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G20 no Brasil, uma prova de fogo para a diplomacia de Lula

17/11/2024 09h23

A cúpula do G20, que começa na segunda-feira (18), no Rio de Janeiro, será uma prova de fogo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrar o Brasil como um grande ator global, apesar de uma diplomacia com luzes e sombras. 

Dois anos depois de anunciar ao mundo que "o Brasil voltou" após o isolamento sob o governo do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, Lula se orgulhará de ser o anfitrião deste grande evento, ao qual se juntará em 2025 a COP30 sobre mudança climática e a cúpula do Brics.

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O presidente, de 79 anos, pedirá aos líderes das maiores economias do mundo que se comprometam com uma aliança contra a fome e promovam um imposto aos super-ricos, dois projetos emblemáticos da Presidência brasileira do G20, que conquistaram inúmeros apoios durante as negociações anteriores. 

Ele também os incentivará a fazer mais contra a mudança climática, em um momento em que o Brasil registra progressos e enquanto a COP29 sobre o clima ocorre em Baku, no Azerbaijão.

- Clima, saldo positivo -

O meio ambiente "foi a agenda em que o governo Lula mais avançou", disse à AFP Roberto Goulart Menezes, coordenador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília (UnB).

Lula busca se estabelecer como líder mundial na luta ambiental e pode se orgulhar de que a Amazônia brasileira registrou o menor desmatamento em 12 meses nos últimos nove anos, apesar dos incêndios e de uma seca recorde, ligados ao aquecimento. 

O Brasil também aumentou sua meta de redução de emissões de carbono e propôs mecanismos financeiros inovadores para proteger as florestas do planeta. 

A eventual saída de Washington do Acordo de Paris sobre o clima após o retorno de Donald Trump à Casa Branca abre a porta para reforçar da liderança do Brasil nesta frente.

- Pontes -

Lula tem tentado restabelecer sua imagem de diplomata carismático e hiperativo, focado no Sul global, o que fez com que Barack Obama o chamasse de "o político mais popular da Terra" em seus dois primeiros mandatos (2003-2010). 

Depois de tomar posse, em janeiro de 2023, o presidente dedicou-se a "reconstruir pontes" após "os problemas deixados pelo governo anterior em política externa", explicou à AFP o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. 

Agora "o Brasil voltou a ocupar seu papel tradicional, de parceiro confiável da comunidade internacional e construtor de consensos" (...) "com todos os atores e blocos relevantes do mundo", destaca.

Lula "representa os interesses dos mercados emergentes, mas também tenta construir pontes", disse uma fonte do governo alemão antes do G20.

- "Alguns erros" -

"É difícil negar que 'o Brasil voltou'", diz Michael Shifter, do think tank Diálogo Interamericano. No entanto, "ele cometeu alguns erros", observa o analista à AFP. 

O esquerdista foi muito criticado por ter declarado que Rússia e Ucrânia compartilhavam a responsabilidade pela guerra, o que o levou a "fazer o controle dos danos" e condenar a invasão russa, acrescenta. 

Ao contrário da maioria dos países ocidentais, fortes aliados de Kiev, o Brasil optou por promover, com a China, uma proposta de paz que não teve resposta até agora, ao mesmo tempo que mantém contatos com o presidente russo, Vladimir Putin. 

Segundo o ex-diplomata e professor Paulo de Almeida, o "antiamericanismo" de Lula explica sua posição nesse conflito, assim como em relação a Israel. 

O presidente brasileiro classifica insistentemente a campanha militar israelense como um "genocídio". Os confrontos entre os dois países levaram à retirada mútua de representantes.

- "Oportunidade perdida" -

A Venezuela é outra frente incômoda para Lula, que não reconhece a reeleição de Nicolás Maduro nem apoia as denúncias de fraude da oposição nas eleições de julho. 

O brasileiro tentou uma mediação que não deu frutos e acabou o afastando da posição da maioria dos países da região e do Ocidente, ao mesmo tempo que provocou tensões na relação com Caracas.

Para Shifter, o presidente "demonstrou-se relutante em empreender um esforço diplomático sério para combater a fraude flagrante e a repressão crescente de Maduro". 

A Venezuela tem sido "uma oportunidade perdida para Lula", avalia o especialista, embora recentemente ele tenha endurecido sua posição a ponto de vetar a entrada de Caracas no Brics. 

Sobre essas questões delicadas, o ministro Mauro Vieira afirma que "nem o Brasil nem o presidente Lula prometeram fazer milagres e resolver problemas tão complexos de forma voluntária ou mágica".

rsr-ll/app/mel/aa/fp

© Agence France-Presse

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