Topo

Após ser pego pela PF, embaixada diz que vice da Guiné visitaria médico no Brasil

Fausto Macedo e Julia Affonso

São Paulo

16/09/2018 12h50Atualizada em 16/09/2018 17h28

O secretário da Embaixada da Guiné Equatorial, Leminio Akuben MBA Mikue, afirmou em depoimento à Polícia Federal que o vice-presidente do país africano, Teodoro Nguema Obiang, chegou ao Brasil para "tratamento médico e posteriormente seguiria para Singapura em missão oficial".

Leminio Akuben MBA Mikue afirmou que os US$ 16 milhões em dinheiro apreendidos em duas malas que estavam com a comitiva do vice de Guiné na sexta-feira (14), no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), estavam relacionados à missão oficial.

"Pelo que sabe, o presidente estava no Brasil para tratamento médico e posteriormente seguiria para Singapura em missão oficial; que o presidente relatou ao declarante que os valores destinavam-se à referida missão oficial; que não tem conhecimento sobre do que se trata tal missão oficial; que, segundo o presidente, os relógios eram itens de uso pessoal dele", afirmou.

4 horas para entregar chave da mala

A aeronave B777-200LR  aterrissou em Campinas com 11 passageiros. Obiang foi recepcionado e, por causa das prerrogativas do cargo, não foi inspecionado, mas sua equipe passou pelo crivo da Receita Federal.

O auditor fiscal da Receita Alessandro Grisi Pessoa afirmou, também em depoimento à Polícia Federal, que a comitiva do vice-presidente levou 4 horas para entregar as chaves de duas malas.

Leminio Akuben MBA Mikue disse à PF que é "atualmente a maior autoridade diplomática" da Guiné Equatorial no Brasil. O secretário declarou que "estava no aeroporto de Viracopos, juntamente com o segundo secretário Bienvenido, para recepcionar a comitiva do vice-presidente".

"Adentraram no aeroporto pelo desembarque internacional e seguiram com o presidente até um outro portão que daria acesso ao helicóptero que o levaria", relatou. "Não presenciou a Receita Federal pedir que as malas fossem passadas pelo raio-X no momento do ingresso no aeroporto, somente percebendo essa questão quando já estavam no portão de embarque."

Segundo o secretário, os fiscais da Receita "exigiam que as malas fossem inspecionadas". Leminio Akuben MBA relatou que o "impasse" sobre a abertura das bagagens do vice da Guiné "persistiu durante todo o dia".

"Em determinado momento, os fiscais ordenaram que as malas fossem abertas, dando um prazo de minutos para que isso fosse feito, ou, então, as malas seriam abertas à força", declarou.

Deveriam ser 'imunes à fiscalização'

Leminio Akuben MBA Mikue contou que disse aos servidores da Receita que "tal determinação deveria vir do Ministério das Relações Exteriores e exigiu que lhe fossem apresentados documentos que dessem respaldo a tal ordem". O secretário queria que fosse aplicada a Convenção de Viena, pela qual "estariam imunes à fiscalização".

"Então, lhe foi entregue pela autoridade aduaneira um ofício do Ministério das Relações Exteriores, o qual sugeria que as malas fossem isentadas de inspeção, onde há também um despacho da Receita Federal consignando que não aplicaria a Convenção de Viena, haja vista que seguia as normas próprias de fiscalização aduaneira", disse.

"Então, foi até o presidente, e disse a ele que as malas deveriam ser abertas ou, então, a Receita as abriria à força, e ele entregou as chaves ao declarante; que as malas foram abertas e, no interior de uma delas, havia uma quantia em dólares americanos, cerca de R$ 1,4 milhão e cerca de R$ 55 mil; que na outra mala, havia vinte e uma unidades de relógios usados."