Depois de cobrar saída de Cardozo da Justiça, Lula o elogia na AGU
Um mês após a transferência de Cardozo para a AGU, Lula elogiou o antigo desafeto, que conseguiu uma vitória jurídica - ainda em caráter provisório - ao fazer com que o veredicto sobre sua nomeação para a Casa Civil deixe a alçada do juiz Sérgio Moro.
A expressão "o rapaz" foi usada por Lula numa conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal com o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. No diálogo, ocorrido na manhã de 1.º de março, Lula dizia que achava melhor não ir mais a Brasília naquele dia para se encontrar com a presidente Dilma Rousseff, como estava combinado, já que, na véspera, Cardozo havia saído da Justiça.
Wagner concordou ao lembrar que Dilma também se preocupara com a interpretação que seria dada ao encontro. "Depois vão dizer que ele (Lula) só veio aqui pra comemorar o bota fora (de Cardozo)", afirmou Wagner a Lula, repetindo palavras de Dilma. Três dias depois, o ex-presidente foi alvo de condução coercitiva da Polícia Federal, no rastro da Operação Aletheia.
Nomeado ministro da Casa Civil em 16 de março, Lula até hoje não conseguiu assumir o posto. Ações na Justiça questionaram a escolha, sob o argumento de que o ex-presidente, investigado pela Lava Jato, buscava entrar no ministério apenas para obter prerrogativa de foro no Supremo Tribunal Federal, escapando de Moro, considerado "parcial" pelos petistas.
Em resposta à Advocacia Geral da União, comandada por Cardozo, o ministro Teori Zavascki - relator da Lava Jato no Supremo - determinou que Moro enviasse à Corte todas as investigações sobre Lula, incluindo as conversas grampeadas.
Embora Teori não tenha anulado a liminar concedida pelo ministro do Supremo Gilmar Mendes, que suspendeu a nomeação de Lula, a expectativa é que o imbróglio sobre a posse na Casa Civil só seja resolvido pelo plenário da Corte, no início de abril.
O relator da Lava Jato no Supremo acatou a alegação da AGU, que acusou Moro de ter cometido uma ilegalidade, pondo em risco a "soberania nacional". Roberto Teixeira e Cristiano Martins, advogados de Lula, também recorreram contra o despacho de Mendes, classificado por eles como "um grande absurdo".
Foi nesse contexto que o ex-presidente disse estar muito satisfeito com a atuação de Cardozo, a quem sempre acusou de "falta de autoridade" no Ministério da Justiça, por não "controlar" a Polícia Federal. "Ele agora está no lugar certo", comentou Lula, segundo relato de deputados e senadores do PT e do PMDB.
Mesmo assim, o ex-presidente está tendo muita dificuldade na tarefa de salvar Dilma do impeachment. Impedido de despachar no Palácio do Planalto, ele não conseguiu até agora conversar com o vice Michel Temer, que comanda o PMDB. Em reunião marcada para a próxima terça-feira, o Diretório Nacional do PMDB deve aprovar o rompimento com o governo.
Lula já esteve com senadores do PMDB e agora passou a contatar deputados do partido e de outras siglas aliadas. Para barrar o impeachment na Câmara, Dilma precisa de 171 votos, mas, na contabilidade do Planalto, ela tem hoje, no máximo, o apoio de 130 deputados.
"Eu sou da opinião que o PMDB não pode apertar o gatilho do impeachment, pois terá de assumir a responsabilidade por agravar a crise", ponderou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Apesar da declaração, Renan avisou a Lula que, se a Câmara aprovar o afastamento da presidente, o Senado pouco poderá fazer para frear o processo.
Em conversas mantidas na semana passada, Lula disse a aliados que resistiu a aceitar a Casa Civil por saber que a leitura política desse episódio seria a de que ele estava atrás de salvo conduto para escapar de uma possível prisão. "Eu falei para a Dilma que era melhor eu ficar na presidência do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Não precisava ser ministro", observou Lula. "Foi a presidente que fez um apelo para que ele assumisse a Casa Civil", contou Renan.
Numa entrevista a seis jornais estrangeiros, nesta quinta-feira, Dilma afirmou que Lula - definido por ela como um "negociador talentoso" - vai participar do governo de qualquer forma. "Ou ele vem como ministro ou vem como assessor, de uma maneira ou de outra. Vamos trazê-lo para ajudar o governo. Não há como impedir", insistiu a presidente.
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