Carlos Madeiro

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Reportagem

Até 25% da vegetação nativa do país está sujeita a degradação, diz pesquisa

De 11% a 25% da vegetação nativa do Brasil está suscetível a processo de degradação. O dado foi apresentado hoje pela rede de pesquisa MapBiomas, que lançou uma plataforma de vetores com dados de 1986 a 2021. O intervalo considera o melhor e o pior cenário possíveis.

A área suscetível vai de 603 mil km² (11% do total), o equivalente a mais que o estado de Minas Gerais (586 mil km²), a mais até 1,3 milhão de km² (25%), aproximadamente o tamanho do Pará (1,24 milhão de km²).

Os percentuais menores são observados ao considerar cenários mais restritivos, como de uma área que precisa queimar várias vezes para estar degradada.

Já os percentuais maiores são observados ao considerar cenários mais permissivos, ou seja, onde um incêndio florestal já é suficiente para deixar uma área suscetível a degradação. "Os números que reportamos refletem o intervalo entre o cenário mais restritivo e o mais permissivo", informa.

O levantamento investigou a vegetação nativa, ou seja, não inclui a degradação em áreas afetadas por ações humanas. Hoje, 64% do país está coberto por vegetação nativa.

Região queimada e desmatada na Caatinga
Região queimada e desmatada na Caatinga Imagem: Marcelino Ribeiro/Emprapa

O MapBiomas define como degradada uma área em que o ecossistema sofreu perda destrutiva de suas propriedades, funções e serviços. "Em outras palavras, são áreas fragilizadas que não funcionam tão bem quanto as áreas saudáveis", diz Dhemerson Conciani, pesquisador do Ipam e integrante da equipe Cerrado do MapBiomas.

Ele explica que o estudo traz dados inéditos por usar vetores de degradação que traçam parâmetros. "É uma abordagem inovadora que permite combinar diversos fatores ao mesmo tempo", diz.

Os vetores de degradação considerados nessa primeira versão da plataforma incluem:

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  • Tamanho e isolamento dos fragmentos de vegetação nativa
  • Áreas de borda
  • Frequência do fogo e tempo desde a última queimada
  • Idade da vegetação secundária
Última reserva de Mata Atlântica de Carapicuíba (SP) cercada por condomínios residenciais
Última reserva de Mata Atlântica de Carapicuíba (SP) cercada por condomínios residenciais Imagem: Gustavo Basso/UOL

Degradação por bioma

Mata Atlântica - De 12 milhões (36%) a 24 milhões de hectares (73%) da área de vegetação nativa restante.

Segundo o estudo, há uma alta fragmentação dos remanescentes florestais do bioma, que tem grande vulnerabilidade às pressões humanas. "Isso pode levar tanto à degradação como até ao colapso de áreas importantes para a conservação do bioma", diz Natalia Crusco, da equipe da Mata Atlântica do MapBiomas.

Pampa - Entre 1,7 milhão de hectares (19%) a 4,8 milhões de hectares (55%).

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"O Pampa é um bioma que sofre forte efeito antrópico [ação humana], com uma ocupação bastante densa e antiga. O fato de os usos antrópicos estarem distribuídos de modo relativamente homogêneo na paisagem amplia muito a exposição aos efeitos de borda. O panorama é bastante crítico", afirma Eduardo Vélez, da equipe do Pampa MapBiomas.

Caatinga - De 9 milhões de hectares (18%) a 26,7 milhões de hectares (54%).

Nos últimos 37 anos, em média, ocorreu um incremento de 1% na área de fragmentos, que indicam degradação. "Esses vetores de degradação associados a mudanças de uso da terra e às condições climáticas áridas e semiáridas podem contribuir para aumentar os limites das áreas suscetíveis à desertificação, onde são exauridas as condições naturais, causando a deterioração do solo, chegando ao colapso", ressalta Deorgia Souza, da equipe Caatinga do MapBiomas.

Cerrado - Entre 18,3 milhões de hectares (19,2%) e 43 milhões de hectares (45,3%).

O MapBiomas afirma que o bioma sofre com forte presença da agropecuária e já está bastante fragmentado. "As áreas de borda são importantes vetores na disseminação de espécies exóticas invasoras", afirma Conciani, da equipe do Cerrado.

Pantanal - De 800 mil hectares (6,8%) a 2,1 milhões de hectares (19%).

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A incidência de incêndios nos últimos cinco anos fez com que 9% das formações florestais no Pantanal, que são áreas sensíveis ao fogo, tenham sido prejudicadas, segundo a rede.

"Questões climáticas relativas a precipitação e temperatura regulam as secas e inundações. O aumento de períodos de estiagem tem dificultado a resiliência do ecossistema pantaneiro", afirma Eduardo Rosa, da equipe Pantanal.

Área degradada após fogo no Pantanal
Área degradada após fogo no Pantanal Imagem: Reprodução/DW

Amazônia - De 19 milhões de hectares (5,4%) a 34 milhões de hectares (9,8%).

"Extração madeireira, abertura de estradas e estresse hídrico por mudança climática são importantes para entender o processo de degradação da floresta amazônica", aponta Carlos Souza Jr., da equipe da Amazônia da rede.

Com o mapeamento, o MapBiomas acredita que pode ajudar gestores a tomar atitudes para frear o avanço da degradação e recuperar áreas.

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A degradação é um processo que, se revertido, permite a recuperação da área. Mas se não for interrompido, pode levar a um colapso, ou seja, o ponto a partir do qual não é mais possível recuperar as características originais
Ane Alencar, diretora de ciência do Ipam e coordenadora do MapBiomas Fogo

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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