Topo

Câmara prepara blindagem para deputados com citação na Lava Jato

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) - Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) Imagem: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

Isadora Peron e Daiene Cardoso

De Brasília

05/03/2017 11h42

Às vésperas da entrega ao STF (Supremo Tribunal Federal) dos novos pedidos de abertura de inquérito com base na delação de executivos e ex-executivos da Odebrecht, a Câmara dos Deputados se prepara para blindar os deputados que forem alvos de investigações na Operação Lava Jato.

Apesar da expectativa em relação à nova lista que deverá ser divulgada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, parlamentares dizem acreditar que, assim como ocorreu após a divulgação da primeira relação de nomes, há dois anos, apenas os casos mais graves, como o do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), devem ser analisados pelo Conselho de Ética. Até hoje, nenhum outro processo foi aberto na Casa, apesar de já haver dez deputados denunciados na Lava Jato e dois deles serem réus: Nelson Meurer (PP-PR) e Aníbal Gomes (PMDB-CE).

Nelson Meurer - Lula Marques/Folhapress - Lula Marques/Folhapress
O deputado Nelson Meurer (PP-PR), um dos réus na Lava Jato
Imagem: Lula Marques/Folhapress

Para proteger seus pares, líderes de partidos da base e da oposição defendem que será preciso um conjunto substancial de provas para que seja aberto um processo contra algum parlamentar e que os conselheiros terão que estabelecer parâmetros de como vão agir diante das novas ações no STF. Citam como exemplo a medida adotada pelo presidente Michel Temer, que definiu uma "linha de corte" e anunciou que só irá afastar ministros do governo que virarem réus.

Aníbal Gomes (PMDB-CE) - Divulgação - Divulgação
O deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), outro réu na Lava Jato
Imagem: Divulgação

"Não bastam meras citações para abrir um processo no Conselho de Ética, isso vai depender da solidez das provas apresentadas. O órgão não pode se antecipar e condenar alguém, isso é um papel da Justiça", disse o líder do DEM na Casa, Efraim Filho (PB).

Essa também é a opinião do líder do PSDB, deputado Ricardo Tripoli (SP). Para ele, apenas a abertura de inquérito no Supremo não é motivo para abrir um processo de cassação na Câmara. "Quando surge uma denúncia, aí não tem dúvida, o conselho tem que agir."

As lideranças também têm mantido suspense sobre que nomes vão indicar para fazer parte do conselho, que é formado por 21 deputados, pelos próximos dois anos. Segundo eles, apesar de a eleição para a nova composição do colegiado estar prevista para meados deste mês, o assunto ainda não está na ordem do dia.

Parlamentares da oposição, porém, especulam que os partidos implicados na Lava Jato vão escolher a dedo quem irá representá-los no colegiado. "Acho que eles estão se precavendo para ter um conselho linha-dura, que forme uma maioria não vacilante", disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).