Europa quer mostrar uma frente unida diante do retorno de Trump
Líderes europeus iniciaram, nesta quinta-feira (7), uma reunião em Budapeste com uma agenda formalmente centrada na economia e migração, mas marcada pela necessidade de demonstrar uma frente unida diante de Donald Trump, após a vitória do republicano nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Um total de 47 dirigentes europeus participam da V Reunião de Cúpula da Comunidade Política Europeia (CPE), que reúne os 27 membros da União Europeia (UE) e 20 convidados. Na sexta-feira (8) está prevista uma reunião de cúpula da UE também na capital húngara.
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"A situação na Europa é difícil, complicada e perigosa", disse, na abertura do encontro, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban.
O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou que o continente europeu vive um momento "decisivo".
A CPE programou debates em mesas temáticas sobre migração e segurança econômica, mas o resultado da eleição americana é claramente o assunto mais importante.
Além disso, na quarta-feira aconteceu o colapso da aliança de governo na Alemanha, o que abre outra dúvida política para o bloco de países europeus.
Diante da gravidade da crise, o chefe de Governo alemão, Olaf Scholz, pretende chegar a Budapeste apenas na quinta-feira à tarde, após o encerramento da reunião da CPE.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse ao chegar à reunião que confia nas "instituições democráticas alemãs".
"Precisamos de um governo forte e unido na Alemanha, precisamos de uma Alemanha poderosa dentro da UE", afirmou o primeiro-ministro da Finlândia, Petteri Orpo.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, recordou que "nas democracias temos eleições e construção de governos".
Macron - que ainda tenta se recuperar após a dura derrota sofrida nas recentes eleições legislativas - comentou que era uma oportunidade para recuperar a defesa da autonomia do bloco.
O momento, disse, impõe "atuar, defender nossos interesses nacionais e europeus, acreditar em nossa soberania, em uma autonomia estratégica".
- Momento de despertar -
O primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, comentou que "chegou o momento de nos despertar de nossa inocência geopolítica".
"Devemos ser realistas. Não podemos manter uma parceria transatlântica em uma posição de fragilidade", comentou.
A percepção generalizada, baseada nas declarações de Trump durante a campanha, é que o continente europeu deve mostrar-se unido e estar preparado para dificuldades na área comercial.
Na campanha eleitoral, Trump disse que a UE era uma "mini China" que abusa da parceria comercial com os Estados Unidos em busca de superávit comercial.
Ele indicou que cogita a ideia de adotar tarifas de entre 10% e 20% para todos os produtos que entrem nos Estados Unidos, um cenário que preocupa muitos líderes europeus.
"Trabalharemos com boa vontade com o novo governo de Trump", disse Von der Leyen nesta quinta-feira.
"Tenho certa experiência trabalhando com o presidente Trump durante seu primeiro mandato (...) acredito que é muito importante que analisemos juntos quais são nossos interesses compartilhados", disse.
- A questão da Ucrânia -
Se a eleição de Trump gera dúvidas na Europa sobre o futuro das relações comerciais e o papel da Otan, a questão é particularmente sensível em relação à Ucrânia.
Trump já questionou a ajuda americana à Ucrânia, em uma postura que gerou inquietações evidentes nas capitais europeias.
Ao receber em sua capital a reunião da CPE e o encontro de cúpula da UE, Orban fica na posição de interlocutor necessário entre as capitais europeias e Trump.
Ele também não esconde as boas relações com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o que significa que o polêmico premiê húngaro assume um papel central.
Para o finlandês Orpo, o bloco europeu deve enviar uma "mensagem clara aos Estados Unidos e ao novo governo de que apoiaremos a Ucrânia pelo tempo que for necessário. Deve ser uma mensagem clara e forte".
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, participa na reunião da CPE, mas não fez declarações à imprensa.
O presidente de Governo da Espanha, Pedro Sánchez, não participa da CPE nem estará na cúpula de sexta-feira, devido à catástrofe pelas inundações em Valência.
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