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Concentração de gases na atmosfera tem o maior nível em 800 mil anos

De São Paulo

02/11/2014 15h59

A concentração de dióxido de carbono na atmosfera atingiu o maior nível dos últimos 800 mil anos e para impedir que o aquecimento atinja 2ºC é preciso trabalhar na transição para uma economia com baixo teor de carbono, reduzindo as emissões entre 40% e 70% até 2050 e cortando-as para zero até 2100. Essas são algumas das conclusões do quinto Relatório de Avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), da Organização das Nações Unidas, conhecido hoje.

O documento confirma que a mudança climática está acontecendo em todo o mundo e o aquecimento do sistema climático é inequívoco.

Desde os anos 1950, muitas das mudanças observadas são sem precedentes ao longo de décadas a milênios.

"Nossa avaliação indica que a atmosfera e os oceanos aqueceram, a quantidade de neve e gelo diminuiu, o nível do mar aumentou e a concentração de dióxido de carbono subiu para um nível sem precedentes nos últimos 800.000 anos", afirmou Thomas Stocker, co-presidente do Grupo de Trabalho I do IPCC.

Segundo o relatório, a influência humana no sistema climático "é clara e crescente", com impactos observados em todos os continentes. Se não for controlada, a mudança climática aumentará a probabilidade de efeitos "graves, difusos e irreversíveis para as pessoas e os ecossistemas".

Contudo, há opções para a adaptação às alterações climáticas, e a implementação de atividades de mitigação rigorosas pode assegurar que os impactos das mudanças climáticas se mantenham dentro de uma faixa gerenciável.

"A transição para uma economia com baixo teor de carbono é tecnicamente viável", disse Y. Sokona, Co-Presidente do Grupo de Trabalho III do IPCC. "Mas faltam políticas e instituições apropriadas. Quanto mais esperamos para agir, maior será o custo para mitigação e adaptação às mudanças climáticas".

O relatório considera que as estimativas de custos de mitigação variam, mas o crescimento econômico não seria fortemente afetado.

O documento traz alguns cenários.

O consumo cresce entre 1,6% e 3% ao ano ao longo do século 21. Uma mitigação ambiciosa das emissões reduziria este valor ao redor de 0,06 ponto porcentual. "Comparado com o risco iminente de impactos de alterações climáticas irreversíveis, os riscos de mitigação são gerenciáveis", disse Sokona.

"Temos pouco tempo antes que a janela de oportunidade para ficarmos dentro de 2ºC de aquecimento se feche. Para manter uma boa probabilidade de ficarmos abaixo do 2ºC, dentro de custos gerenciáveis, nossas emissões deveriam baixar entre 40% a 70% globalmente entre 2010 e 2050, caindo para zero até 2100. Temos essa oportunidade, e a escolha está em nossas mãos", avaliou R. K. Pachauri, presidente do IPCC.