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Delator aponta R$ 1 milhão em espécie a Vaccari

O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto (à esquerda), preso na Operação Lava Jato - Paulo Lisboa - 26.mai.2015/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto (à esquerda), preso na Operação Lava Jato Imagem: Paulo Lisboa - 26.mai.2015/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo

De São Paulo

04/07/2016 08h25

O empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, afirmou em delação premiada que, em 2011, o então tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu R$ 1 milhão em espécie. Pernambuco Júnior é um dos delatores da Operação Lava Jato.

"O interesse do depoente e da Carioca em atender ao pedido de Vaccari consistia na inclusão da empresa na lista de convidadas de obras da Petrobras", disse o empresário.

Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, em 1.º de outubro de 2015, Ricardo Pernambuco Júnior afirmou que, em 2011, Vaccari foi a seu escritório e solicitou que a Carioca fizesse uma doação de R$ 1 milhão ao PT. Segundo o delator, a doação não se vinculava a nenhuma campanha eleitoral específica. O depoimento de Pernambuco Júnior foi anexado aos autos da Lava Jato na quinta-feira, dia 30.

"Quanto ao pedido de doação de R$ 1 milhão ao PT em 2011, João Vaccari Neto solicitou que a doação fosse feita em valores em espécie", relatou Pernambuco Júnior. "João Vaccari Neto não especificou a destinação que seria dada aos valores, nem o depoente perguntou nada a esse respeito; que, na ocasião, João Vaccari Neto não mencionou o nome de nenhuma outra pessoa vinculada ao PT."

O ex-tesoureiro do PT está preso desde abril de 2015. Vaccari Neto foi condenado a 15 anos e 4 meses por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa na Lava Jato. Pernambuco Júnior delatou também R$ 52 milhões em 36 parcelas ao presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre operações do FI-FGTS.

O delator declarou que disse a Vaccari que a doação seria feita em quatro pagamentos iguais de R$ 250 mil com intervalo de dois a três meses entre cada parcela. De acordo com o executivo, a primeira parcela provavelmente foi paga no início de 2011 e a última deve ter sido paga no final do mesmo ano.

Ricardo Pernambuco Júnior disse que a obtenção dos valores em espécie pela Carioca era feita de três maneiras - por meio de doleiros, superfaturamento de contratos de prestação de serviços e simulação de contratos.

Segundo o delator, as parcelas doadas ao PT foram entregues por um ex-funcionário da Carioca a um preposto de João Vaccari Neto, em São Paulo. Os repasses teriam sido feitos na filial da Carioca na capital paulista e em locais indicados pelo preposto de Vaccari.

Pernambuco Júnior contou que a empreiteira tinha interesse "na intercessão de Vaccari em favor da empresa em obras da Petrobras". "Isso era claro tanto para o depoente como para João Vaccari Neto, pois ambos tratavam desse assunto; que o depoente inclusive chegava a afirmar a Vaccari o seguinte: 'é preciso que você me ajude para eu poder ajudá-los; sem isso eu não consigo fazer doações, pois nossa empresa vive de obras'", afirmou o delator.

No depoimento, Pernambuco Júnior declarou ainda que na época havia a obra da Fábrica de Fertilizantes (Amônia) da Petrobras em Uberaba (MG). "A obra era de responsabilidade da diretoria de Gás e Energia, na época ocupada por Graça Foster, por indicação do PT; que, no entanto, quem conduzia o procedimento licitatório era a diretoria de Serviços da Petrobras, na época ocupada por Renato Duque, por indicação do PT", afirmou.

"Por isso, em 15 de abril de 2011, o depoente enviou duas correspondências, uma à Diretoria de Gás e Energia e outra à Diretoria de Serviços, solicitando a inclusão da Carioca no rol de empresas a serem convidadas para a licitação da obra em questão."

Vaccari, segundo o delator, teria dito que iria conversar com o então diretor Renato Duque para interceder em favor da Carioca. "A Carioca acabou sendo efetivamente convidada, mas o convite ocorreu cerca de quinze a vinte dias antes da licitação, o que inviabilizou a participação da empresa na licitação, pois era necessário um tempo maior para elaboração de uma proposta competitiva", disse Pernambuco Júnior.

Defesa

O criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso rechaçou com veemência a denúncia do empresário que afirma ter entregue R$ 1 milhão em dinheiro vivo para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. "Isso não procede. Vaccari jamais recebeu dinheiro em espécie", afirma D’Urso.

O advogado do ex-tesoureiro do PT assegura que "todas as vezes que alguém procurou Vaccari para fazer doações foi indicada a conta bancária oficial do Partido dos Trabalhadores para a realização dos depósitos que imediatamente eram lançados na contabilidade oficial do PT e declarados a Justiça Eleitoral". E que "nunca, jamais, Vaccari recebeu valores em espécie".