Contato com pessoa contaminada é mais perigoso que ingerir alimentos
"No meio tempo em que você está engolindo a comida, o vírus teria que conseguir entrar em uma célula da garganta para te infectar. Teoricamente, isso é possível se houver uma carga viral muito grande, mas é improvável. Além disso, o ácido do estômago neutraliza o vírus", explicou o infectologista Max Igor Lopes, do Centro de Infectologia do Hospital Sírio Libanês. "O reservatório principal do vírus é a pessoa infectada. A infecção direta (ao ter contato com gotículas respiratórias de pessoas contaminadas) é mais perigosa que a indireta (por meio de objetos e alimentos)."
Coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 no Estado de São Paulo, o médico nefrologista José Medina também destacou que é o corpo humano que garante a multiplicação do coronavírus. "Para o vírus sobreviver, precisa da engenharia de dentro da célula humana. O vírus se multiplica ali, não dentro da célula de qualquer outro animal", disse.
Na mesma linha, está o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) que afirma que, ao contrário de bactérias, que podem se desenvolver em alimentos, o coronavírus precisa de um hospedeiro vivo para se multiplicar.
Fora do organismo, a covid-19 é relativamente frágil, pois medidas de higiene básica, como lavar as mãos com sabão ou álcool, são eficientes para inativar o vírus. O infectologista consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia Marcelo Otsuka lembra que, por se tratar de um alimento industrializado, é difícil que o frango exportado estivesse contaminado. "A questão da presença do vírus é muito questionável, porque seria preciso que ele se mantivesse viável por 40 dias, considerando o período em que saiu do Brasil até chegar na China. O mais provável é que a presença do vírus tenha se dado pela manipulação do produto lá."
O que a China avalia não é a presença do vírus, explicou Lopes, mas sim o material genético do vírus. "Há uma diferença aí. É um rastro, significa que o vírus esteve lá. Pode inclusive ser o material genético de um vírus morto. Mesmo que estivesse vivo, não sei se haveria uma quantidade suficiente para causar uma infecção", disse.
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