Na urna, título de educador é valorizado
A maioria do grupo de professores (69%) é homem, o que também contrasta com o retrato do magistério brasileiro, majoritariamente feminino. E há nomes curiosos como Eu sou a Professora Linda, candidata a deputada federal em São Paulo pelo PRP, ou Professor Minhoca (PSDB), que quer uma vaga de deputado estadual e usa o slogan "deixa o minhoca entrar".
"É uma campanha diferenciada, engraçada", explica o empresário Jobert Alexandrino, de 37 anos, que é vereador em Santo André e deu aulas por dois anos numa escola particular. A ideia da brincadeira, completa o Professor Minhoca, é a de "entrar" na Assembleia Legislativa. Alexandrino é formado em educação física e dono de uma consultoria que presta serviços sobre qualidade de vida para empresas.
Os vices dos presidenciáveis João Amoêdo (Novo) e Cabo Daciolo (Patriota) - Christian Lohbauer e Suelene Balduino Nascimento, respectivamente - também se identificam como professores. Professor Christian, de 51 anos, é especialista em relações internacionais e docente convidado da Fundação Dom Cabral. Nos populares vídeos de seu canal no YouTube e nas postagens nas redes sociais, fala pouco de educação e muito de economia, política e agronegócios. Ele foi vice-presidente da farmacêutica Bayer até este ano e declarou ao Tribunal Superior Eleitoral um patrimônio de R$ 4 milhões. A Professora Suelene Balduino, de 56 anos, dá aulas na rede pública do Distrito Federal há 20 anos.
O Brasil tem hoje 2 milhões de professores trabalhando em escolas e 380 mil dando aulas no ensino superior. Para o especialista em ciência política do Mackenzie Rodrigo Prando, pode haver uma tentativa dos candidatos de conseguir o voto desse grupo numeroso, que frequentemente reclama melhores condições de trabalho. O piso salarial do docente de ensino básico público no País é de R$ 2.455 e há muitos Estados que sequer cumprem esse valor. Em recente avaliação internacional, só 2,4% dos jovens de 15 anos declararam querer ser professores no Brasil.
Prando também acredita que o título de docente agrega valor para a maioria da população por causa da memória afetiva. "Vem a lembrança de seus próprios professores e de uma categoria que se dedica a ensinar e a cuidar."
A situação da educação brasileira - em que boa parte dos alunos está em níveis insuficientes de aprendizagem - também pode atrair votos para um candidato que pareça preocupado com a área. "O pai e a mãe imaginam que ele poderá lutar por melhorias da escola do seu filho", diz a professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Dirce Zan. "Mas usar o adjetivo de professor não legitima o candidato necessariamente como compromissado com a educação. Alguns podem estar usando o nome para angariar votos."
São Paulo
Os professores representam 4,5% de todos os concorrentes para todos os cargos nas eleições deste ano. A maioria disputa vagas de deputados estaduais e federais. O Estado de São Paulo é o que tem a maior índice de representantes do grupo (14,5%) e, inclusive, com uma candidata a governadora, a educadora Lisete Arelaro (PSOL). Ela usou pela primeira vez o "professora" na frente do nome nessas eleições porque acha seu sobrenome difícil de pronunciar.
"Apesar da profissão não ser reconhecida, nos dá muito prazer e orgulho. Estou contando com um voto a mais, do eleitor que esteja em dúvida e pense: vou votar naquela professora", brinca. A ex-diretora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) tem 2% das intenções de voto na mais recente pesquisa Ibope.
Entre os partidos que mais têm candidatos identificados como professores estão o PSOL, o PT, o PCdoB e a Rede. "Quando falo que sou professora, o olhar do eleitor é outro, diferente do que ele dá para um pastor, um advogado. É um olhar de dó, mas também de confiabilidade", conta a candidata a deputada federal pela Rede Jacqueline Moreira dos Santos de Almeida, de 46 anos, a Professora Jacqueline. Ela dá aulas de matemática na rede pública há 22 anos. Caso seja eleita, diz que vai tentar acabar com a "aprovação automática", política que permite reprovação apenas em algumas séries e é defendida por muitos educadores para não desestimular a criança. "Eu sei realmente o que acontece dentro da escola e por quê não dá certo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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