Milei anuncia intenção de estimular energia nuclear na Argentina
O presidente da Argentina, Javier Milei, prometeu na sexta-feira instalar reatores nucleares para abastecer servidores de Inteligência Artificial (IA), um anúncio considerado "contraditório" por especialistas do setor.
"A energia nuclear é a única fonte suficientemente eficiente, abundante e rapidamente escalável para enfrentar o desenvolvimento de nossa civilização", afirmou o chefe de Estado.
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Com a geração atual de energia "não vai ser suficiente para abastecer esta nova demanda (de IA), e por isso estamos convencidos de que haverá um ressurgimento da energia nuclear no mundo inteiro", disse Milei em um vídeo acompanhado por seu assessor Demian Reidel e pelo diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi.
Reidel, responsável por coordenar a iniciativa, disse que o primeiro passo será "a construção de um reator SMR (reator modular pequeno) no prédio de (a usina nuclear) Atucha", embora este tipo de tecnologia ainda esteja em fase de desenvolvimento.
Segundo a AIEA, a Rússia inaugurou em 2020 a primeira central nuclear que funciona com dois SMR. Vários projetos em desenvolvimento na Argentina, Canadá, China, Coreia do Sul e Estados Unidos aguardam uma licença para a instalação da tecnologia.
Os SMR são reatores de menor porte e potência que os tradicionais, mas com maior flexibilidade e mobilidade.
A Argentina já possui três centrais nucleares: Atucha I, Atucha II e Embalse. Segundo dados oficiais, em julho 9% da energia consumida no país era nuclear.
Grossi considerou o anúncio "promissor" e destacou que a energia nuclear "é uma ferramenta que a Argentina tem utilizado nos últimos 70 anos com sucesso".
A Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA) trabalha há duas décadas no desenvolvimento do reator modular CAREM.
A ex-presidente da CNEA Adriana Serquis (2021-2024) considera que existe uma "tremenda contradição" no anúncio e criticou Milei por "negar ou ignorar que já existe um projeto de SMR muito próximo de ser finalizado chamado CAREM, reconhecido nas análises internacionais como um dos mais avançados, com previsão de início de operação em 2028".
O ex-secretário de Planejamento e Políticas do Ministério da Ciência Diego Hurtado (2019-2023) afirmou esta semana que, desde a posse de Milei, "a construção do CAREM foi desacelerada até sua virtual paralisação".
Como parte de seu plano "motosserra" para conseguir superávit fiscal, Milei eliminou mais de 30.000 postos de trabalho no setor público, reduziu o número de ministérios e o tamanho do Estado em geral, assim como o orçamento destinado à ciência e tecnologia.
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