Militares mataram 35 crianças em Myanmar, denuncia Unicef
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) publicou um relatório neste domingo (28) denunciando que ao menos 35 crianças e adolescentes foram mortos pela junta militar que deu um golpe de Estado em Myanmar em 1º de fevereiro.
"Em menos de dois meses, ao menos 35 crianças foram mortas, incontáveis foram seriamente feridas e cerca de mil crianças e jovens foram presos arbitrariamente por forças de segurança por todo o país. Milhões de crianças e jovens foram direta e indiretamente expostos a cenas de violência traumatizantes, ameaçando a saúde mental e seu bem-estar emocional", diz a diretora-executiva do Unicef, Henrietta Fore.
A representante das Nações Unidas (ONU) fez coro às falas de António Guterres de que aqueles que cometem "essas ações, que indubitavelmente constituem um violações flagrantes dos direitos das crianças, devem ser responsabilizados".
O relatório ainda cita os impactos indiretos para os menores de idade: cerca de um milhão ficaram sem acesso às vacinas básicas, cerca de cinco milhões não estão recebendo a suplementação de vitamina A, quase 12 milhões devem perder o ano escolar, e mais de 40 mil estão sem tratamento para desnutrição aguda grave.
"Essa perda de acesso a serviços essenciais, combinada com a contração econômica que levará muitos mais para a pobreza, coloca uma geração inteira de crianças e jovens em perigo. [...] Forças de segurança devem parar imediatamente de perpetrar abusos contra os direitos das crianças e garantir a segurança delas", acrescentou Fore.
Os números certos de quantos morreram nos protestos contra o golpe militar é bastante incerto, já que a imprensa do país e os jornalistas internacionais estão sendo censurados com frequência.
Uma estimativa publicada nesta segunda-feira (29) pela Associação para Assistência dos Prisioneiros Políticos, uma ONG tailandesa que monitora a situação em Myanmar, aponta que ao menos 459 pessoas já foram mortas pelas forças de segurança - sendo 150 só considerando o fim de semana.
Os manifestantes vão às ruas diariamente para pedir a retomada da democracia no país e para a libertação dos presos políticos, principalmente, a líder "de facto", Aung San Suu Kyi, e o presidente do país, Win Myint.
Os dois foram detidos já no dia 1º de fevereiro, quando os militares tomaram o poder no dia da posse do novo Parlamento, eleito em 8 de dezembro. As Forças Armadas alegaram que houve "fraude eleitoral" na vitória avassaladora do partido de Suu Kyi, o Liga Nacional para a Democracia (NLD), que obteve mais de 70% dos votos.
No entanto, nenhum dos dois líderes foi acusado de qualquer tipo de crime eleitoral desde então, apenas de outras acusações em nada relacionadas ao pleito.
Reações internacionais - Novas reações internacionais ocorreram entre este domingo (28) e segunda-feira, após o final de semana mais sangrento desde o início dos protestos.
O Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião de emergência para a quarta-feira (31) para debater a situação em Myanmar.
Segundo fontes, o encontro foi solicitado pelo Reino Unido e haverá uma apresentação sobre a situação atual do país feita pela enviada especial, Christine Schraner Burgener.
Já os Estados Unidos anunciaram que vão suspender os acordos comerciais que têm com a nação, em mais uma medida punitiva contra os militares.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, voltou a se manifestar sobre os ataques dos militares contra os civis e disse que "as atrocidades devem terminar imediatamente".
"A UE está trabalhando com os seus parceiros para por fim a essa violência contra a população de Myanmar, iniciar um processo político adequado e soltar todas os presos", acrescentou. Na última semana, o bloco europeu também aplicou uma série de sanções contra os membros da junta militar e de empresas ligadas a ela.
Nesse sentido, também se manifestou o alto representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, afirmou que o "aumento da violência é inaceitável" e que o sábado, quando 114 pessoas foram mortas, foi "um dia de horror e vergonha".
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