Irritado, Garotinho disse que precisava de R$ 5 milhões, afirma delator
"Que Garotinho entrou na sala muito irritado, ficou em pé na cabeceira da mesa e disse que seria breve e que precisava de 5 milhões de reais para a campanha e que era para cada um dos presentes dar 1 milhão de reais", relatou André Rodrigues.
"Que o declarante não entendeu porque estava ali, já que tinha ido a Brasília por umas 4 vezes, quando Garotinho era deputado, para tentar receber seus créditos junto à prefeitura de Campos, entendendo que não tinha condições financeiras de fazer nenhuma doação."
O depoimento de Rodrigues é apontado como peça importante no conjunto de provas contra os ex-governadores.
Na ocasião, Rosinha Garotinho era prefeita de Campos dos Goytacazes, norte do Rio. Garotinho era secretário municipal da gestão da mulher.
"Os gestores municipais não tinham autonomia para realizar nenhum pagamento, sem autorização de Garotinho", seguiu o empresário. "Toda vez que o declarante falava em pagamento com Garotinho, ele abria um programa em um tablete e conferia a movimentação financeira do município, que era atualizada diariamente. Ele sabia quem havia recebido algum valor, quem tinha nota a ser paga."
Segundo André Rodrigues, o então secretário de Controle do governo Rosinha, Suledíl Bernardino, costumava reter notas fiscais, antes de enviá-las à Secretaria de Fazenda, "tanto para ganhar tempo como para exigir que o empresário fosse implorar pelo pagamento, a fim de ficar devendo favores".
O colaborador contou que um outro empresário disse na reunião que "já tinha feito doação oficial e que estava com dificuldades, também pelos atrasos de pagamento da prefeitura de Campos".
Segundo Rodrigues, outros empresários que estavam no escritório político de Garotinho também reclamaram. Um deles disse que "Ari", de uma construtora, "mandou oferecer 500 mil reais para ajudar".
"Garotinho falou que era 'para mandar Ari enfiar os 500 mil no c..., que eu não quero essa p... desse dinheiro dele, porque ele está lá fazendo campanha para Pezão, gastando os tubos, gerando prejuízo pra mim'", afirmou o delator.
"Dali mesmo, Garotinho autorizava os pagamentos", afirmou André Rodrigues. "Era comum, entre os servidores municipais, dizer que nada era pago sem ordem do chefe Garotinho. Suledíl, da Secretaria de Controle, sempre falava que todo mundo sabia quem deveria ordenar qualquer pagamento, referindo-se a Anthony Garotinho. Era comum receber ligações de gestores municipais e do próprio Garotinho para resolver problemas da Prefeitura, como conserto de ar condicionado para médicos em Farol de São Tomé, problemas em hospital, etc."
O colaborador relatou às promotoras eleitorais que "quem se opunha a obedecer as ordens de Garotinho e seu grupo sofria retaliação, principalmente, com o atraso de pagamento de faturas".
Sua empresa, entre os anos de 2012, 2013 e 2014, acumulou créditos com a Prefeitura de Campos, por serviços prestados e não recebidos, por isso "estranhou o fato de (Garotinho) ter pedido 5 milhões".
Defesa
Em nota divulgada na quarta-feira, 22, quando foi deflagrada a operação Caixa DÁgua, a assessoria do político disse que "querem calar o Garotinho mais uma vez" e que o ex-governador atribui a operação "a mais um capítulo da perseguição que vem sofrendo" por ter denunciado um esquema envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e irregularidades supostamente praticadas pelo desembargador Luiz Zveiter. Garotinho se diz inocente, assim como os demais acusados na operação.
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