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Extrema-direita da Itália debate liderança de Salvini

19/10/2021 10h06

ROMA, 19 OUT (ANSA) - O que havia sido um alerta no primeiro turno das eleições da Itália no início de outubro, confirmou-se como derrota após a realização da disputa final em 65 cidades italianas: a extrema-direita vive um momento de crise após a enorme expansão política a partir de 2018.   

Se, no quadro geral, os partidos do que é chamado de "grupo de centro-direita" pelos jornais italianos têm cerca de 50% de votos no âmbito nacional, nas grandes cidades a situação é outra. Assim como ocorreu em outras nações, a Itália também começa a ver a questão da diferença de visão política entre os centros urbanos e as regiões mais interioranas.   

Após os resultados do segundo turno, a centro-esquerda voltou a reequilibrar as forças nas capitais de província: são 12 nas mãos do Partido Democrático (PD) e oito nas da coalizão Liga, Irmãos da Itália (FdI) e Força Itália (FI).   

Porém, as cinco maiores cidades do território - Roma, Turim, Milão, Bolonha e Nápoles - são governadas pelo PD - bem como oito das 12 cidades com mais de 250 mil habitantes e 17 das 25 cidades com mais de 125 mil habitantes.   

Após os maus resultados, o principal líder conservador italiano, Matteo Salvini, teve um discurso confuso. Primeiro disse que, se olhar no quadro geral, a direita tem algumas cidades a mais sob seu comando. Depois, afirmou que os "eleitores sempre têm razão" e parabenizou os vencedores.   

Salvini vem perdendo muito espaço entre a direita mais radical desde que começou a fazer parte dos governos italianos. O ápice foi assumir o papel de ministro do Interior durante o primeiro governo de Giuseppe Conte em 2018, mas, desde então, ele foi perdendo força entre a extrema-direita por "fazer parte do sistema".   

A queda foi ainda mais acentuada a partir do início desse ano, quando Salvini se uniu novamente com o populista Movimento 5 Estrelas (M5S), o próprio PD, o centrista Itália Viva (do desafeto Matteo Renzi) e o Força Itália para fazer a base de apoio ao governo de Mario Draghi.   

Ao ver a queda que as projeções indicavam, Salvini chegou a fazer movimentos de "oposição" dentro do próprio governo, que irritaram toda a base aliada.   

Mas, ao mesmo tempo que o presidente da Liga foi perdendo força, sua "aliada e rival", Giorgia Meloni, líder do Irmãos da Itália, começou a voar nas pesquisas e hoje coloca sua sigla - que está ainda mais à direita do que a Liga - entre as principais forças políticas italianas.   

Cada dia mais, a ultraconservadora consegue avançar no campo da extrema-direita e agrega tanto os descontentes com o governo como aqueles que abandonaram Salvini porque, de fato, é a única na coalizão que está na real oposição a Draghi.   

Com essa mudança nas forças entre a coalizão, que vê cada vez mais o partido de Silvio Berlusconi como um "acessório", começam a aparecer pedidos para que haja mudanças na liderança no grupo "centro-direita".   

O assunto foi discutido em um telefonema na noite desta segunda-feira (18) entre Salvini e Meloni. Em nota, foi informado que "os dois líderes irão se reunir nesta semana junto a Berlusconi". Pouco antes, a presidente do FdI afirmou que o encontro será para programar "o tempo de revanche da direita".   

Em coletiva de imprensa, Meloni afirmou que "não há um dérbi" entre Liga e FdI, que isso é uma '"invenção da mídia", mas reconheceu que "há posições diferentes dentro da centro-direita e que é inevitável que haja uma discussão sobre assuntos importantes".   

"Eu e Salvini nos escrevemos muito pela manhã para comentar essa coisa surreal. Já disse que a diversidade cria problemas complexos de identidade da coalizão e precisamos trabalhar sobre isso com um projeto", acrescentou.   

Apesar de negar que haja grandes desavenças, a ultranacionalista deixou escapar que há um problema maior e que foi apontado antes mesmo do primeiro turno: a falta de unidade na escolha do discurso e dos projetos. Muito da derrota eleitoral nos municípios também foi provocado porque as indicações do bloco não eram apoiadas por todos.   

"Permanece um tema que nos penaliza: os três partidos têm três posições diferentes. É evidente, sobretudo em um momento que um pedaço da centro-direita governa com a centro-esquerda. É normal que isso torne difícil criar uma alternativa clara e pode criar desorientação no eleitorado da centro-direita, sobretudo, no segundo turno", acrescentou com uma "alfinetada" para Salvini.   

Meloni não usou meias palavras e afirmou que a coalizão que participa "foi derrotada" no pleito dos últimos dias, mas que isso não significa que a união está fadada ao fracasso, até porque houve uma grande abstenção na quantidade de eleitores - menos de 50% no segundo turno foram votar.   

Metas ambiciosas - O discurso sobre a busca de uma nova liderança e de readequação da coalizão deve impulsionar a meta mais ambiciosa de Meloni.   

A presidente do FdI quer forçar novas eleições em 2022, cerca de um ano antes do previsto, para conseguir chegar ao governo.   

Apesar de desmentido pelo FI, o plano conforme aliados é fazer com que Draghi seja escolhido o próximo presidente da Itália, já que Sergio Mattarella confirmou que deixará o cargo no início do ano que vem, quando encerra seu mandato, por conta da idade.   

Assim, o país acabaria tendo que ir às urnas e, como seu partido está na coalizão que se apresenta na frente até o momento, ela teria grandes chances de ser a próxima premiê. (ANSA).   

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