Shikaki. Segundo ele, o próximo governo "será obrigado a ser leal" ao presidente palestino, pois este governa "como 'one-man show'".

Desde 7 de outubro, "Abbas não tem protegido sua população na Cisjordânia ocupada e não moveu nenhum dedo sequer por Gaza. E agora, quer estar presente 'de um dia para o outro', mas não fez nada desde que a guerra começou", alegou Shikaki. 

No entanto, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeita a possibilidade de um Estado palestino e não considera que a Autoridade Palestina ou o Hamas tenham algum papel político em Gaza depois da guerra.

Ao contrario, apresentou um plano que prevê que Israel se encarregue do "controle da segurança" nesse território quando o conflito acabar.

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© Agence France-Presse

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