Israel admite 'erro grave' em bombardeio que matou voluntários em Gaza

Israel assumiu na terça-feira (2) a responsabilidade por um bombardeio ocorrido na segunda=feira que matou sete trabalhadores humanitários que distribuíam ajuda alimentar na sitiada Faixa de Gaza, e admitiu "um erro grave", que prometeu investigar.

A organização World Central Kitchen (WCK) do chef hispano-americano José Andrés, para a qual trabalhavam as vítimas do bombardeio, anunciou a suspensão das suas ações no território palestino.

"Infelizmente, ocorreu ontem um incidente trágico, nossas forças atingiram de forma não intencional pessoas inocentes na Faixa de Gaza", declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. 

"São coisas que acontecem em uma guerra. Estamos em contato com os governos e faremos todo o possível para que isso não aconteça novamente", acrescentou, referindo-se ao bombardeio em Deir al Balah, no centro de Gaza. 

O comandante das Forças de Defesa israelenses, general Herzi Halevi, reconheceu, por sua vez, que se tratou de "um erro grave": "Foi um erro que aconteceu após uma identificação errônea durante a noite, durante uma guerra, em condições muito complexas. Isso não deveria ter acontecido."

O presidente de Israel, Isaac Herzog, conversou com o fundador da WCK, a quem "expressou sua própria tristeza e suas sinceras desculpas pela morte trágica da equipe da WCK", informou a Presidência israelense em um comunicado.

A WCK divulgou as identidades dos sete trabalhadores, considerados heróis pela ONG. As vítimas do bombardeio foram o palestino Saifeddine Issam Ayad Abutaha, de 25 anos; a australiana Lalzawmi (Zomi) Frankcom, 43; o polonês Damian Sobol, 35; o americano-canadense Jacob Flickinger, 33; e os britânicos John Chapman, 57, James (Jim) Henderson, 33, e James Kirby, 47.

Imagens da AFP mostram o corpo de uma das vítimas, que vestia uma camisa preta com o logotipo da ONG; outra imagem mostra um veículo da mesma entidade com o teto perfurado.

- 'Completamente inaceitável' -

A morte dos trabalhadores provocou duras reações internacionais, além de pedidos de investigação e garantias de que os responsáveis serão obrigados a prestar contas.

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O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse à Assembleia Geral que 196 trabalhadores humanitários morreram na guerra em Gaza.

Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, exigiram uma investigação "rápida e imparcial" sobre o ocorrido, disse o secretário de Estado, Antony Blinken. 

A Casa Branca afirmou estar "indignada" e indicou que transmitirá "uma mensagem clara a Israel de que os voluntários devem ser protegidos". 

O governo britânico convocou o embaixador israelense para expressar sua "condenação inequívoca" pelo ocorrido. Na Polônia, o vice-ministro das Relações Exteriores, Andrzej Szejna, disse que Israel deveria "indenizar" as famílias das vítimas. 

A Faixa de Gaza, confrontado com uma ofensiva aérea e terrestre e com um rigoroso bloqueio israelense, vive uma grave situação humanitária, com seus 2,4 milhões de habitantes em risco de fome, segundo a ONU. 

A guerra eclodiu em 7 de outubro, quando milicianos islamistas procedentes de Gaza mataram 1.160 pessoas, a maioria delas civis, no sul de Israel, segundo uma contagem baseada em dados israelenses. 

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Os comandos islamistas também fizeram cerca de 250 reféns. Aproximadamente 130 permanecem em Gaza, dos quais 34 morreram, segundo Israel. 

Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva para "aniquilar" o Hamas, que até agora causou 32.916 mortes, a grande maioria delas civis, segundo o último balanço do Ministério da Saúde do governo do grupo islamista em Gaza.

O ministério informou nesta quarta-feira que 60 pessoas morreram durante a noite nos bombardeios israelenses em Gaza.

- Conflito regional -

O conflito também alimenta a tensão regional. O Irã alertou Israel e os Estados Unidos nesta terça-feira que responderá ao ataque que matou 13 pessoas no dia anterior, incluindo sete membros de sua Guarda Revolucionária na Síria.

Na Faixa de Gaza, Israel anunciou na segunda-feira a retirada de suas tropas do hospital Al Shifa, após uma operação de duas semanas em que afirma ter matado cerca de 200 combatentes. 

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Um porta-voz da agência de defesa civil de Gaza relatou 300 mortes na operação israelense. 

"Os tanques passaram por cima dos corpos", disse uma testemunha, que preferiu não se identificar.

As negociações mediadas por Catar, Egito e Estados Unidos para um cessar-fogo não tiveram sucesso. Os dois lados acusam-se mutuamente pelo impasse.

Uma autoridade do Hamas lançou dúvidas sobre a possibilidade de conseguir avanços devido às grandes diferenças entre os dois lados. 

O objetivo de um cessar-fogo é permitir a libertação de reféns israelenses e a chegada de mais ajuda humanitária para Gaza.

Também busca evitar um ataque terrestre de Israel à cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, onde estão aglomeradas 1,5 milhão de pessoas, a grande maioria deslocadas pela guerra. 

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O conflito causou danos estimados em cerca de US$ 18,5 bilhões (R$ 93,6 bilhões) na infraestrutura do enclave, equivalente a 97% do Produto Interno Bruto (PIB) combinado dos territórios palestinos ocupados da Cisjordânia e Gaza em 2022, de acordo com um estudo conjunto do Banco Mundial, das Nações Unidas (ONU) e da União Europeia (UE).

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© Agence France-Presse

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