A odontologia dos Neanderthais
Para os autores, esse e outros estudos recentes sugerem que os Neanderthais eram muito mais inteligentes do que se pensava. "Havia sulcos feitos com algum tipo de palito, além de fraturas e ranhuras nos pré-molares. De maneira geral, tudo isso indica que esse Neanderthal tinha algum problema dentário que estava tentando tratá-lo sozinho, como um humano moderno poderia fazer", afirmou um dos autores da pesquisa, o antropólogo David Frayer.
A pesquisa teve seus resultados publicados ontem no Boletim da Associação Internacional de Paleodontologia. Os cientistas analisaram quatro dentes isolados, mas que provavelmente pertenciam ao lado esquerdo da boca de um só indivíduo.
Em Krapina, na Croácia, onde os dentes foram encontrados entre 1899 e 1905, os autores do estudo já haviam feito uma série de descobertas sobre a vida Neanderthal. Uma delas foi um estudo publicado em 2015 sobre um conjunto de garras de águia com marcas de cortes e moldadas como adornos.
Na nova pesquisa, foram analisados os dentes com microscópios para documentar o desgaste oclusal - isto é, como os dentes se encaixavam na mordida -, formação de sulcos feitos com palitos, ranhuras na dentina e fraturas no esmalte.
Desconforto
Não foi possível localizar a mandíbula do indivíduo para buscar indícios de infecções nas gengivas, mas os sulcos e ranhuras nos dentes indicam que provavelmente algo estava causando irritação e desconforto para esse indivíduo.
Os cientistas verificaram que o terceiro molar e um pré-molar haviam sido empurrados para fora da posição normal. Foram achados seis sulcos nesses dentes e nos dois molares vizinhos. Segundo Frayer, as características do pré-molar e do terceiro molar estão associadas a vários tipos de manipulação dentária. "As ranhuras indicam que esse individuo estava enfiando algo na boca para alcançar o pré-molar fora de posição."
Os cientistas não conseguiram identificar o que o Neanderthal usou para produzir os sulcos nos dentes, mas é possível que tenha sido um pedaço de osso, ou um caule duro de gramínea. "Talvez não seja surpreendente que um Neanderthal tenha feito isso, mas até agora não havia sido encontrado nenhum outro espécime que combinasse todas essas intervenções ligadas a uma tentativa de tratamento", disse Frayer.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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