'Ainda estamos aqui', diz Lula no aniversário do ataque às sedes dos Três Poderes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu, nesta quarta-feira (8), uma defesa "intransigente" da democracia, dois anos após o ataque às sedes do poder em Brasília, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro é investigado por tentativa de golpe de Estado.

"Estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 de janeiro de 2023", disse Lula em uma cerimônia no Palácio do Planalto.

"Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: ainda estamos aqui", declarou.

O presidente fazia referência ao filme "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, que conta a história da família do ex-deputado Rubens Paiva após seu desaparecimento sob a ditadura militar (1964-1985). A obra rendeu à protagonista Fernanda Torres um Globo de Ouro de melhor atriz no último domingo.

"Seremos intransigentes na defesa da democracia", declarou Lula.

A cerimônia marcou a entrega de 21 obras restauradas após a devastação causada por apoiadores de Bolsonaro (2019-2022) que invadiram as sedes do Congresso e da Suprema Corte.

Entre elas, está o quadro "As mulatas" (1962), de Emiliano Di Cavalcanti, um dos mestres do modernismo brasileiro, que foi perfurado, em uma das imagens inesquecíveis da invasão, gravadas pelas câmeras de vigilância.

Também foi reintegrado ao acervo presidencial um relógio do século XVII feito por Balthazar Martinot, relojoeiro do rei da França Luis XIV, após ser reparado na Suíça.

- "Algo inimaginável" -

A cerimônia foi a primeira aparição de destaque do presidente, de 79 anos, depois de ser operado de urgência em 10 de dezembro por uma hemorragia intracraniana. Após a convalescênça, despachou da residência presidencial até esta segunda-feira, quando voltou ao Palácio do governo.

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O edifício foi cercado por barras de segurança e um helicóptero sobrevoava os arredores da Praça dos Três Poderes, epicentro político de Brasília, onde a presença policial foi reforçada e o trânsito restrito.

Para Shirley Altoe, professora residente em Brasília, presente na cerimônia, a invasão das sedes foi uma "aberração", "algo inimaginável".

No dia 8 de janeiro de 2023, milhares de apoiadores de Bolsonaro atacaram as sedes do poder, insatisfeitos com a vitória de Lula meses antes. Centenas deles subiram pela rampa do Planalto.

Após o discurso, Lula desceu por essa mesma rampa junto com a primeira-dama, Rosangela 'Janja' da Silva, e outras autoridades. Eles formaram um círculo de mãos dadas ao redor da palavra "Democracia", escrita com flores no chão, em um gesto simbólico chamado de "abraço à democracia".

- Centenas de condenados -

Dos milhares de detidos pelos atos, 371 foram condenados, segundo dados oficiais publicados na terça-feira, dos quais 179 receberam penas de 14 anos ou mais de prisão.

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Bolsonaro é alvo de uma investigação policial para determinar se ele instigou os tumultos.

Aliados do ex-presidente impulsionaram no Congresso uma anistia para os envolvidos, mas Lula celebrou nesta quarta-feira que os responsáveis "estão sendo investigados e punidos". "Ninguém foi ou será preso injustamente. Todos pagarão pelos crimes que cometeram", disse.

Além disso, o Ministério Público deve decidir se acusa o ex-presidente pelos "crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa", depois de a polícia ter determinado que ele tinha "plena consciência e participação ativa" em um frustrado plano para impedir a posse de Lula.

Por esse caso, estão presos vários de seus ex-colaboradores, incluindo seu ex-ministro da Defesa e companheiro de chapa nas eleições, Walter Braga Netto, além de outros militares.

Os alertas de segurança voltaram a ser acionados em novembro, quando um homem morreu ao se explodir em frente ao STF.

Mas, dois anos após os ataques, "o clima político geral melhorou consideravelmente" no Brasil, segundo o analista Oliver Stuenkel, "com os debates políticos nas redes sociais e a retórica dos líderes decididamente menos frenética".

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"As principais figuras políticas parecem ter percebido que os eleitores se cansaram da polarização extrema", disse no X o professor da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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© Agence France-Presse

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