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Em Brasília, Dia D de Inclusão oferece 386 vagas a pessoas com deficiência

Pedro Peduzzi - Repórter da Agência Brasil

29/09/2017 18h22

Com surdez total, Luana gostou de saber que um hospital tinha vaga para seu perfilJosé Cruz/Agência Brasil Cerca de 900 pessoas portadoras de algum tipo de deficiência devem ser atendidas nesta sexta-feira (29) pela Agência do Trabalhador, em busca de uma das 386 vagas de emprego oferecidas por 22 empresas locais, nas áreas de saúde, comércio e serviços. Esta é uma das frentes de ação do chamado Dia D de Inclusão de Pessoas com Deficiências e Reabilitados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em Brasília. O evento está sendo realizado pela terceira vez. Além de ajudar candidatos a conseguir vaga no mercado de trabalho, a equipe da agência faz também um trabalho de sensibilização dos empregadores, a fim de mostrar o potencial desses trabalhadores tão habituados a superar limites. De acordo com a coordenadora de Atendimento ao Trabalhador e ao Empregador, Patrícia Andrade, este é um dos dias mais aguardados do ano pela equipe da agência. "Levamos entre dois e três meses apenas para preparar as cerca de 100 pessoas, entre nossa equipe e voluntários, que participam do Dia D aqui na Agência do Trabalhador. Nossa expectativa é superar os 600 atendimentos feitos no ano passado e atender a cerca de 900 candidatos". Para o gerente da agência, Evandro Gabriel, o fato de poder ajudar "aqueles que passam por mais dificuldades para conseguir empregos" é o que faz do Dia D o mais importante do ano para a equipe. "Este é o grupo que mais precisa de emprego, ao mesmo tempo em que são os que têm mais dificuldades para entrar no mercado de trabalho", disse Gabriel à Agência Brasil. "Para você ter uma ideia, houve casos em que as mães deles [pessoas com deficiência] vieram até aqui na agência apenas para agradecer nossa ajuda por termos inserido seus filhos no mercado de trabalho".
  O voluntário Ilson Lopes aprendeu a linguagem de sinais e ajudou os candidatos às vagasJosé Cruz/Agência Brasil A participação de voluntários, principalmente especialistas na linguagem de sinais para surdos e mudos, é também fundamental para ajudar a direcionar os candidatos às vagas disponibilizadas pelos empregadores. Um dos voluntários é o estudante do curso de ciências naturais da Universidade de Brasília (UnB) Ilson Lopes. Graças à esposa, que é professora da Secretaria de Educação, ele e os filhos aprenderam a língua de sinais.

Integrante da Pastoral dos Surdos, Ilson diz que conhece de perto as dificuldades desse grupo. "Faço parte dessa comunidade, conheço suas dificuldades e, por isso, quero colaborar para ajudá-los a superar essas limitações", disse ele enquanto ajudava, simultaneamente, três candidatos durante o processo de triagem. Ilson mostrou-se incomodado com o fato de algumas empresas, apesar de anunciarem vagas para surdos, aceitarem apenas candidatos com surdez parcial. "Elas pedem surdos. Não surdos parciais. Isso acaba frustrando os surdos totais, além de ser mais um fator limitador para essas pessoas", disse o voluntário. Preferência Patrícia Andrade confirma a preferência de algumas empresas pelo perfil de deficiências parciais, tanto no caso de cegueira como de surdez. "Para alguns tipos de serviço, isso é até compreensível em função de alguma incompatibilidade entre as limitações e o serviço a ser prestado. No entanto, há muitos casos em que não faria a menor diferença contratar uma pessoa com surdez ou cegueira total", disse ela à Agência Brasil. Ela explicou que este é um dos motivos que fazem com que apenas de 60% a 70% das vagas sejam preenchidas. "Quando deparamos com situações desse tipo, nossa equipe faz um trabalho de sensibilização com os empregadores", acrescentou Patrícia. Cego desde os 16 anos, Leandro diz que suas limitações favorecem determinas atividades José Cruz/Agência Brasil Cego total desde os 16 anos, Leandro Moreno, hoje com 29 anos, disse que suas limitações acabam favorecendo determinados tipos de atividades. "A maior sensibilidade que tenho no tato me ajuda nas atividades de massoterapia. Sou muito bom nisso. Minha cegueira favorece também nas atividades de locução, por exemplo, em supermercados, ou mesmo de telemarketing. Sei bem do meu potencial e sei que posso aprender muito mais. Além disso, tenho muita vontade de superar meus limites e minhas barreiras". Portadora de surdez total, Luana Rocha ficou frustrada ao ser informada de que a maioria das empresas da área administrativa não ofertou vagas para pessoas com esse tipo de deficiência. Ela procura emprego para ter condições de retomar o curso de pedagogia em uma faculdade privada ou, por meio do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), tentar os cursos de artes ou psicologia para ajudar "pessoas que nem ela". Para fazer a declaração, Luana teve ajuda do voluntário Ilson. A frustração inicial de Luana deu lugar ao otimismo ao descobrir que, na área de saúde, o Hospital Santa Helena estava aceitando candidatos com surdez total. O salário oferecido é de R$ 1,1 mil. Se tudo der certo, Luana pretende retomar também as aulas de violino. Apesar de surda, Luana consegue diferenciar as notas musicais pela vibração sonora que sente no peito ao tocar o instrumento. Preconceito
  Conseguir um emprego é o primeiro desafio a ser vencido, diz a cadeirante Thais CarvalhoJosé Cruz/Agência Brasil Formada em Gestão pela Uniplan e com experiência de 11 anos trabalhando na Funcef, a cadeirante Thais Regina Carvalho afirmou que conseguir um emprego é apenas "o primeiro dos desafios a serem vencidos" pelas pessoas com deficiência. Segundo Thais, há também desafios relacionados à adaptação à atividade, à locomoção e ao preconceito de alguns colegas de trabalho. "Em primeiro, lugar há a questão da acessibilidade. Nem toda empresa oferece condições de acesso adequado para cadeirantes. Em segundo lugar, tem a questão da localização. Nem sempre são oferecidos transportes adequados para que cheguemos ao local de trabalho", disse ela. "Por fim, há a questão do preconceito de alguns chefes. Trabalhei 11 anos na Funcef, onde tive uma chefe que cotidianamente praticava assédio moral. Ela sabia que, por eu também ter problemas auditivos, era importante que falasse olhando para mim. Foram muitas as vezes em que ela, propositalmente, não fazia isso. Além disso ela não me passava tarefas, não me chamava para as reuniões, nem para encontros da equipe", acrescentou. A cadeirante lamenta o fato de algumas empresas fazerem contratações apenas para preencher as vagas destinadas a cotas. "Eu não quero trabalhar em um lugar apenas para preencher a cota destinada a deficientes. Eu quero dar minha parcela de colaboração; quero trabalhar; quero fazer um bom trabalho", afirmou Thais.