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Abertura da Copa teve ameaça de bomba, dizem oficiais de inteligência

A presidente Dilma, o presidente da Fifa e autoridades mundiais estavam na abertura - Eduardo Knapp/Folhapress
A presidente Dilma, o presidente da Fifa e autoridades mundiais estavam na abertura Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

02/09/2014 23h36

As Associações dos Oficiais de Inteligência (AOFI) e dos Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (ASBIN) afirmaram nesta terça-feira (2) que houve uma ameaça de bomba no jogo inaugural da Copa do Mundo, que ocorreu em 12 de junho no Itaquerão, em São Paulo (SP). O episódio, não revelado à época, mas informado agora pelos agentes, está em um documento a ser entregue aos três principais presidenciáveis, intitulado "Um projeto para uma inteligência brasileira moderna e cidadã", ao qual o Estado teve acesso. O objetivo é chamar a atenção dos candidatos para a importância do trabalho de contrainteligência e de contraterrorismo.

Os agentes e oficiais de inteligência afirmam que a Abin é "subdimensionada", que não recebe "a devida atenção" do atual governo, o que só ocorre "em momentos de crise". Dizem também que "a inteligência de Estado dos brasileiros é voltada para o passado". "A maior parte dos recursos da Abin são hoje empregados no monitoramento das questões internas do país, legado do Serviço Nacional de Informações (SNI), seu antecessor criado no período de ditadura civil-militar", segundo o documento.

Para eles, "cotidianamente, os interesses do povo brasileiro são ameaçados por influências externas que atuam sorrateiramente em detrimento aos objetivos nacionais". Em seguida, o documento enumera eventos que poderiam ter sido um problema para o país, mas foram evitados porque a inteligência foi informada anteriormente e fez seu trabalho de contraespionagem e contraterrorismo. Cita a ameaça de bomba que ocorreu no jogo inaugural da Copa e de outra ameaça de ação terrorista por meio de bomba em um hotel onde estava uma das delegações recebidas no Brasil durante o evento das Nações Unidas Rio+20, em junho de 2012.

Estes fatos não foram noticiados. No caso da Copa, a única informação que circulou na época foi de ameaça de bomba no Mineirão, desmentida pela Polícia Federal. Os agentes elogiam a ação conjunta da área de inteligência de todos os setores durante o Mundial. "Esses casos evidenciam a necessidade de atuação preventiva da Inteligência de Estado do Brasil, por meio da produção e difusão de conhecimentos, informações e dados que permitam ao governo se antecipar e combater situações adversas, ou impedir que os interesses brasileiros sejam lesados por agentes internacionais".

O documento de três páginas se refere também às espionagens sofridas pela presidente Dilma Rousseff e a chanceler alemã, Angela Merkel, e à ação da Argentina que, em 2007, proibiu a exportação de trigo para o Brasil, gerando baixa nos estoques brasileiros e ocasionando aumento da inflação pelo preço do pão e massas derivadas do trigo importado pelo país. Daí a defesa dos servidores da Abin de que a inteligência brasileira olhe para o exterior "a fim de desempenhar com a necessária eficiência seu papel preventivo, tal como fazem todos os serviços análogos nas economias de porte semelhante ao do Brasil".

No texto, os servidores apresentam cinco sugestões aos presidenciáveis de como a Abin deveria se direcionar e defendem que a Agência passe a exercer "efetivamente funções de Estado", além de deixar de ser vinculada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI)" que hoje consideram ter interesses apenas militares. O primeiro ponto defendido é que "a Inteligência de Estado atenderá ao Estado Brasileiro, na forma de seus diversos órgãos da Administração Pública Federal, direta ou indireta, e não exclusivamente da Presidência, de forma a trabalhar necessariamente em defesa da Cidadania e do Estado Democrático".

O segundo diz que "a Inteligência de Estado executada pela Abin terá prerrogativa de atuar na defesa do Estado Nacional nos temas de segurança internacional, notadamente na busca de fatos e evidências relacionados a ações de contraterrorismo e de contrainteligência". Eles querem também que a Abin seja "uma autarquia especial, de estrutura flexível, com modernização de sua estrutura e valorização de seu pessoal. O cargo de diretor-geral será de 2 anos, prorrogáveis por mais dois anos".