Cerveró cita Geddel e Renan em depoimento no processo contra Lula
Delator da Operação Lava Jato, o ex-executivo da estatal foi a oitava testemunha de acusação ouvida no processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Curitiba. O petista é acusado de corrupção e lavagem de R$ 3,7 milhões recebidos em forma de benesses pagas pela empreiteira OAS, no caso do apartamento tríplex, do Guarujá (SP).
Cerveró disse que ele foi indicado a diretor da Petrobras pelo ex-governador de Mato Grosso do Sul Zéca do PT, que tinha proximidade muito grande com o ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS). Ex-líder do governo Dilma Rousseff, preso em novembro de 2015 tentando comprar o silêncio de Cerveró, Delcídio virou delator da Lava Jato.
"Delcídio tinha transito muito grande, ele tinha sido do PSDB. Inclusive, quem indicou ele para a Petrobras, em 1999, foi o PMDB, foi o pessoal do Geddel, o Jader Barbalho. E esse pessoal orientou o ministro Sillas (Rondeau, Minas e Energia), que fazia parte do grupo, que me procurasse", contou Cerveró, ao relatar como entrou na Petrobras. Jader seria o principal nome do grupo.
"O Sillas me procurou e disse, olha: temos o maior apresso pelo Delcídio, me lembro da conversa, foi lá em Brasília, ele me convocou, ele era ministro. Eu conhecia o Silas, justamente pelo envolvimento com a questão termoelétrica, da Eletrobrás, o Sillas foi diretor da Eletrobrás. Mas nós já conversamos com Delcídio, ele não tem nada a opor a esse copatrocínio, só que agora você tem compromisso com o PMDB", afirmou Cerveró, ao responder perguntas do Ministério Público Federal.
Cerveró relaciona esse apoio do PMDB ao pós-mensalão, quando seu padrinho direto, Delcídio Amaral, teria perdido forças no governo. Os acertos de propina teriam sido acertados com o ex-ministro de Minas e Energia Sillas Rondeau. "Com a ocorrência do mensalão, o PMDB, na figura do ministro Sillas Rondeau, que era ministro do PMDB, que entrou em substituição a ministra Dilma, que foi para a Casa Civil, ele me chamou e disse que o PMDB do Senado, porque havia essa divisão, passaria a também me apoiar, então eu acertei com ele. Foi quando eu conheci o Renan Calheiros."
PT e PMDB
"Não houve uma mudança (de apoio político), houve uma repartição, uma divisão. E aí, por conta disso, eu tive que atender, esse compromisso é uma via de duas mãos. Eu receberia o apoio, já que o apoio do PT, especificamente o Delcídio, estava desgastado, do PMDB do Senado, que era o grupo político mais forte do País, na época, e evidentemente eu teria que atender."
O delator voltou a citar um jantar em que ele teria sido apresentado aos membros do PMDB do Senado. "Inclusive eu fui junto com o doutor Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras), meu colega de diretoria também na linha que o Paulo tinha um enfraquecimento da parte política dele, que tinha sido indicado pelo (ex-deputado José) Janene, do PP (morto em 2010). Então tanto Paulo como eu passamos a ter esse patrocínio do PMDB do Senado, e contrapartida teriam que atender os compromissos de campanha do PMDB do Senado. O que não anulou os compromissos que eu tinha com Delcídio."
Em sua delação, homologada no final de 2015, Cerveró afirmou à Procuradoria-Geral da República que pagou propina de US$ 6 milhões aos senadores Renan Calheiros e Jader Barbalho, ambos do PMDB, em 2006. Na ocasião, o ex-senador Delcídio Amaral recebeu cerca de US$ 800 mil. Cerveró disse que pagou propina em troca de apoio político para permanecer no cargo.
Segundo Cerveró, quem intermediou o pagamento desses valores foram os lobistas Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, e Jorge Luz, apontados como operadores de propinas do PMDB. "Que o declarante havia se comprometido com o PMDB, nas pessoas de Jader Barbalho e Renan Calheiros, a efetuar o repasse de US$ 6 milhões para a campanha de 2006", registrou a Procuradoria-Geral da República.
Lula
Cerveró disse não saber se Lula tinha relação com essa mudança, mas ouviu de membros do PMDB, citando nominalmente Jader Barbalho, que eles relataram ter avisado o ex-presidente.
"Lula sabia da utilização da diretoria para fazer essa distribuição de valores ao partidos?", quis saber a procuradora da República Laura Tessler, da força-tarefa da Lava Jato.
"Eu não sei dizer, eu nunca conversava com o presidente Lula, minhas reuniões foram sempre em conjunto com a diretoria, nunca tive uma conversa privada sobre esse assunto. Eu sei que ele tinha as reuniões, e pelas conversas com o Jader, na época, falavam que já tinham levado essa informação de que eu estava sendo apoiado pelo PMDB do Senado, mas não me disseram nada se havia informado o compromisso, quanto que eu teria de contribuir com isso."
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