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Jungmann: Há preocupação com migração do crime do Rio para outros Estados

Tânia Monteiro

Brasília

22/02/2018 15h16

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, reconheceu que "há uma preocupação" no governo com a possibilidade de "migração do crime", após a intervenção federal decretada no Rio de Janeiro. Jungmann citou, no entanto, que isso "acontece sempre que as forças de segurança agem com mais rigor" em uma determinada região.

Segundo o ministro, a reunião que está ocorrendo do ministro da Justiça, Torquato Jardim com os secretários de segurança do Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo é fundamental para discutir como barrar o deslocamento das quadrilhas para os demais estados. Mas lembrou que "o crime já e nacional" e, por isso, "é importante a participação dos estados" para coibir o avanço sobre os demais estados.

Raul Jungmann afirmou ainda que o novo Ministério da Segurança Pública, a ser criado pelo presidente Michel Temer, irá facilitar este trabalho de integração de combate ao crime no País, no entrosamento e discussão de ações conjuntas entre os estados.

Na entrevista, Jungmann sinalizou ainda que, na semana que vem, o Comandante Militar do Leste, general Walter Braga Netto, deverá anunciar um plano de operação da intervenção. Não deu, no entanto, nenhum detalhe sobre o planejamento, embora ressalvasse que as Forças Armadas "estão e estarão integralmente empenhadas nessa missão". O ministro explicou que Braga Netto está no Rio, já reunido com seu Estado Maior para detalhamento do trabalho a ser desenvolvido.

Para o ministro, "é um cenário plausível a migração do crime", acrescentando que ela já ocorre hoje, por exemplo, dentro do próprio Rio de Janeiro, ou em Pernambuco, ou Goiás. " E é claro que preocupa", emendou. "Onde você tem uma eficácia maior das forças de segurança, o crime migra e nós temos sim esta preocupação e temos de ter e de cuidar para que ela não se corporifique", prosseguiu o ministro. Ele acrescentou que "o presidente tem urgência" em anunciar a criação do Ministério, mas não sei quando será anunciado. "O ministério vai vir e deverá aglutinar todos os órgãos federais na área de segurança e os fundos que dizem respeito a isso", comentou.

Jungmann afirmou que não há definição sobre recursos que serão repassados para o Rio de Janeiro, por conta da intervenção. Ele citou que, para 2018, para as ações de Garantia da Lei e da Ordem, pela primeira vez, foi incluído no orçamento verba de R$ 100 milhões para ser empregada ao longo do ano. Estes recursos, no entanto, ainda não começaram a ser usados.

Ao ser indagado se seria possível recuperar a estrutura policial do Rio de Janeiro, que estaria sucateada por falta de recursos, o ministro da Defesa rebateu a tese dizendo que "eles têm dinheiro no orçamento".

De acordo com Jungmann, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, encaminhou a sua proposta de resgate fiscal do estado e o que ele se queixa é da demora com que esses recursos têm chegado ao Estado e a Fazenda responde que é por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal e outras normas. "Eu acho que é preciso mais velocidade (na liberação dos recursos). Antes da gente discutir o reforço a mais, porque se for necessário, o presidente Temer tem um compromisso com isso, é preciso fazer com que aconteçam os acordos, que eles sejam cumpridos", defendeu Jungmann. "Mas acho que a força policial, no Rio de Janeiro, ou em qualquer lugar, se estiver sucateada, não atende à necessidade de segurança da população", declarou ele, sem querer admitir se a estrutura do Rio está ou não sucateada.

O ministro da Defesa voltou a criticar o modelo do sistema de segurança pública que existe no País, criado pela Constituição de 88. "Está falido", repetiu o ministro, ao citar a importância da criação do Ministério da Segurança neste novo contexto e ao reiterar que o crime, além de estar internacionalizado, é nacional, e está espalhado por todos os Estados.

Questionado sobre o projeto de liberalização do porte de armas que poderá ser votado no Congresso, Jungmann disse que não conhece o seu teor e se será votado ou não. "Eu sou um defensor do controle de armas. É uma posição histórica de que armas têm de ser muito reguladas até porque acho que, mais armas, não significa mais segurança ou mais paz", declarou.

As declarações de Jungmann foram dadas na saída da reunião do Conselho Militar de Defesa, que contou com a participação do presidente Michel Temer e dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Temer, na saída do encontro, limitou-se a dizer que na reunião foi feita uma "exposição sistêmica de tudo aquilo que as Forças Armadas fazem", mas não falou de Ministério da Segurança ou da intervenção no Rio.