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Bolsonaro suaviza discurso militar e exalta democracia

Foto: reprodução/Bolsonaro
Imagem: Foto: reprodução/Bolsonaro

Gilberto Amendola

São Paulo

26/11/2017 11h17

Com as pesquisas eleitorais que mostram o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) possivelmente figurando em um eventual segundo turno, começa a sair de cena, discretamente, o homem que afirmou um dia ser a "ditadura militar uma época maravilhosa" e que já se declarou "favorável à tortura". Agora, para ampliar o seu eleitorado, Bolsonaro tenta se aproximar do centro, enviando sinais de que "sempre foi um defensor da Constituição e da democracia".

A avaliação de que ele precisaria ser mais palatável para um maior número de eleitores nasceu de dentro do seu staff. A convicção é de que o pré-candidato terá dificuldade em manter os bons índices de intenção de voto quando a "eleição começar pra valer" se não suavizar o discurso para sair do gueto radical de quem ainda prega intervenção militar ou golpe de Estado.

Para o analista político Ibsen Costa Manso, da ICM Consultoria, o "Brasil tem uma pequena margem de eleitores que são de esquerda ou de direita".

"O voto não é ideológico. Não se ganha eleição apenas com esses nichos. Ele é um voto muito mais personalista do que ideológico. Bolsonaro deve ter entendido que precisa de um discurso para ampliar seu eleitorado de classe média, mas sem perder sua personalidade", disse. "Em um eventual segundo turno com Lula, ele vai precisar capitalizar o voto útil de forças mais moderadas", completou.

O movimento é delicado porque o presidenciável não pode perder a narrativa que construiu ao longo de sua carreira de quase 30 anos e oito mandatos (um de vereador e sete de deputado federal) e ainda precisa contar com o "barulho" dos grupos mais radicais que atuam nas redes sociais.

19.abr.2017 - Deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) em cerimônia comemorativa ao dia do Exército - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
19.abr.2017 - Deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) em cerimônia comemorativa ao dia do Exército
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

O ajuste no discurso pode ser lido nos três "comunicados ao povo brasileiro" que o deputado divulgou recentemente por meio de suas redes sociais. No primeiro, do dia 8, lia-se que "evidentemente que nenhum dos membros de nossa equipe defende ideias heterodoxas ou apreço por regimes totalitários".

"Assim, afirmamos que, absolutamente, todas as propostas serão pautadas pelo respeito aos contratos, respeito às leis e pelo TOTAL respeito à Constituição Brasileira", concluía o texto. Os outros dois comunicados, publicados nos dias 13 e 21, repetiam a ideia de "respeito à Constituição".

As cartas estão sendo redigidas por um grupo de economistas e professores que estão dando suporte e emprestando verniz teórico para o candidato.

O grupo foi recrutado por um homem de confiança de Bolsonaro, o advogado e professor de economia política Bernardo Santoro (levado ao posto de secretário-geral do PEN/Patriota pelo próprio Bolsonaro). Ele também já foi presidente do Instituto Liberal e coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica. Outros nomes desse grupo são os professores de Economia e Finanças da Unifesp, os irmãos Arthur e Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub, que são os responsáveis pelo texto final dos comunicados, e o economista e pesquisador do Ipea Adolfo Sachsida.

Além da formulação de projetos, o time do Bolsonaro quer evitar que o carimbo de "ignorante em termos econômicos" cole no presidenciável.

Ministério

Outro resultado da atuação do grupo de professores é o tópico "Ministério militar". Em março, o deputado declarou que, caso eleito, 50% do seu Ministério seria composto por militares. Em entrevistas mais recentes, porém, o deputado disse que haverá militares no seu gabinete, mas sem especificar a quantidade.

A fórmula para não perder o apoio dos radicais está nas palavras do presidente do PEN/Patriota, Adilson Barroso. "Quando as pessoas pedem pela volta da ditadura, o que eles estão dizendo é que querem mais segurança, querem uma postura mais dura contra a bandidagem e o fim da corrupção", afirmou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.